Cultura | 25-01-2025 18:00

Filarmónica da Lapa encontrou estabilidade com actual direcção

Filarmónica da Lapa encontrou estabilidade com actual direcção
Filarmónica da Lapa completou 116 anos a 6 de Janeiro e é dirigida pelo jovem maestro Edgar Barbosa

Sebastião Barbosa, 61 anos, completa em Março oito anos à frente da Filarmónica da Lapa que vai conseguindo ter músicos da terra, num total de 30 a 35.

Sebastião Barbosa, 61 anos, completa em Março oito anos à frente da Filarmónica da Lapa que vai conseguindo ter músicos da terra, num total de 30 a 35. Edgar Barbosa, 32 anos, é filho do presidente e aceitou dirigir a banda quando esta passava por dificuldades. Quando chegou à direcção, Sebastião Barbosa recebeu um papel com dívidas a rondar os 30 mil euros que a anterior direcção já tinha tentado saldar. Devia ao antigo maestro e até ao padeiro e, durante três meses, elementos da direcção trabalharam no café a vender sandes e bebidas para abater a dívida, entre eles Sebastião Barbosa e a anterior presidente Ruth Catarino, que servia os pequenos-almoços naquele que é o único café da Lapa e que a população temia que fechasse.
Sebastião Barbosa, electricista de profissão natural de Azambuja, residente na Lapa há 35 anos, guarda esse papel religiosamente. Nunca tocou nenhum instrumento e admite ter ido parar à filarmónica por necessidade e porque foi onde o filho começou com nove anos. “Havia dívidas ao anterior maestro e a banda deixou de ter ensaios e convidaram o Edgar, que começou por não receber nada. Foram feitos negócios desnecessários. Quando estamos numa casa que não é nossa e que estamos a representar, que é o que eu sinto que estou a fazer, temos de ter o dobro da atenção”, afirma.
O presidente da associação tem tentado passar o testemunho mas sem sucesso. Há dois anos a direcção constituída também pelo vice-presidente Dinis Carniça, o tesoureiro Carlos Vilaça, Sandro Santos, Ricardo Ribeiro, Francisco Ventura, Erundina Barbosa, Carmina Santos e Fátima Cortez, conseguiu a legalização da sede. Estão a tentar obter o estatuto de utilidade pública e investiram na escola de música com aulas de iniciação à música, formação musical, clarinete, trompete, saxofone e percussão. Recentemente foi remodelada a cozinha, que é o seu “ganha-pão” e que vão inaugurar no dia da freguesia.
Sebastião Barbosa considera o repertório da banda moderno e garante que “o ambiente é bom e quando as pessoas vêm querem ficar”. Tem outro filho, Ilídio, de 24 anos, que também toca. Neste momento, o apoio de que precisam é para a escola de música, que tem 26 alunos que pagam uma mensalidade de 10 euros. O município do Cartaxo ainda não consegue atribuir apoios e o dinheiro não chega para novos instrumentos. O tesoureiro Carlos Vilaça mostra mesmo, durante a entrevista, uma factura em que umas calças e um casaco para o fardamento rondam os 200 euros.
História marcada
por dois acidentes fatais
Segundo o portal das bandas filarmónicas e o site do município, a Associação Filarmónica União Lapense (AFUL) foi fundada a 6 de Janeiro de 1909 por José António Clemente, José António Inácio, António Anselmo de Barros e Maurício Clemente. Em 1947, atravessava a banda um dos seus bons momentos quando, no regresso de uma das festas, a camioneta capotou, perdendo a vida dois músicos e ficando os instrumentos destruídos. O acidente pôs a freguesia da Lapa de luto, mas alguns dos sobreviventes conseguiram erguer a colectividade. A 26 de Janeiro de 1957 verificou-se um novo acidente falecendo o presidente, mas mesmo assim a banda continuou a sua actividade. A actual direcção está a fazer um trabalho de recolha de informação junto de antigos músicos e directores para que a história da AFUL não se baseie apenas nestes dois momentos.

Edgar Barbosa
Sebastião Barbosa

Pai e filho são presidente, maestro e professor

Edgar Barbosa, maestro na Filarmónica da Lapa, fez o conservatório nacional até ao oitavo grau de trompa, tirou a licenciatura na Academia Nacional Superior de Orquestra, mestrado na área do ensino da trompa e para dar aulas de educação musical, tocando a convite na Orquestra de Cascais e Oeiras. Dá aulas nos Conservatórios de Santarém e de Torres Vedras.
Os ensaios na Lapa são à sexta-feira à noite e o que tem atraído as crianças à escola de música, diz, são as amizades que se formam e a competição saudável quando se ouvem uns aos outros nas audições. A banda espera voltar a repetir o concerto Tubo de Ensaio com quintetos e quartetos onde as escolhas musicais são normalmente feitas pelos próprios músicos. Tem em perspectiva um concerto temático no Centro Cultural do Cartaxo e os objectivos do maestro são que a música chegue a mais pessoas ao realizarem concertos diversificados.
Relativamente a Sebastião Barbosa, o presidente da direcção, é um caso raro do associativismo no concelho do Cartaxo, tendo em conta que é o único que resiste das direcções anteriores. O dirigente tem tentado passar o testemunho, mas até agora não apareceram interessados. Um problema que é transversal a centenas de associações da região que vão sobrevivendo às custas da carolice de alguns dirigentes.

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