O neocolonialismo mental
Os que viveram o tempo em que a juventude era sinônimo de rebeldia e revolução ainda se espantam, porque hoje, ao contrário, significa o oposto e a cada dia esta tendência se confirma e avança. O aumento dos casos de suicídio entre menores de 15 anos se tornou a principal causa de morte em várias partes do mundo, confirmando que o maremoto das redes sociais conseguiu varrer por completo os anteparos que protegiam as crianças. Regular as redes sociais é imperativo, mas o poder das Big Techs é muito poderoso, muitas vezes maior que o de muitos países.
A situação do mundo requer atenção, porque chegamos a um ponto onde reverter os processos de produção, instaurados e intensificados nos últimos séculos, poderá se tornar tão complicado e demorado que, logo ali adiante, se tornará impossível revertê-lo. A Natureza é indiferente à cosmogonia criada pelo homem e segue, infalivelmente, o seu próprio ritmo e de nada adiantará se concluir universalmente que as colocações recorrentes dos ambientalistas estavam certas quando for tarde demais. A sobrevivência da espécie humana não existe sem a manutenção do único lugar possível para ela existir, que está sendo devastado por aqueles que, desejam, simplesmente, o lucro indiscriminado e manutenção de um modelo, que há muito se comprovou insustentável. O engenharia da destruição de estruturas públicas, garantidoras do mínimo para sobrevivência da maioria da população, mantida em estado de neoescravidão, é como uma máquina de moer carne humana e só funciona porque a mente entorpecida pelo consumo das classes médias, em seu delírio de pertencer às elites, garante o seu modus operandi; elitista, escravagista e perverso. Dessa egrégora conturbada não advirá o novo mundo -onde reinem paz e harmonia- mas a antessala do grande final, que atingirá a todos, mesmos os super privilegiados.
O neocolonialismo mental garante o domínio sobre as massas, mas a vida é um processo muito mais amplo, o universo inteiro está interligado. Apoiar negacionistas como Trump é assinar um cheque em branco onde qualquer valor nominal poderá ser escrito, mesmo que o valor posto ultrapasse o saldo restante. No entanto, a aposta dos poderosos para manter o seu poder, é continuar com o velho modelo, cujas consequências terríveis já estão diante de todos. A frase de Trump: "We'll be dig, dig, digging", reflete o desprezo pelo ambientalismo, mas também confirma a triste sina de própria espécie, à mercê das suas piores representações, como Trump, Bolsonaro, Netanyahu, Milei e tantos outros, que estão aí para mostrar que não há limite para o sofrimento dos pobres e desterrados do planeta. Se houver um inferno, esses são os seus emissários, incansáveis em cumprir, na proporção do poder que tenham, a sua missão de manutenção do capitalismo em sua forma mais agressiva e virulenta. Não há saída por essa via, ou melhor: ela acontecerá, mas não será boa para ninguém, porque o desequilíbrio aumentará e as catástrofes crescerão em progressão geométrica e cada vez mais próximas de nós. Ninguém será poupado, mas a punição de todos será pela escolha de poucos e isso não é nem um pouco democrático.
A grande jogada da Extrema-Direita no mundo sempre foi controlar os meios de comunicação -o que corrobora os seus avanços quando surgem novas tecnologias nessa área, com novas oportunidades para a manipulação das massas- assim foi com os jornais e o rádio, nos tempos de Mussolini, agora são os smartphones e as redes sociais. Este tempo que logrou ficar sem nenhuma concorrência nas redes sociais já se reflete no comportamento dos mais jovens e a escritora e pesquisadora inglesa, Laura Bates, premiada como uma das cem mulheres pela BBC, em 2014, colocou a questão da seguinte forma; "Nós estamos diante de uma geração inerentemente misógina. Trata-se na verdade de uma geração de jovens que acessa determinados sites, aplicativos e outros ambientes online com algoritmos incrivelmente poderosos e treinados para servir conteúdos cada vez mais extremistas". Os que viveram o tempo em que a juventude era sinônimo de rebeldia e revolução ainda se espantam, porque hoje, ao contrário, significa o oposto e a cada dia esta tendência se confirma e avança. O aumento dos casos de suicídio entre menores de 15 anos se tornou a principal causa de morte em várias partes do mundo, confirmando que o maremoto das redes sociais conseguiu varrer por completo os anteparos que protegiam as crianças.
Regular as redes sociais é imperativo, mas o poder das Big Techs é muito poderoso, muitas vezes maior que o de muitos países. Isso torna o desafio ainda mais imprevisível, são miríades de informações replicadas em mensagens contraditórias, confundindo e criando a sensação de desamparo, transformando a juventude atual em um exército de aflitos. A busca por algum significado que justifique e crie alento para uma vida, que está apenas se iniciando, se tornou o principal problema, porque hoje, diferente da minha geração, quando se garimpava informações, existe excesso de informações, que somada ao fato de se contradizerem e nunca alcançarem uma síntese plausível e norteadora, aumentam a confusão e parece que a confusão será o epitáfio desse mundo. A arte sofre e a produção artística fica cada vez mais atrelada a uma excessiva monetização, colocando o artista em cheque, entre sobreviver e fazer a arte plena e no tempo certo. Um compositor precisa tocar cerca de 22 mil vezes por mês no Spotify para ganhar R$ 1 real, Pasmem... Isso é parte da estratégia; acabar com a arte livre e forte, onde a criatividade e o talento aflorem livremente sem as amarras dos interesses do “mercado” e dos marketings. Os grandes compositores, como Lô Borges, por exemplo -que nos deixou em 2 de novembro, aos 73 anos- coautor de um álbum duplo chamado, ‘Clube da Esquina’, que é considerado uma das maiores obras primas da música popular de todos os tempos, deixa um vazio. A sua morte simboliza um pouco o fim de uma época, uma era de utopias e músicas que nos levaram a viver de uma maneira mais profunda e visceral. Esses artistas ressignificaram tantas coisas com a sua arte, que o mundo que amamos ainda sobrevive por causa disso...
Vinicius Todeschini 14-11-2025


