Entrevista | 29-09-2023 10:00

Afinal o comboio de Alta Velocidade pode passar em Alhandra e Vila Franca de Xira “sem fazer sangue”

Afinal o comboio de Alta Velocidade pode passar em Alhandra e Vila Franca de Xira “sem fazer sangue”
José Furtado é um dos técnicos envolvidos na conceptualização do HUB Alverca- Portela

O MIRANTE tem vindo a dar destaque às manifestações em Vila Franca de Xira sobre a quadruplicação da linha de caminho-de-ferro, que parece um projecto definitivo a confiar nas declarações dos responsáveis que já foram notícia em O MIRANTE.

A frase que foi manchete em O MIRANTE das sessões públicas promovidas pela Infraestruturas de Portugal (IP): “O comboio de Alta Velocidade não passa sem sangue”, diz tudo sobre o mau-ambiente que se viveu e justifica as manifestações como a que noticiamos na página ao lado. A agressiva metáfora do vice-presidente da IP, numa reunião com autarcas e população, acicatou ainda mais os ânimos quando tentou justificar os incómodos que a quadruplicação proposta iria causar à população, o que o próprio IP reconheceu.
Afinal parece que há uma solução alternativa que melhora a vida da população. O conceito foi apresentado ao Governo no âmbito do HUB Alverca-Portela e a solução foi entregue à Comissão Técnica Independente em Abril deste ano. Para dar a conhecer a solução às populações afectadas fomos ouvir José Furtado, técnico envolvido na conceptualização do HUB Alverca-Portela. José Furtado afirma que “a solução é barata e já está na mão do Governo há muitos meses”.

Como surgiu a solução que apresentaram ao Governo?
Vários membros da nossa equipa estão há muitos anos envolvidos no programa da Alta Velocidade (AV) e na ampliação aeroportuária de Lisboa, o que possibilitou o cruzamento de informação entre projectos e a optimização conjunta. A solução surgiu do confronto entre a colocação HUB aéreo-HUB ferroviário em Alverca e as soluções AV de Lisboa-Madrid e Lisboa-Porto de 2007 que, no essencial, se mantiveram até hoje.
Em termos gerais, conte-nos a solução que vai melhorar a vida em Alhandra e VFX.
Será construído um bypass na outra margem do rio com cerca de uma dezena de quilómetros. A ponte junto à fábrica da Cimpor será a da ligação AV Lisboa-Madrid, o que significa que o bypass per si só implica mais uma curta (800m) ponte.
A plataforma ferroviária será um fácil aterro de pequena altura, que até serve de dique de protecção da lezíria.
A solução de bypass em ferrovia é vulgar?
Cada caso é um caso. Normalmente, tem como objectivo contornar um obstáculo caro de vencer (túnel) e/ou articular com uma bifurcação (Y), a qual é feita no lado que tem mais espaço disponível. O nosso caso é muito favorável porque contorna o lado com obstáculo e ao mesmo tempo faz-se a “perna” de derivação para Madrid. É muito parecido com o que se fez em Abrantes com a derivação do Y para Espanha (Linha do Leste).
Estamos a falar de uma poupança de quanto?
No que respeita ao AV Lisboa-Madrid é eliminada a ponte Chelas-Barreiro (quatro linhas férreas e seis faixas rodoviárias), cujo custo global a preços de hoje rondará 3.500M€.
Já quanto ao AV Lisboa-Porto, a solução vigente é a que consta da nota técnica de Outubro de 2007 (nº Doc: O-GA-AD-IMP 0003-4) do hoje vice-presidente da IP, na altura confirmando o trajecto da G. Oriente directo à zona da Ota como o mais adequado, cujo custo foi então estimado em 1.404M€, a preços de hoje na ordem de 2.000M€.
Ora, o total do trajecto alternativo incluindo bypass (desde a Ota até Alverca-Lisboa) terá um custo no máximo até 500M€. O que significa que a nossa solução ferroviária poupa, em números redondos, 5.000M€.
A vossa solução é em bitola europeia, mas o Governo diz que a Alta Velocidade será em bitola ibérica.
A nosso ver, não adianta marchar em sentido contrário à restante Europa. A nossa solução global com o HUB ferroviário em Alverca com as duas bitolas resolve eficazmente a compatibilização entre a rede de Alta Velocidade (bitola europeia) e a rede de suburbanos /regional (em bitola ibérica). Os governos terão as mãos livres para escolher a evolução mais conveniente no momento.
Voltemos aos benefícios para a população de Alhandra e VFX. Podem ser mais claros quanto à origem e dimensão.
O resultado final será a soma de várias reduções. O que destacadamente mais contribui é todo o tráfego AV ser desviado para o novo par de linhas que estará do outro lado do rio, deixa de haver comboios que passam como setas na estação. Vejamos: na solução IP passa todo o tráfego AV actual mais o acréscimo. Na nossa solução, no trecho em causa o tráfego actual baixa.
Observemos agora a carga. Com a ponte Chelas-Barreiro os comboios de contentores para o norte entrariam em Lisboa, atravessariam a Gare do Oriente e passariam por Alhandra e VFX. Com a nossa solução a carga só atravessa o rio em Castanheira do Ribatejo.
Além disso, existirá a redução do desvio de carga do comboio para as barcaças entre os portos marítimos (Alcântara-Xabregas) e o porto fluvial de Castanheira do Ribatejo. A este propósito deve-se frisar que é a nossa sugestão da mudança de uso do mouchão que acabou por o viabilizar como depósito de areia dragada no indispensável aprofundamento do canal de navegação até Castanheira. No futuro, o tráfego ferroviário será menor e mais amigável.
E como será com a população entre Alverca e Lisboa?
Lisboa tem uma sorte única. Dispõe de um alongado/degradado mouchão (ilhota fluvial) que dista de “terra” cerca de 250m e que vai desde Alverca até praticamente à Expo. Todas as facilidades (exemplo: oleoduto jet fuel para Portela) e transportes (exemplos: metro-automático e AV) aproveitarão a mais-valia de ter um canal de mobilidade razoavelmente afastado da população.
O HUB Alverca-Portela disporá de um comboio-automático (ligeiro) igual ao que vai até ao aeroporto de Copenhaga. A linha é dedicada, o que significa que o tráfego do aeroporto não sobrecarrega as quatro linhas existentes entre Alverca e Lisboa.

“Queremos que a população possa conhecer a nossa solução”

Pelo que nos conta parece muito possível que não aconteça o tal “banho de sangue” pressagiado pela IP. Contudo, sabemos que a vossa solução aeroportuária foi excluída pela Comissão Técnica Indepente. Quais vão ser os vossos passos seguintes?
É para nós muito claro que a CTI ter colocado de fora a nossa solução (até antes de ter equipa) foi uma reacção em defesa do “sistema” ao verificar que temos a melhor solução global. É a que tem melhor relação custo-benefício, a que mais potencia o cluster aeronáutico, a que tem a pista mais eficiente e até um recorde (núcleo Portela) em abaixamento de ruído num aeroporto comercial.
Os benefícios da solução no capítulo ferroviário é mais um, entre muitos outros, onde a solução se destaca. Em termos processuais estamos a ultimar a reclamação que iremos apresentar às competentes entidades, nacionais e internacionais, em defesa do superior interesse público. Em termos de informação pública, a solução global que propomos é orientada pelo bem-estar da população e melhoria da sua qualidade de vida. Queremos que as pessoas a conheçam bem para a poderem julgar em consciência.
Desde muito cedo que criámos um site onde fomos colocando a evolução técnica da solução e as notícias mais relevantes. Para a fase CTI iremos ter um site próprio onde colocaremos, para conhecimento público, toda a documentação que entregamos à CTI, bem como a reclamação que iremos entregar às entidades e afins. Total transparência é o que nos guia.
Por fim, por estarmos na única região cujos representantes assumiram que não querem ter um grande aeroporto comercial, a participação da sociedade civil é relevante. Entendemos crucial que a população da região possa conhecer em mais pormenor a nossa solução global e todos os contributos serão bem-vindos. Iremos promover apresentações na região e muitos gostaríamos que O MIRANTE, como o meio de comunicação regional mais relevante, nelas possa activamente co-participar.

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