A decadência
O crescimento do individualismo e das relações mediadas pelas redes sociais acabam por determinar novas formas de agressividade, encorajando comportamentos que não se sustentariam em relações presenciais, o resultado é o aumento de feminicídios e da intolerância a gêneros não binários. Há, também, o rechaço às políticas de mobilidade social e amparo aos excluídos, além de uma aderência a um consumismo voraz e estúpido, imposto pelo ultra neoliberalismo vigente.
É cada vez mais preocupante o paradoxo da nossa época, de um lado novas tecnologias e de outro novas gerações desconectadas do passado recente da humanidade, que levou o mundo a duas grandes guerras e uma mortandade sem precedentes. Ditadores sanguinários e políticos fascistas que ascendem ao Poder são reverenciados por jovens, políticos que têm como primeiro objetivo, ao chegar ao Poder pelo voto, implodir as instituições democráticas para se perpetuar no comando. Estudos recentes revelam que homens abaixo de 30 anos são mais propensos a aderir a partidos e causas da Extrema-Direita, o crescimento especialmente forte nessa faixa etária é muito assustador e revela que a igualdade, a fraternidade e a paz entre os povos, não mais seduz as novas gerações. O apoio dos homens a esses segmentos da política é imensamente maior do que o das mulheres. Existem milhões de jovens que entendem que os avanços da modernidade em termos igualdade de gênero, de direitos das mulheres e das minorias os destituíram de direitos, leia-se privilégios, eles consideram isso uma imposição esquerdista e uma desvalorização pessoal. Existe ainda outro perigo, o da abstenção; como na última pesquisa sobre a juventude do Parlamento Europeu, apenas 39%, dos menores de 30 anos votaram alguma vez na vida.
O narcisismo das novas gerações também é preocupante e se resume em ser visto nas redes sociais, mas o excesso de exposição acaba por saturar a capacidade de observação e assimilação das pessoas, o que cria um paradoxo: o limiar de tolerância tem limites e não sustenta um consumo de informações desmedido, como o atual. Estudos e dados estatísticos revelam uma diminuição da inteligência das novas gerações, antes havia uma evolução de uma geração para outra, em nível de inteligência e conhecimento, graças à boa formação de milhões de jovens, onde a leitura e a escrita ocupavam um papel fundamental. Isso está se perdendo e o hábito de ler, como tradicionalmente se fazia, está desaparecendo. O crescimento do individualismo e das relações mediadas pelas redes sociais acabam por determinar novas formas de agressividade, encorajando comportamentos que não se sustentariam em relações presenciais, o resultado é o aumento de feminicídios e da intolerância a gêneros não binários. Há, também, o rechaço às políticas de mobilidade social e amparo aos excluídos, além de uma aderência a um consumismo voraz e estúpido, imposto pelo ultra neoliberalismo vigente.
Políticos sem escrúpulos e sem projetos para os seus estados e os milhões de habitantes desses rincões, apostam em ações violentas e radicais contra as comunidades, onde o crime organizado, muitas vezes, ocupa o papel do Estado e cobra por isso. A população paga duas vezes, ao Estado negligente e corrupto e as facções mafiosas, presentes à sua porta. Enquanto isso, os governantes de Extrema-Direita apostam 'no quanto pior melhor’ para agirem como o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, agiu, na chamada “Operação Contenção”, onde morreram mais de 120 pessoas. O Rio de Janeiro, desde a Chacina da Candelária, em 1993, contabiliza mais de 40 chacinas, todas elas sem nenhuma consideração por qualquer direito humano e onde milhares de inocentes foram assassinados. Cláudio Castro, Ronaldo Caiado (Goiás), Jorginho Mello (Santa Catarina), Ratinho (Paraná) e Tarcísio de Freitas (São Paulo) apostam na necropolítica como forma de controle, evitando assim enfrentar os reais problemas sociais dos seus respectivos estados. Invadem comunidades em operações letais e matam, indiscriminadamente, bandidos e trabalhadores (a maioria dos que habitam essas áreas conflagradas).
O que aconteceu dia nove de dezembro na Câmara dos Deputados é o retrato vivo do que está acontecendo no país, acossado pelo neofascismo. O presidente da Câmara, Hugo Motta, mandou expulsar os jornalistas para que a Polícia Legislativa retirasse à força da cadeira de presidente o deputado Glauber Braga (PSOL- Rio de Janeiro), mas antes mandou a TV Câmara parar de filmar. Hugo Motta mais uma vez disse ao que veio e o seu mentor, Arthur Lira, deve ter ficado satisfeito com essa figura que segue os seus ditames e as suas práticas, entretanto, o seu desgaste com o povo e com a imprensa não para de crescer. O deputado Glauber luta pelo seu mandato, porque, depois de expulsar aos empurrões um perseguidor contumaz, que o ameaçava diariamente com ofensas, dirigidas, principalmente, à mãe do deputado, foi enquadrado pelo Conselho de Ética da Câmara. Porém, quando a bancada bolsonarista ocupou a cadeira do presidente da Câmara, eles não foram retirados à força ou punidos, nem mesmo o deputado Zé Trovão (PL-Santa Catarina), que colocou o pé na cadeira e impediu Hugo Motta de se sentar na cadeira de presidente. A aprovação para alterar as dosimetrias das penas dos golpistas, aprovado na Câmara por 291 votos contra 148, visa, fundamentalmente, beneficiar o chefe da organização criminosa que tentou o golpe, Jair Bolsonaro. A configuração atual do Congresso Nacional, em sua maioria, é antipovo e contra a democracia e só apresenta projetos, como esse ou o da PEC da Blindagem, para livrar os deputados da Justiça. Os projetos em benefício de grupos poderosos e o sequestro de atribuições do Executivo, culminou nas emendas PIX, agora investigadas pelo STF, a prova viva do nível de corrupção desse Congresso.
Vinicius Todeschini 10-12-2025


