“Vim ao mundo para ser feliz, não para ser rico”
Manuel Sardinha, 66 anos, é sócio-gerente da MTA – Gestão de empresas, empresa de contabilidade, sediada no Cartaxo. Contabilista há 51 anos, partilha agora o espaço de trabalho e os conhecimentos com o filho Tiago, de 40 anos, que dá continuidade ao legado da empresa.
Tenho 66 anos e sou contabilista desde os 15. Nunca senti necessidade de sair do Cartaxo. Estive em Havana há 15 dias, capital de Cuba, e fiquei a pensar que por vezes falamos de barriga cheia. O primeiro emprego que tive foi numa tipografia, na Gráfica Pimenta, no Cartaxo, de que sou contabilista, e foi quando me desafiaram para um gabinete de contabilidade. A função de que mais gostei foi a de paquete, aquela fase despreocupada. Aos 18 anos já era chefe de escritório e arcava com a responsabilidade; depois a minha mulher disse para ir estudar. Comecei a namorar com 16 anos, ela era gerente de uma retrosaria e está reformada por invalidez. No liceu fui até ao curso de administração e comércio, hoje é a vertente profissional. Sou contabilista certificado, fiz o exame nacional em 1992.
Estou reformado, mas vou continuar até poder. Gosto deste ritmo, acompanhamento, aperfeiçoamento e aprendizagem contínua. Sempre tive uma queda para documentos e papéis, e tenho o meu filho Tiago comigo, de 40 anos. Já atende 80% das solicitações e temos esta equipa de sonho. A empresa foi fundada com um familiar, em 1998, depois de ter saído de um gabinete de um colega. Fazemos a contabilidade de uma centena de empresas do concelho do Cartaxo e de Lisboa. Nunca excedemos a nossa capacidade, porque o mais importante da nossa empresa é o cliente e o capital humano. Os clientes vêm cá ou eu vou lá, quando é preciso tratar assuntos mais delicados. Tenho clientes que trabalham comigo há 50 anos e para mim um cliente é um amigo. Temos de ter um trato fino para todas as pessoas que nos rodeiam, ser amáveis porque são elas que nos suportam. Ao longo da vida tive sempre essa filosofia – temos de ser verticais nas nossas decisões e sérios.
Trato as minhas funcionárias como se fossem minhas filhas. A primeira coisa que dou é uma chave. No total somos cinco, eu e o meu filho somos tudo, pai e filho, colegas, amigos e conselheiros. Temos uma listagem e verificamos se está tudo feito, pouco importa se foi feito de manhã, de tarde ou à noite. Todos têm a consciência da responsabilidade. O chefe não é patrão, é colega, e tenho conhecimento de que há empresários que não têm essa visão, mas a mim sempre me deram a chave. Quando saio àquela porta não falo de trabalho, temos um código deontológico e esse é sagrado. Uma das regras é a lealdade entre colegas. Entro nos gabinetes dos meus amigos todos, tenho de ser leal para, quando me deito, dormir descansado. Vim ao mundo para ser feliz, não para ser rico.
Consigo fazer contas sem máquina, mas esta geração, que tem tudo facilitado, se calhar tem dificuldade. Com 65 anos ainda tive coragem para fazer um investimento e mudámo-nos para aqui, para o número 35A da Rua Serpa Pinto. Precisámos de um posto de trabalho, mas quem vem não tem preparação. O ensino é muito sintético, a pessoa traz o conhecimento, mas não tem prática. Quando saímos da quarta classe sabíamos ler, escrever e contar e todos os dias havia uma redacção. Tenho pena de não ter mais tempo para ler. Íamos à Gulbenkian e trazíamos seis livros para 15 dias.
Quando me afastar do trabalho deve ser por um problema grave de saúde. Vou fazer o quê? Sentar-me nos bancos do jardim? Não tenho feitio para isso. Quando tenho tempo saio às 17h30, vou a casa, visto um fato de treino, calço umas sapatilhas e vou para o estádio correr e fazer preparação física com um amigo que foi instrutor dos paraquedistas. Tinha alguma habilidade para jogar à bola, mas saía do escritório às duas da manhã. Era tudo feito à mão e chegámos a estar dois dias sem ir à cama.
Na minha profissão quem não se adaptou vai ter grandes dificuldades. Todos os dias tenho de ler, a Ordem manda-nos informação diária. As tecnologias hoje são diferentes, algumas facilitaram tremendamente, outras tivemos de nos adaptar. Todos os dias aprendemos e a legislação fiscal está sempre a mudar. Há coisas que estão bem escritas, só que são difíceis de pôr na prática. O legislador por vezes faz a lei, mas não fez a reunião com as pessoas para ver onde vai ser aplicada. Já sabemos que temos de fazer o trabalho, mas às vezes três dias nos prazos faz uma diferença muito grande. Se nos atrasarmos um minuto o sistema fiscal emite uma multa. Considero-me uma pessoa séria e nunca tive problemas com ninguém. Temos serviços de contabilidade e fiscalidade, processamento de salários e estamos cá para aconselhar. Abrimos às 09h00 e fechamos às 18h30 de segunda a sexta-feira.