Crónicas do Brasil | 10-10-2025 10:26

Adensamento Urbano, outra fraude do ultra neoliberalismo

Vinicius Todeschini

A sacada dos magnatas da cidade de Porto Alegre representados pelo prefeito e sua base, na Câmara dos Vereadores, é muito simples: é o velho clichê de maximizar os lucros e diminuir os gastos, como os empresários que financiam o prefeito fazem em suas empresas, trocar funcionários por máquinas, que cobram apenas manutenção.

Colocar mais coisas no mesmo espaço e usar cada centímetro para construir prédios onde mais pessoas irão morar, trabalhar e produzir lixo e material orgânico para o sistema de esgotos da cidade, já completamente estressado pelas demandas é o projeto de adensamento urbano proposto pelo atual governo de Porto Alegre, que tem a frente, Sebastião Melo, o testa-de-ferro dos grupos econômicos mais poderosos da cidade. O projeto contempla a monetização de cada espaço urbano, ora destruindo prédios históricos, ora aproveitando cada brecha entre os próprios prédios, para construir novas estruturas onde não circulará mais o ar, o que em uma cidade extremamente úmida como a nossa é, simplesmente, criar insalubridade a granel que trará, fatalmente, consequências graves, a médio e a curto prazo, para a saúde da população, inclusive a dos novos moradores. A ideia é monetizar o espaço urbano sem ter que fazer nenhum grande investimento em infraestrutura e serviços vitais, basicamente este é o projeto que o Plano Diretor contempla. Na cidade das calçadas destruídas, da falta de fiscalização sanitária e das privatizações, só quem lucra são os grandes grupos econômicos, cuja ambição não tem limite.

A cidade enfrentou em 2024 a pior enchente da sua história, mas antes disso já tinha enfrentado outras um pouco menores que deveriam ter servido como aviso, pelo menos para governantes realmente interessados no bem-estar da população, mas não foi isso que aconteceu. Historicamente a cidade sempre enfrentou problemas de alagamento, mas a invasão das águas do Guaíba e do Jacuí, na proporção que aconteceu, mesmo contando com um sistema de proteção robusto feito com diques, casas de bombas e o famoso muro da Mauá, é o resultado da falta de manutenção nesse sistema e da falta de projetos que o aperfeiçoassem. Há também um sistema de esgotos defasados e tantos outros problemas que afetam à maioria da população, em todas as áreas da vida urbana, que são incontáveis, no entanto, basta andar pela cidade para perceber o descaso e as coisas malfeitas, desde os novos calçamentos do Centro Histórico, onde nem simetria entre as estruturas colocadas no chão existem, até obras intermináveis que parecem atender àquela velha lógica de superfaturamento. Os últimos governos de Nelson Marchezan Jr (2016-2020) e Sebastião Melo (2020-2024, reeleito em 2024) vão na direção contrária ao bem-estar público e atendem tão somente os interesses da elite endinheirada.

O projeto de adensamento urbano é perfeito para as grandes construtoras e até para as menores porque se pretende, com nenhum investimento em infraestrutura e serviços básicos, que são obrigações da prefeitura, precisem ser feitos. Se houvesse um projeto, minimamente preocupado com o equilíbrio ambiental e com a saúde, se levaria em conta todos os detalhes com a profundidade necessária, criando assim infraestruturas e serviços, cujo alcance elevariam o padrão da cidade, mas o único padrão que será elevado será o do preço dos imóveis e consequentemente, muito em breve, o do IPTU. A sacada dos magnatas da cidade representados pelo prefeito e sua base, na Câmara dos Vereadores, é muito simples: é o velho clichê de maximizar os lucros e diminuir os gastos, como os empresários que financiam o prefeito fazem em suas empresas, trocar funcionários por máquinas, que cobram apenas manutenção. A eliminação dos cobradores dos ônibus e a tentativa do maior grupo supermercadista do estado de eliminar os caixas por atendimento self-service são exemplos da mentalidade empresarial dessa gente.

No mesmo lugar onde cem famílias usavam os serviços da cidade de água e esgotos, por exemplo, o número será multiplicado por 10 ou 15 vezes mais, ou seja: onde moravam cem famílias, haverá mais de mil, portanto o projeto em seu todo não é simplesmente construir, é também privatizar os serviços de água e esgoto para cobrar muito mais caro, por isso a tentativa do prefeito de privatizar ‘a toque de caixa’ o DMAE, o que está rendeu uma CPI, onde a própria base do prefeito está entregando as falcatruas. O DEP-Departamento de Esgotos Pluviais foi desmontado pelo prefeito, Nelson Marchezan Jr e o Código Ambiental do Rio Grande do Sul pelo governador Eduardo Leite e sua base na Assembleia Legislativa. O ultra neoliberalismo é construído em cima dos escombros de prédios históricos, soterrando assim a memória e a cultura, que fez a nossa identidade ser o que é e se isso for esquecido nem os fantasmas a reconhecerão, se um dia tiveram má sorte de retornar ao seu pago.

Vinicius Todeschini 07-10-2025

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