Crónicas do Brasil | 18-07-2025 09:00

O dono, o capataz e a boiada

Vinicius Todeschini

Trump e Bolsonaro representam a dura face da maldade humana, aquela destituída de qualquer empatia, que naturaliza a crueldade e justifica a barbárie. Forem eleitos, mas querem destruir a democracia, porque querem o regime dos poderosos sobre todos.

O dono nunca se ocupou da boiada, sempre delegou esta função ao capataz e este, por sua vez, sempre fez o seu papel de forma criteriosa, atendendo a todos os requisitos que lhe foram demandados pelo patrão e seu dono. Percebendo, dentro da boiada, aqueles que tinham a crueldade necessária para seguir os seus ditames, os capatazes se tornaram exímios selecionadores de tipos impiedosos, que saberiam tratar a boiada como ela deveria ser tratada, segundo eles. Conduzindo rebanhos por longas distâncias, pelo tempo afora, os boiadeiros se aperfeiçoaram como pessoas capazes de marcar com o ferro em brasa os bois, a matar e depois, ao redor do fogo, entoar melodias enquanto devoravam a carne assada.

O mundo desenvolveu uma taxonomia sofisticada para classificar e hierarquizar os tipos e as funções destinadas a cada qual, por isso não se pode crer que haja algum equívoco por parte dos donos das taxonomias, porque são eles que as autenticam, ou seja, revalidam a cada dia o que está posto há milênios. As mudanças sociais nunca premiaram a boiada, não se tem nenhum registro de vitórias definitivas dos bois sobre os boiadeiros que pudessem, sequer, levantar alguma sombra de ameaça aos donos, aos patrões, aos que mandam, enfim, neste mundo destituído de senso de justiça e de indignidade pela miséria absoluta de tantos seres da mesma espécie. Uma espécie que cuida dos seus cães e gatos como filhos, mas é incapaz de se revoltar contra a situação social dos moradores de rua. Por isso tudo não há nenhuma surpresa nos fatos que os noticiários alardeiam diariamente, eles são simplesmente reflexos atualizados do que sempre existiu, reproduzem o mundo em que vivemos e que segue ladeira abaixo.

Os EUA foram fundados por senhor brancos escravagistas e por isso políticas segregacionistas foram aceitas e apoiadas pela sociedade branca, dona do poder econômico. Foram séculos de muita luta e sacrifício para garantir direitos e tornar a condição humana de todos, digna e respeitada, mas agora os EUA elegeram um ser abominável e, inconscientemente, escolheram alguém para resgatar a velha estrutura social que permaneceu oculta, porém latente, mas agora manifesta novamente. As muitas camadas de Poder que sustentam o errático império norte-americano sempre mantiveram as velhas estruturas da supremacia branca, que os pais fundadores trataram de manter através das ambiguidades da Constituição outorgada ao país. A segunda emenda que foi ratificada em 1791 afirma: "Sendo necessária uma milícia bem ordenada para a segurança de um Estado livre, o direito do povo a possuir e portar armas não poderá ser violado". A defesa das liberdade nos EUA é confusa e deliberadamente favorável à violência desmedida, porque autoriza o uso de armas. Não bastam os inúmeros e recorrentes casos de ataques de psicopatas contra pessoas inocentes em espaços públicos para mudar leis esdrúxulas e necrófilas, sustentadas pelos fabricantes de armas e financiadores de políticos fantoches.

Todos os ditadores sempre foram ridículos, com trejeitos e poses rocambolescas, linguajar peculiar e maneirismos dignos de comédia pastelão, mas mesmo assim conquistaram a popularidade necessária para chegar ao Poder. Mussolini e Hitler são exemplos clássicos, mas aqui no Brasil tivemos Bolsonaro cometendo atrocidades e tentando firmar carreira como ditador, mas o grande exemplo atual é Donald Trump, este sim se coloca em um nível muito maior e mais assustador, pelo menos para aqueles que ainda sonham com um mundo melhor. Trump, indagado por uma jornalista sobre os seus critérios para escolher tarifas, respondeu algo que nenhum sábio poderia deduzir, mas como os resultados de suas ações trazem prejuízos a todos, a sua estupidez não produz nenhuma graça e quando nos perguntamos como o elegeram, também podemos nos perguntar: como os pobres se identificaram com Bolsonaro aqui no Brasil, um cara que sempre defendeu os ricos, os torturadores e a exploração dos empresários sobre os trabalhadores? E que ao chegar ao Poder não decepcionou os que sempre representou, promovendo uma Reforma da Previdência que ceifou direitos duramente conquistados e que deixou pessoas morrerem por falta de vacina durante a epidemia. Agora Trump ataca o Brasil para defender Bolsonaro, ele que promoveu um ataque ao Capitólio e à democracia norte-americana, mas não foi punido, não suporta o fato que no Brasil, candidatos a ditadores, sejam investigados, julgados e, justamente, punidos.

Trump e Bolsonaro representam a dura face da maldade humana, aquela destituída de qualquer empatia, que naturaliza a crueldade e justifica a barbárie. Forem eleitos, mas querem destruir a democracia, porque querem o regime dos poderosos sobre todos. Desejam mais que dominar, querem classificar pessoas, criando taxonomias que sirvam para julgar e punir ao seu arbítrio e assim criar na Terra o Império do Terror, onde só os seus apaniguados ocuparão cargos de confiança e como bons capatazes e, “dignos” representantes dos seus donos, serão responsáveis por espalhar o terror em todos os rincões do planeta. Eles se esquecem, porém, que a impermanência das coisas não permite aos humanos, seres frágeis e limitados, um longo alcance em suas ações e assim, logo ali adiante, os seus planos também perecerão, mas a sua história trará sempre à tona a mancha indelével que deixaram no mundo, o seu legado.

Vinicius Todeschini 16-07-2025

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