Sociedade | 28-01-2025 15:00

Música ajudou António Bento a superar a perda da família em acidente

Música ajudou António Bento a superar a perda da família em acidente
António Luís Bento toca na Banda da Lapa há meio século

António Bento toca há cerca de meio século na Filarmónica da Lapa, no concelho do Cartaxo, e em mais duas bandas. É o músico mais antigo e tem ajudado a formar crianças. A banda da Lapa é dirigida por Edgar Barbosa e presidida pelo pai, Sebastião Barbosa.

António Luís Bento, 64 anos, nasceu nos Casais da Lapa e por volta dos 13 ou 14 anos perguntou ao director se podia integrar a banda filarmónica da Lapa, no concelho do Cartaxo. Extrovertido como o pai, roubava-lhe a harmónica e começava a imitá-lo. Entrou para tocar percussão, mas o objectivo foi sempre o trompete, influenciado pelo trompetista Raminhos que conta ter actuado na freguesia numa altura em que a banda estava parada devido a um acidente de viação que envolveu os músicos. Na sua ingenuidade, pegava nos trompetes dos colegas e tocava mesmo sem bocal, até que houve alguém que decidiu ensiná-lo. Mais tarde tirou o sexto grau no Conservatório de Santarém e hoje ensina de forma voluntária as crianças que entram para a escola de música.
Na Lapa continuou na percussão e foi para a banda do Cartaxo só para tocar trompete. Com a saída dos músicos mais velhos, ensinou solfejo na escola primária e formou uma banda juvenil que, relata, “chegava a ter mais serviços do que a própria banda”, porque as pessoas achavam graça aos miúdos. Trabalhou na Fábrica Moali, no Cartaxo, dos 14 aos 25 anos; na Impormol, onde tinha um cargo de chefia, e com cerca de 40 anos abriu a sua própria empresa, a Alfagrilapa, que actualmente é gerida pelo filho. Mesmo a trabalhar por turnos, nunca deixou de tocar trompete até altas horas da madrugada, nos tempos em que a banda era sustentada pelos serviços e fazia de manhã o peditório, à tarde a procissão e à noite o arraial.
O ano de 2008 foi marcante na vida daquele que é o mais antigo músico da banda da Lapa. António Bento perdeu, num acidente de viação, a ex-mulher e um dos filhos na véspera de fazer 23 anos. A música, que outrora já amava, tornou-se o seu suporte. “Sinto-me isolado de tudo o que me rodeia e foi isso que me salvou. A perda de um filho é um sentimento que não se explica a ninguém”, conta.
António Bento estuda música diariamente durante uma hora e meia no seu escritório. A esposa e ex-presidente da filarmónica, Ruth Catarino, é saxofonista e anda consigo para todo o lado. À terça-feira vão para a banda da Amadora, à quarta ensaia com o grupo de cantares da associação e toca acordeão, à sexta tocam na Lapa e ao sábado na banda da Marmeleira, no concelho de Rio Maior. Domingo é para os concertos e quando vão de férias para o Algarve tocam na banda de Vila Real de Santo António. O local mais inusitado onde António Bento tocou foi num cruzeiro pelo Mediterrâneo desafiado por um amigo, interpretando o tema New York, New York, de Frank Sinatra.

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