Crónicas do Brasil | 28-06-2025 00:38

Os oportunistas

Vinicius Todeschini

Os neocolonialistas, disfarçados de empresários, dizem que a solução para a desigualdade é o empreendedorismo e para isso são necessários sacrifícios, ou seja: várias gerações condenadas pela falta de condições mínimas para a sobrevivência, mas uma minoria -dentro desta franja- que dispõe de um pequeno patrimônio se aventurará no dito empreendedorismo, onde mais de 90% fracassam. Sacrificar carne humana, desde que não seja a sua ou dos seus entes queridos, sempre foi uma marca desta ideologia, que prega abertamente o enriquecimento de poucos e o sacrifício de muitos.

O Brasil não é um país conservador, como afirmam os reacionários de plantão, mas um país conservado em estado de ignorância pelas elites endinheiradas e neocolonialistas, que assim mantém o controle de uma grande parte da população, desenvolvendo, através de muitas gerações, um lumpesinato permanente sob seu controle, o que lhes garante eleger políticos a seu serviço e contra este mesmo povo que os elege. O professor Jessé Souza taxa de imbecil quem age contra os seus próprios interesses e não está errado, porque realmente é paradoxal, principalmente em um país cuja maior marca é a desigualdade social. Os neocolonialistas, disfarçados de empresários, dizem que a solução para a desigualdade é o empreendedorismo e para isso são necessários sacrifícios, ou seja: várias gerações condenadas pela falta de condições mínimas para a sobrevivência, mas uma minoria -dentro desta franja- que dispõe de um pequeno patrimônio se aventurará no dito empreendedorismo, onde mais de 90% fracassam. Sacrificar carne humana, desde que não seja a sua ou dos seus entes queridos, sempre foi uma marca desta ideologia, que prega abertamente o enriquecimento de poucos e o sacrifício de muitos, como se viu agora no Congreso do Atraso, que votou contra a taxação dos mais ricos e aumentou de 513 para 531 o número de deputados. Cada deputado custa US$ 5 milhões, ou 528 vezes a renda média de um cidadão brasileiro.

O professor Barry Ames, no livro “The Deadlock of Democracy in Brazil” (O impasse da democracia no Brasil), afirma que o sistema político brasileiro não beneficia as elites, mas si a si próprio, o que é meia-verdade, porque esses congressistas, além de serem das elites, também as representam e de forma eficiente. São os oportunistas, sempre surfando na maior onda, que agora é a da Extrema-Direita, onde não há nenhum limite ético e as pessoas estão focadas unicamente em seus negócios e lucros. Onde se escreve, “deus, pátria, família”, se deve ler “money, eu e família”. Um exemplo é o atual prefeito de Porto Alegre, que na sua trajetória política surfou pela Esquerda, pela Direita, mas fechou mesmo com a Extrema-Direita. Financiado pelos empresários da Construção Civil, Sebastião Melo é o exemplo de um ditador mal-acabado, ou em fase de acabamento, como queiram. Além de sucatear o sistema de proteção contra as cheias, que o seu antecessor, Nelson Marchezan Jr, já tinha iniciado, parceirizou o Sistema de Saúde, nomeando um número mínimo de aprovados em Concursos Públicos, para favorecer as empresas que exploram a saúde humana. O seu projeto mais ambicioso, no entanto, é deixar a cidade alagar para que as construtoras comprem casinhas e terrenos a preço de banana e construam mais prédios, como é o caso dos bairros Humaitá e Vila dos Farrapos, em torno da Arena do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, já tem um outro perfil de oportunista, bem diferente de Melo. Ele criou uma imagem de “garoto prodígio” para atacar as velhas lideranças do estado, as taxando de anacrônicas. Na época disputou com João Dória, governador de São Paulo, a candidatura à presidência e foi a um programa de televisão onde assumiu a sua orientação sexual, se declarou gay e um gay feliz, segundo ele, até então aquilo se mantinha em surdina. Em sua missão de “modernizar o Estado”, Eduardo Leite, continuou o processo de sucateamento da CEEE e da CORSAN para em seguida entregá-las à Iniciativa Privada. Os serviços pioraram e o preço aumentou. Em 2019 conseguiu desmontar o Código Ambiental, revogando ou alterando mais de 550 normas e tornou possível que um empresário libere um projeto com uma simples declaração que não causará dano ambiental. Em outras palavras, as raposas assumiram a administração da granja. Leite é incansável em sua sanha para chegar à presidência e para isso mudou de partido, foi para o PSD, partido capitaneado pelo ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e disputará a vaga à presidência com Ratinho Jr, governador do Paraná, filho do apresentador, Ratinho, um dos maiores promotores da cultura de baixo nível e associado ao agronegócio, que financia o sertanejo, que eu batizei de ‘agropop’, a música atual do país, rebaixando o Brasil ao seu pior nível musical.

Os oportunistas estão em toda parte, eles são rápidos e sagazes, mas nada tem a oferecer, a não ser promessas vazias porque só atendem aos seus próprios interesses. Estão em todos os setores, não só na política, se você atentar para cada setor você verá que existem os inovadores, que são poucos e quase nunca lucram com o que criaram e os oportunistas, que se aproveitam de cada filão descoberto para enriquecer. A bossa-nova dos anos 60 no Brasil é um exemplo disso, hoje sobraram somente as pérolas da produção daquela época, pelo processo natural de decantação que o tempo cria, entretanto, se você ouvir a produção total, no auge do movimento, a maioria das músicas estão muito abaixo desse nível, são meras cópias de oportunistas de plantão que dominaram as ferramentas básicas do estilo e fizeram daquela arte o que todos oportunistas fazem com qualquer forma de arte, as transformam em artesanato, massificando-as para vender mais e assim exaurindo completamente as suas fontes e limitando as suas cores, até que não sobre mais nada de original.

Vinicius Todeschini 27-06-2025

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