Música ajudou António Bento a superar a perda da família em acidente
António Bento toca há cerca de meio século na Filarmónica da Lapa, no concelho do Cartaxo, e em mais duas bandas. É o músico mais antigo e tem ajudado a formar crianças. A banda da Lapa é dirigida por Edgar Barbosa e presidida pelo pai, Sebastião Barbosa.
António Luís Bento, 64 anos, nasceu nos Casais da Lapa e por volta dos 13 ou 14 anos perguntou ao director se podia integrar a banda filarmónica da Lapa, no concelho do Cartaxo. Extrovertido como o pai, roubava-lhe a harmónica e começava a imitá-lo. Entrou para tocar percussão, mas o objectivo foi sempre o trompete, influenciado pelo trompetista Raminhos que conta ter actuado na freguesia numa altura em que a banda estava parada devido a um acidente de viação que envolveu os músicos. Na sua ingenuidade, pegava nos trompetes dos colegas e tocava mesmo sem bocal, até que houve alguém que decidiu ensiná-lo. Mais tarde tirou o sexto grau no Conservatório de Santarém e hoje ensina de forma voluntária as crianças que entram para a escola de música.
Na Lapa continuou na percussão e foi para a banda do Cartaxo só para tocar trompete. Com a saída dos músicos mais velhos, ensinou solfejo na escola primária e formou uma banda juvenil que, relata, “chegava a ter mais serviços do que a própria banda”, porque as pessoas achavam graça aos miúdos. Trabalhou na Fábrica Moali, no Cartaxo, dos 14 aos 25 anos; na Impormol, onde tinha um cargo de chefia, e com cerca de 40 anos abriu a sua própria empresa, a Alfagrilapa, que actualmente é gerida pelo filho. Mesmo a trabalhar por turnos, nunca deixou de tocar trompete até altas horas da madrugada, nos tempos em que a banda era sustentada pelos serviços e fazia de manhã o peditório, à tarde a procissão e à noite o arraial.
O ano de 2008 foi marcante na vida daquele que é o mais antigo músico da banda da Lapa. António Bento perdeu, num acidente de viação, a ex-mulher e um dos filhos na véspera de fazer 23 anos. A música, que outrora já amava, tornou-se o seu suporte. “Sinto-me isolado de tudo o que me rodeia e foi isso que me salvou. A perda de um filho é um sentimento que não se explica a ninguém”, conta.
António Bento estuda música diariamente durante uma hora e meia no seu escritório. A esposa e ex-presidente da filarmónica, Ruth Catarino, é saxofonista e anda consigo para todo o lado. À terça-feira vão para a banda da Amadora, à quarta ensaia com o grupo de cantares da associação e toca acordeão, à sexta tocam na Lapa e ao sábado na banda da Marmeleira, no concelho de Rio Maior. Domingo é para os concertos e quando vão de férias para o Algarve tocam na banda de Vila Real de Santo António. O local mais inusitado onde António Bento tocou foi num cruzeiro pelo Mediterrâneo desafiado por um amigo, interpretando o tema New York, New York, de Frank Sinatra.