Crónicas do Brasil | 11-09-2025 09:08

O julgamento - IIª parte

Vinicius Todeschini

O destemor de Alexandre de Moraes, mesmo sendo acossado pelo império norte-americano de forma agressiva, demonstra que o Brasil em sua maioria acredita na democracia e não está disposto a baixar a cabeça diante do imperialismo revivido em toda a sua agressividade e virulência por Donald Trump. O mundo não esperava por um governante com tamanha disposição e capacidade para produzir crises como a do atual mandatário dos EUA. Crises que ameaçam desestabilizar o mundo definitivamente.

De forma pausada e com um ritmo marcado pelo escandir claro de cada sílaba, o ministro Alexandre de Moraes foi desfiando, palavra por palavra, a tentativa de golpe de Estado liderada por Jair Messias Bolsonaro. O ministro falou para uma plateia muito maior do que aquela que, tradicionalmente, acompanha os julgamentos importantes do STF (Superior Tribunal Federal), por isso mesmo foi claro, quase didático, em sua explanação e conseguiu atingir seu objetivo, que era de mostrar que o importante para se avaliar e julgar o que aconteceu é o conjunto da obra. Não foi um trabalho de amadores, como muitos quiseram caracterizar, mas uma obra muito bem montada que incluía a desinformação como uma das suas armas principais, desde a sua criação até a sua distribuição em escala industrial, feita pelos robôs digitais. O destemor de Alexandre de Moraes, mesmo sendo acossado pelo império norte-americano de forma agressiva, demonstra que o Brasil em sua maioria acredita na democracia e não está disposto a baixar a cabeça diante do imperialismo revivido em toda a sua agressividade e virulência por Donald Trump. O mundo não esperava por um governante com tamanha disposição e capacidade para produzir crises como a do atual mandatário dos EUA. Crises que ameaçam desestabilizar o mundo definitivamente.

Logo após o pronunciamento de Moraes, a secretária de imprensa e porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que “o presidente Trump não teme usar o poder econômico e militar para proteger a liberdade de expressão”. Uma declaração que coloca mais água na fervura e a democracia brasileira sob ameaça direta do país que, há pouco tempo atrás, se orgulhava de ser a maior democracia do mundo. Donald Trump defende interesses de um pequeno grupo de bilionários, mas precisa de uma base popular e para isso transformou o seu governo em um reality show, portanto a cada semana precisa inventar uma nova crise para manter essa base alienada das suas reais intenções. Isso está acontecendo dentro do próprio território norte-americano, com intervenções em cidades governadas por democratas, o que aumenta, a cada dia, mais resistência aos seus desmandos. Trump simplesmente não suporta críticas às suas políticas esdrúxulas, sem nenhuma base técnica ou científica, ele quer decretar o que é certo ou errado baseado, tão somente, em “seu bom senso”, palavras suas para responder aos jornalistas que o indagam sobre provas a respeito das suas conclusões. A ameaça militar à Venezuela, país vizinho do Brasil, demonstra que Trump pode estar colocando o seu país em uma aventura, cujas lições já deveria ter aprendido, porque a derrota no Vietnam comprovou que, promover uma guerra injusta contra um país mais fraco militarmente, como Nixon fez, pode se transformar em um fiasco e uma tragédia, ao mesmo tempo.

O ministro Flávio Dino votou com o relator, mas usando o termo “desimportância relativa”, terminou por minimizar a participação de três personagens muito importantes da tentativa de golpe, ou seja: o general Augusto Heleno, o general Paulo Sérgio Nogueira e o delegado federal Alexandre Ramagem. O ministro também declarou a intenção de impor, na dosimetria da pena, penas mais duras para Bolsonaro e Braga Neto. O que ficou um pouco vago foi o porquê ele considera os níveis de envolvimento diferentes, principalmente dessas figuras que têm atenuadas a sua participação pelo ministro. O general Heleno, por exemplo, se mostrou durante o governo e a organização da tentativa de golpe uma das figuras mais agressivas em relação à possibilidade da vitória de Lula e chegou a afirmar: “bandido não sobe a rampa”. Naquela famigerada reunião de 05/07/2022, o general recebeu um pedido direto de Bolsonaro para não continuar falando sobre determinado tema, que deveria ser tratado privativamente depois. “General, peço para que não fale, não prossiga na sua observação. Se a gente começa a falar para não vazar, vai vazar”. É famosa também a sua frase: “Se tiver que virar a mesa é antes da eleição”. Como se entender qualquer “desimportância relativa” na participação do general, como colocou o ministro?

O voto dissonante do ministro Luiz Fux -um lavajatista ressentido pelo desmantelamento da organização criminosa, Lava-Jato, lideradas pelo ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol que -através de uma trama ardilosa, com a omissão de parte do STF e apoio de outra, prendeu inocentes, quebrou empresas e levou o presidente Lula, injustamente, para a cadeia por 580 dias para retirá-lo das eleições de 2022- era previsível. Desde o início ficou nítido que Fux se oporia radicalmente ao ministro relator Alexandre de Moraes e ao relatório da PGR – Procuradoria Geral da República e isso ficou evidente ao longo do seu interminável, maçante e repetitivo discurso. Com citações sucessivas e desencontradas entre si -a mais repetida foi a do advogado Evaristo de Moraes: “Os fatos para serem considerados crimes devem se encaixar na Lei Penal como uma luva se encaixa nas mãos”- o ministro tentou desconstruir os fatos e as provas que compõe a consistente peça de acusação. Uma das suas pérolas foi: “o plano não caracteriza organização criminosa”, muito embora seja evidente que, para um plano tomar o país através de golpe, seja necessário uma organização. Se golpe de estado é crime, então como executá-lo sem uma organização criminosa? O jornal “O Estado de São Paulo” em seu editorial “Bolsonaro não vale uma missa” fez a ilação com a frase dita pelo protestante, Henrique de Navarra, em 1593, convertido ao catolicismo apenas para assumir o trono da França: “Paris bem vale uma missa”. É fux!

Vinicius Todeschini 10-09-2025

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