A corrupção e impunidade dos poderosos no Brasil
A classe empresarial brasileira tenta convencer a população que só o empreendedorismo pode fazer o país crescer, mas 90% desses empreendedores acabam indo à falência por investimentos malfeitos e pelo altíssimo nível de concorrência. Problemas estruturais não têm soluções simples e os problemas brasileiros possuem características específicas, o maior deles, sem dúvida alguma, é o comportamento neocolonialista das elites brasileiras.
Em São Paulo, a corrupção entre o setor público e o privado funciona como uma máquina perfeitamente azeitada e sempre pronta para o uso. A cada novo governo que se sucede isso não muda, a bem da verdade, o último governante fora do espectro da Direita e da Extrema-Direita que governou o estado foi Mário Covas, um pouco mais à Esquerda, ma non troppo. A prisão de ricos, como a dono da Ultrafarma, Sidney Oliveira, uma das maiores redes de farmácias do Brasil e líder em vendas online de remédios, suplementos e vitaminas no país, que só em 2024 investiu cerca de R$ 250 milhões em propaganda, causou preocupação entre os apresentadores(as) de programas de variedades popularescos, corresponsáveis por manter a alienação popular sobre os reais problemas do Brasil. A Rede TV e o SBT (pertencente ao grupo Sílvio Santos, um ex-camelô que se tornou milionário através de programas de auditórios feitos ao vivo, primeiramente na Rede Globo, até conseguir a concessão da União para ter o seu próprio canal) são as produtoras desse tipo de conteúdo, quase sempre abaixo da linha da mediocridade, que mais recebiam dinheiro da Ultrafarma em publicidade. Sidney foi preso junto com o diretor estatutário do grupo Fast Shop, Mário Otávio Gomes, mas outras empresas também são suspeitas de participar do mesmo esquema, a Kalunga e a Oxxo também estão na mira dos investigadores.
O esquema foi descoberto porque o crescimento da empresa, Smart Tax Consultoria e Auditoria Tributária Limitada, de Arthur Gomes da Silva Neto - supervisor da diretoria de fiscalização da Secretaria da Fazenda do estado de São Paulo - mas registrada em nome da sua mãe, Kimio Mizukami da Silva (professora aposentada, 73 anos, que não presta nenhum serviço à empresa), aumentou o seu patrimônio de, R$ 422 mil (2021) para R$ 2 bilhões (2023), isso chamou a atenção dos investigadores do Ministério Público de São Paulo (MPSP). Ele era responsável por autorizar créditos tributários para as empresas e recebia R$ 25 mil por mês em sua função pública. O crescimento descabido do seu patrimônio gerou uma investigação que descobriu como funcionava o esquema: ele cobrava uma comissão de 40% das empresas pelo serviço completo, ou seja; além de preparar toda a documentação, fazia a solicitação de crédito de ICMS. Com o seu status privilegiado de auditor, dentro da Receita Estadual, colocava a empresa na posição de ser atendida imediatamente e rapidamente aprovava a solicitação que ele mesmo criou. Através desse esquema os empresários economizavam bilhões de reais que deveriam ir para os cofres públicos em troca da propina paga a Arthur. Foram encontrados pelos investigadores mais de 200 mensagens entre Mário, da Fast Shop, e Arthur, todas relativas ao esquema fraudulento.
A grande desculpa para esses esquemas criminosos é que a grande quantidade de impostos cobrados pela União, segundo os empresários, é usada para manter uma máquina pública cara e ineficiente, no entanto, são os próprios empresários que criam essas parcerias criminosas com funcionários para corromper o sistema e enriquecer ilicitamente. A Extrema-Direita se apropriou desse discurso para desvalorizar a função pública e assim privatizar os serviços, entregando a Iniciativa Privada funções que pertencem, fundamentalmente, ao Setor Público. São inúmeros os exemplos no mundo de como isso termina, acaba o Estado tendo que retomar o que foi privatizado, pagando valores muito maiores do que os recebidos pelas privatizações. De acordo com um mapeamento feito por onze organizações, majoritariamente europeias, da virada do milênio até agora, 267 casos de "remunicipalização", ou reestatização de sistemas de água e esgoto foram registrados. No Brasil está acontecendo o movimento contrário, aqui em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo praticamente loteou a cidade e está entregando tudo à Iniciativa Privada, que ele, eufemisticamente, batizou de “parceirizações”. Ineficiência, aumento de tarifas, perda de qualidade dos serviços e a não nomeação de concursados é o que acontece no primeiro momento, mas em seguida surgem os casos de corrupção, como o da Secretaria de Educação, mas existem fortes suspeitas de outros que, infelizmente, serão confirmados.
A classe empresarial brasileira tenta convencer a população que só o empreendedorismo pode fazer o país crescer, mas 90% desses empreendedores acabam indo à falência por investimentos malfeitos e pelo altíssimo nível de concorrência. Problemas estruturais não têm soluções simples e os problemas brasileiros possuem características específicas, o maior deles, sem dúvida alguma, é o comportamento neocolonialista das elites brasileiras, a quem o professor Jessé Souza, brilhantemente, chamou de ‘elite do atraso’. Testas-de ferro dessas elites, como o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, um populista que visita as vilas e bairros mais pobres e entra nas casas para tomar café e que, entre abraços e apertos de mãos, cria a falsa ideia ao povo de que ele é um igual, quando na verdade está é resolvendo o seu problema, ainda funcionam como forma de enganação. Mais tarde, quando tudo vem à tona é sempre a mesma história e a mesma choradeira: _ “como nós não percebemos isso”, entretanto, é a mesma e velha história de sempre, pois quem aprende e esquece está destinado a repetir os mesmos erros.
Vinicius Todeschini 27-08-2025