Ana Serra gostava que a romaria ao senhor da Boa Morte na Quinta-Feira da Ascensão se tornasse numa atracção turística.

O Rancho de Varinos de Vila Franca de Xira, que tem como padroeiro o Senhor da Boa Morte, e ao qual Ana Serra pertence, costumava participar na Romaria à capela do Senhor da Boa Morte, em Quinta-Feira de Ascensão. “Os elementos do rancho iam com as suas roupas e as redes, a seguir ao andor que era carregado por campinos”, recorda, a propósito do cancelamento, este ano, da tradicional procissão da localidade de Povos. Ana Serra assume-se como mulher de fé e está ligada ao associativismo do concelho e das suas tradições. Natural de Vila Franca de Xira, recorda as caminhadas em família até ao santuário do Senhor da Boa Morte, no cimo do monte com passagem pelo bairro da pedra furada. “Era um dia de partilha e contacto com a natureza. Lembro-me do cheiro das flores até chegarmos lá a cima”, conta.

À chegada entrava na capela, acendia uma vela que colocava no altar, fazia a sua prece e beijava o pé da imagem do Senhor da Boa Morte. “Depois almoçávamos em família no sopé do monte e lá ficávamos até ao final do dia”, conta.

Nos últimos anos o percurso foi encurtado e são cada vez menos os que o fazem a pé e em procissão com muita pena de Ana Serra. “Gostava que as pessoas nesse dia fossem a pé para sentir o contacto com a natureza e não de carro, até porque lá em cima é uma confusão com o estacionamento”, critica, embora compreenda que para algumas pessoas com dificuldades de locomoção isso não seja possível. Este ano com a pandemia de Covid-19 a impedir a marcha da procissão, Ana Serra diz que vai celebrar o feriado municipal no recanto do lar, com uma saída apenas para apanhar a espiga nos campos, uma tradição que diz ter vindo a murchar de ano para ano.