Almeirim perde fábrica de cenouras por inoperância, incompetências e organismos que nada resolvem
Pedro Ribeiro diz que lutar pelo mundo rural é lutar contra moinhos de vento, que há inoperância na gestão da água, que os organismos estatais nada resolvem e que parece que este é o país que as pessoas gostam de ter
O presidente da Câmara de Almeirim considera que a não instalação da fábrica de cenouras bebés no concelho deve-se “à total inoperância e incompetência de anos e anos em não olhar para o problema da água”. Pedro Ribeiro critica o funcionamento dos organismos do Estado em projectos importantes para o território quando o município encontrou uma solução inovadora para garantir a neutralidade hídrica, para não haver desperdício de água, como forma de contrariar a proibição de se fazerem furos de captação a sul do Tejo. “Concentramos organismos, deixamo-los cada vez mais afastados e burocráticos e depois nada se resolve”, salienta o autarca.
Pedro Ribeiro, lembrando o empenhamento que teve ao longo de oito anos para garantir este investimento, aponta para a necessidade de se tomarem medidas, salientando que se anda há anos a falar do Alqueva do Ribatejo e da necessidade de mais barragens. “Se a agricultura usasse águas de superfície os aquíferos não estavam assim”, comenta, alertando que, pelo que sabe, este é o primeiro investimento que não se faz por falta de água. “Se nada se fizer será o primeiro de muitos”.
Pedro Ribeiro realça que a Câmara de Almeirim fez tudo o que podia, respondendo em 2016 ao que a AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal solicitou e ao que o promotor queria. O presidente recorda que a autarquia aprovou o projecto em tempo útil e que falou com todos os organismos com quem tinha de falar, sobretudo com a Agência do Ambiente. O autarca revela que na última reunião do promotor com o Governo lhe foi dito que do lado sul do Tejo não obtinha as licenças para os furos e que seria melhor mudar de concelho, reconhecendo que um investimento de 100 milhões de euros não pode ficar parado por uma licença.
A proibição do Governo de se fazerem furos a sul do Tejo tem vários anos e segundo o autarca não se espera que mude, lembrando que “ainda antes de ser proibido furar sugerimos e foi aceite que a água que seria usada para as lavagens das cenouras fosse aproveitada para as regas da agricultura. Realçando que não manda nem na chuva nem nas leis do Governo, o autarca lamenta a perda da fábrica, mas ressalva que do ponto de vista agrícola é indiferente a sua localização tendo em conta que os agricultores da zona de Almeirim irão produzir para a empresa. Explica ainda que foi com uma organização de produtores do concelho que se desenvolveram os vários estudos do tipo de cenoura a usar.
Em jeito de desabafo, Pedro Ribeiro salienta que os organismos do Estado “não querem saber de nada. Aprovem ou não para eles é igual”. O autarca diz que anda a “defender há anos o dito mundo rural, mas parece uma luta contra moinhos de vento. É o país que temos e parece que as pessoas gostam muito disso”. A finalizar, sublinha que “se houvesse regiões nada disto seria assim, basta olhar para Espanha, mas não se quer. Por isso estamos como gostamos, pelos vistos”.