Crónicas do Brasil | 20-10-2025 16:33

O Nobel de ‘La Sayona’

Vinicius Todeschini

Quem conhece um pouco da história recente da Venezuela sabe que as elites desse país são da pior espécie, comparáveis às do Brasil, porém menos dissimuladas, pelo menos até o advento do chavismo. Chávez incorporou o espírito de indignação do povo venezuelano, porém seu legado caiu nas mãos erradas.

O prêmio Nobel da Paz para Maria Corina, a líder da oposição venezuelana é, simplesmente, uma forma de presentear quem está coadunado com os valores neoliberais do mundo ocidental, pelos mesmos critérios, Donald Trump, poderia ter sido premiado, ele que se jacta de ter acabado com 7 guerras (número de mentiroso), mas apoia o maior genocida dos tempos modernos, Benjamin Netanyahu, que ele chama carinhosamente de “Bibi”, entretanto, até para este comitê patético, escolher o rei-presidente norte-americano seria demasiado. Alfred Nobel nunca se perdoou por ter inventado o dinamite e por isso passou a vida tentando remediar o mal da sua criação, porém muitos outros que inventaram e inventam armas nunca tiveram esses pruridos. Nobel foi um homem solitário e infeliz, dado a crises de depressão e nunca encontrou o amor da sua vida, mas deixou o prêmio Nobel como legado, que hoje é referência no mundo para pessoas que se destacam e, além disso, ambicionam o reconhecimento pelo seus feitos.

Quem conhece um pouco da história recente da Venezuela sabe que as elites desse país são da pior espécie, comparáveis as do Brasil, porém menos dissimuladas, pelo menos até o advento do chavismo. Chávez incorporou o espírito de indignação do povo venezuelano, porém seu legado caiu nas mãos erradas e as políticas de Maduro acabaram por criar uma nova elite, que se afeiçoou ao Poder e não quer mais seguir as regras democráticas. Os ideais de Hugo Rafael Chávez há muito se perderam, mas nem por isso devemos esquecer quem é Maria Corina e o que ela representa, pois se trata da legítima representante das elites que sempre mandaram no país e nunca se conformaram com a ascensão de Chávez e do povo venezuelano, assim como as elites brasileiras nunca se conformaram com a ascensão de Lula e do povo brasileiro. As elites da América Latina se sustentam do ódio ao povo mestiço latino-americano, do qual também fazem parte, mas repudiam, porque encarnam o ideal dos colonizadores brancos que aqui chegaram para explorar e matar, se identificam com os algozes do seu povo e se sentem europeus, por isso todas as elites são latino-americanas são, basicamente, iguais, excetuando o sotaque, carajo...

Empoderada pela premiação do Nobel da Paz, Maria Corina, “La Sayona”, (bruxa de uma lenda venezuelana perseguidora de homens que traem suas mulheres-é assim que Nicolás Maduro se refere a ela, inclusive) afirmou que é uma questão de tempo a queda do atual presidente e já passou a oferecer para a iniciativa privada norte-americana todo o petróleo venezuelano. O presidente da Colômbia fez duras críticas à Maria Corina por sua disposição em entregar o país -que tem a maior reserva de petróleo do mundo- aos interesses estrangeiros e imperialistas e também lembrou que ela já pediu apoio ao maior genocida do século XXI, Benjamin Netanyahu, para derrubar Maduro. Maria Corina nunca negou seus posicionamentos e eles sempre foram antipopulares, por isso ligá-la a libertação do povo venezuelano é, no mínimo, um grande equívoco. O embargo imposto a Venezuela pelos EUA, além do congelamento de todos os seus ativos, são responsáveis diretos pelas dificuldades financeiras do país e mesmo que isso não isente Nicolás Maduro do seu péssimo governo, é um fato. Cuba também sofre há mais de 60 anos um embargo dos EUA, mas resiste à duras penas, com muitas dificuldades financeiras e o sofrimento do seu povo. Os norte-americanos ainda mantém, em Cuba, à base de Guantánamo, onde há uma prisão de segurança máxima em que prisioneiros considerados terroristas são torturados. O fechamento foi mais uma promessa de campanha de Obama não cumprida, Donald Trump, no entanto, pretende ampliá-la.

As amplas e massivas manifestações anti-Trump em várias das grandes cidades dos EUA não deixam dúvidas que o povo esclarecido desse país está acordando para o fato: foi uma enorme equivoco não puni-lo pela tentativa de golpe nas eleições em que ele perdeu para Joe Biden, em 2020. A comissão parlamentar que investigou o fato concluiu que houve ‘uma tentativa de golpe’ contra a democracia e que foram fruto das acusações infundadas e persistentes feitas por Trump, que resultaram na Invasão do Capitólio. A turba de extremista de direita que invadiram o Congresso, em 6 de janeiro de 2021, deixou um rastro de sangue com 5 mortos e dezenas de pessoas feridas. A atriz Julianne Moore publicou em suas redes sociais um desabafo, onde registra o erro dos EUA em não punir Trump pela tentativa de golpe, como o Brasil fez com Jair Bolsonaro. A atriz teve o se livro infantil, "Freckleface Strawberry", banido das bibliotecas das escolas por ordem expressa do governo Trump, a sua perplexidade diante do ocorrido foi total: 'Nunca pensei que veria isso em um país onde a liberdade de expressão é um direito constitucional', declarou ela. Os EUA respiram o ar insuportável de um golpe de estado em andamento, com a aplicação extemporânea e descabida de leis antigas usadas apenas para reprimir e controlar as pessoas e as suas liberdades constitucionais. O discurso moralista que sempre acompanha essas ações são recorrentes na história e o resultado invariavelmente é sempre o mesmo, ditadura e perseguição aos adversários políticos. O mundo assiste aflito a cada semana novas ações de um homem doente e descontrolado, movido tão somente pelo seu desejo megalomaníaco e paranoico. O final disso todos podem antever e será desastroso se não houver, rapidamente, uma correção de curso nos EUA.

Vinicius Todeschini 20-10-2025

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