Crónicas do Brasil | 25-08-2022 09:11

Guerra Santa

Vinicius Todeschini

A posse do Ministro Alexandre Moraes no TSE-Tribunal Superior Eleitoral- e o seu discurso contundente a favor do processo eleitoral brasileiro e das urnas eletrônicas, demonstrou firmeza e criou constrangimentos ( : ) E assim a saga bolsonarista contra as urnas eletrônicas e a democracia começa a demonstrar um grande desgaste, tanto pelas inúmeras declarações sem prova, quanto pelas novas deepfakes.

A nova disputa eleitoral entrou na seara religiosa e, por ironia, serão os que querem se eleger correndo atrás dos “eleitos por Deus”. Os evangélicos possuem a sua própria bancada no Congresso Nacional e foram os primeiros alvos dos dois principais candidatos, mas, em breve, os católicos serão devidamente procurados e, certamente, as religiões que possuem menos membros também serão cortejadas. Bolsonaro tem maioria entre os evangélicos, o que não impedirá o crescimento de Lula neste segmento, até porque, entre as mulheres, Bolsonaro tem grandes dificuldades para circular, mesmo com a ajuda da primeira-dama, uma “evangélica-raiz” já totalmente engajada na campanha do marido.

Os dois candidatos assumiram a “Guerra Santa” e já se acusaram, bem no estilo evangélico: Bolsonaro chamou Lula de filho do capeta e Lula o chamou de endemoniado. Esta aparente ingenuidade no mundo evangélico, muito alinhada ao maniqueísmo – doutrina da qual Santo Agostinho flertou antes de Santa Mônica encaminhá-lo, definitivamente, ao catolicismo- costuma funcionar com populações que não aceitam à solidão definitiva da condição humana e a falta de qualquer garantia que a realidade impõe, por isso o crescimento vertiginoso dos evangélicos em países onde o acesso à educação de qualidade ainda é precário ou inexistente. O Brasil, mesmo nos períodos de governos do PT e aliados, nunca teve um projeto como o que Darcy Ribeiro e Brizola propunham para resolver o problema da educação.

A posse do Ministro Alexandre Moraes no TSE-Tribunal Superior Eleitoral- e o seu discurso contundente a favor do processo eleitoral brasileiro e das urnas eletrônicas, demonstrou firmeza e criou constrangimentos. Bolsonaro, que estava presente, teve que engolir cada palavra e confirmou pela postura corporal e facial toda a sua contrariedade, além de ter ficado frente a frente com Lula, que foi muito mais procurado pelos presentes, antes e depois do evento. E assim a saga bolsonarista contra as urnas eletrônicas e a democracia começa a demonstrar um grande desgaste, tanto pelas inúmeras declarações sem prova, quanto pelas novas deepfakes.

A polarização no país confirma que a inclusão social não está inserida nos valores culturais cultivados por milhões de pessoas. A porcentagem exata da população que apoia a meritocracia e é contra políticas sociais de inclusão se saberá, ainda melhor, após o pleito de outubro, mas se pode projetar que está na faixa de 30%. A oscilação de Bolsonaro nas pesquisas está nessa faixa e deverá continuar assim, salvo alguma surpresa. O processo de desdemocratização imposto, paulatinamente, nesses quatro anos pelo seu des-governo criou uma desconfiança e um grande desgaste, mesmo entre setores que estavam alinhados ao presidente, criando uma área cinzenta de mal-estar que continua a crescer. Os ataques permanentes as instituições que salvaguardam à democracia no Brasil, confirmou que o projeto de Bolsonaro e aliados é tomar o poder permanentemente até 2035 -pelo menos- projeto que começou em 2014 quando oficiais de alta patente do Exército lhe franquearam o acesso a Academia de Agulhas Negras para cooptar aos jovens oficiais, que hoje constituem o núcleo duro do bolsonarismo. Como nada vem do nada, o bolsonarismo é mais uma representação do fascismo, mas com características muito próprias e cresceu nos desvãos escuros, onde as políticas dos governos de Lula e Dilma não levaram nenhuma luz. O agronegócio, os evangélicos, além dos militares e policiais, obviamente, demonstram o longo e sistemático trabalho de alinhamento e cooptação de Bolsonaro.

É muito provável que as eleições tenham segundo turno e, por sinal, bastante disputado, ou seja: a eleição não deverá ser um passeio, como parte da esquerda quer acreditar. A campanha, propriamente dita, começou dia 16 deste mês, com o início da propaganda eleitoral, mas o surgimento das deppfakes promete desafios ainda maiores para os especialistas da área de TI, devido à perfeição das suas falsificações. No entanto, o maior perigo serão às áudiofakes, porque, diferentemente, da deepfakes elas não têm um original para comparação, às áudiofakes são criadas com o uso de algoritmos de inteligência artificial, que apreende os movimentos que a voz humana e depois é capaz de combiná-los gerando uma mídia falsa. Não será surpresa se a extrema-direita recriar o Messias nomeando Bolsonaro o seu sucessor.

Vinicius Todeschini 21-08-2022

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