“Não vejo os jovens ligarem-se à política da forma pura como se ligavam os do meu tempo”
Miguel Moreira é chefe da equipa de Torres Novas da Roques Vale do Tejo, representante da Renault, Isuzu e Dacia. Natural de Torres Novas, não trocava a cidade onde vive por qualquer outra do país, mas diz que falta mais comércio, habitação e empresas. No ramo automóvel continua, ao fim de mais de duas décadas, a cativá-lo o jogo de conquista do cliente. Quanto a uma participação mais afincada na política local o antigo presidente da JSD de Torres Novas diz que para já só se mantém como militante.
Nasci e cresci na cidade de Torres Novas mas durante ano e meio vivi na ilha da Madeira. Tinha uns 17 anos e fui para lá porque o meu pai, militar de carreira do Exército, foi para lá destacado. Guardo tão boas memórias que penso ir para lá viver a minha velhice. Já voltei mais de 20 vezes, mas acho um exagero o que pedem aos portugueses pelas viagens. Da infância passada em Torres Novas também só tenho boas memórias, desde as brincadeiras na rua, subir às árvores das fazendas, ao percurso que fazia todos os dias a pé até ao Colégio Andrade Corvo.
Não deixam as crianças brincar livremente nem viver o seu tempo de infância. Ao mesmo tempo parece que são crianças até aos 19 anos ou mais. Há muito facilitismo e excesso de informação. A minha filha tinha uma colega no infantário que tinha um telemóvel para poder telefonar aos pais; para mim não faz sentido. O primeiro contacto que tive com o trabalho foi através da Ocupação de Tempos Livres, na bilheteira das Piscinas de Torres Novas, e foi assim que aprendi a dar valor ao pouco dinheiro que ganhava. Durante cerca de três anos fui o responsável pelo Centro de Apoio à Juventude em Torres Novas.
Não vejo os jovens ligarem-se à política da forma pura como se ligavam os do meu tempo. Fui presidente da Juventude Social Democrata de Torres Novas durante alguns anos. Hoje os que se metem nas juventudes partidárias é mais com o objectivo de chegar a algum lugar. Naquele tempo havia mais pureza, lutávamos para ter mais representatividade e conseguirmos mais para os jovens, que nem sequer tinham lugar nas listas. A primeira vez que consegui pôr um numa lista foi muito negociado com os senhores do partido que nos viam como as máquinas de colar cartazes. Tirei um curso de gestão autárquica, estive na estrutura do PSD, mas actualmente só estou como militante e só volto a envolver-me se Pedro Passos Coelho voltar. Em Torres Novas o PS está como o PSD, desgastado.
Quando reparo em algo que está mal na cidade tiro fotografia e mando para quem tenho de mandar. As cores políticas ficam de lado, o que me interessa é que o problema seja resolvido. Um dia, pus a fotografia nas redes sociais, mas não o voltei a fazer. Não é esse o caminho. Na minha opinião todos os municípios deviam ter uma brigada de manutenção que andasse nas ruas a ver o que faz falta e é preciso resolver. Não trocaria a cidade de Torres Novas por qualquer outra do país ou do distrito de Santarém. Vive-se bem aqui, mas viver-se-ia melhor se houvesse mais investimento nas zonas industriais. É preciso cativar mais empresas. Também falta comércio e restauração no centro e mais habitação.
A minha ligação à Roques Vale do Tejo começou há 28 anos depois de responder a um anúncio de jornal. O gosto pelos automóveis vem desde a infância. O meu avô tinha como passatempo comprar carros, um de cada vez, para vender. O que me continua a atrair no ramo automóvel é o trabalho de conquista pelo cliente. Tive há pouco tempo uma cliente das Caldas da Rainha que me comprou um carro há 12 anos e que voltou cá. Isso quer dizer que fiz alguma coisa bem. Acima de tudo acredito no produto que vendo.
Os vendedores de automóveis não são todos iguais. Para se ser um bom vendedor é preciso ser-se humilde, trabalhador, aplicado e, sobretudo, gostar daquilo que se faz e não olhar só para o dinheiro. E tem que se gostar mesmo porque é cada vez mais difícil estar nesta profissão desde que as marcas se anteciparam na Internet a divulgar informação. Dantes, quando tínhamos um carro para lançar as pessoas vinham ao stand. Tudo o que a Renault lançar nos próximos anos vai ser eléctrico ou electrificado. Se estamos preparados para isso? Portugal é o segundo país da Europa com mais carregadores para carros eléctricos.
Comprar um carro a diesel quando se faz 10 mil quilómetros por ano é uma estupidez. Estão bem os incentivos que dão à compra de carros eléctricos, mas está mal os que não dão para os híbridos, que existiam até o PAN fazer aprovar um corte desses benefícios. Está mal também a mentalidade do Estado: vemos o primeiro-ministro a aparecer num carro eléctrico mas vai de BMW até lá. A frota do Estado devia ser toda electrificada para dar o exemplo. O município de Torres Novas está a fazê-lo e sei que vão instalar mais carregadores; noto que há preocupação em criar condições.
Defino-me como uma pessoa simples, correcta e que tem a sua humildade Q.B. O que mais valorizo no outro é a gratidão. No campo profissional ser ambicioso é importante, não ganancioso. Pessoas que passam por cima de todos para chegar onde querem não têm a minha admiração. A minha ideia de felicidade perfeita é ter saúde e poder viver o dia-a-dia o melhor possível. Tenho 55 anos e sou pai da Maria, de seis, que é a minha sorte grande. Sou um pai-avô, às vezes mais permissivo mas com uma maturidade que me faz ver as coisas de outra maneira. Sempre quis ser pai e quando ela nasceu só pensei que o que queria e quero é acompanhá-la o melhor que puder, durante o tempo que puder.