Identidade Profissional | 21-01-2025 21:00

Rosa Torre: a comerciante de Santarém a quem os clientes pedem um café e um conselho de avó

Rosa Torre: a comerciante de Santarém a quem os clientes pedem um café e um conselho de avó
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Rosa Torre é natural de Alverca do Ribatejo e está há 53 anos em Santarém, cidade onde abriu a pastelaria Avó Rosa

Rosa Torre passa os dias na pastelaria que gere há 20 anos na Avenida Dom Afonso Henriques, em Santarém, sempre de sorriso no rosto. Para a avó Rosa, como é conhecida, os clientes são amigos confidentes e as dores da idade são esquecidas pela rotina acelerada que começa antes dos ponteiros do relógio baterem nas seis da manhã.

É a tirar um café quase sem olhar para a máquina - não fizesse ela essa tarefa há 20 anos -, que Rosa Torre, de 69 anos, conta como trocou o negócio da venda de roupas pela padaria e pastelaria. “Olha, foi a ambição, sabes? Percebi que se trabalhasse bem este negócio dava mais dinheiro. Estou aqui há 20 anos e daqui vou para casa”, diz. Mas hoje, confessa enquanto bate com o porta-filtros para lhe tirar as borras de café, não é pelo dinheiro que ainda tem abertas as portas da pastelaria situada numa das principais avenidas da cidade de Santarém.
“Já estou há tantos anos nisto que já me habituei e agora é complicado para me ir embora porque arranjei amizade com as pessoas”, explica a avó Rosa, alcunha pela qual é conhecida e tratada pelos seus fiéis clientes, alguns confidentes. “Aqui desabafam que o dinheiro não chega. Muitos ganham bem, mas é muita coisa para pagar o que estes jovens têm que a gente não tinha no meu tempo”, reconhece. Mas no seu tempo, recorda, também não era fácil. Mãe de três filhos, pelos quais sente muito orgulho pelos percursos que traçaram, teve o primeiro quando era uma jovem de 15 anos. “Foi uma luta muito grande para conseguir chegar aqui, ter o que tenho. O que passei nesta vida... estes jovens que aqui se sentam, alerto-os para a realidade”, afirma.
É pela simplicidade na decoração e pelo cheiro a broas acabadas de fazer que a pastelaria da avó Rosa se destaca de todas as outras que vieram, muitas delas depois da sua. De mel, de nozes, ou amêndoas, de formato arredondado ou alongado, há broas caseiras para todos os gostos dispersas em tabuleiros à vista do cliente. “Já hoje as fiz. Cheguei às 20 para as seis da manhã, e pelas quatro e pouco vou-me embora que já são muitas horas disto”. A pastelaria é há muito a sua primeira casa, aquela onde passa mais tempo e à qual se dedica de alma e coração. “Eu gosto disto, todos os dias venho com vontade de trabalhar. Até tenho uma casa na praia, na Nazaré, mas só lá estive oito dias este ano”, diz em jeito de lamento Rosa Torre, que no segundo seguinte põe um sorriso para atender mais um cliente que entra no estabelecimento onde só há espaço para duas mesas e meia dúzia de cadeiras.

“Tenho de começar a pensar deixar isto”
“Oh avó Rosa tire aí um cafezinho”, pede-lhe junto à porta um cliente habitual. Muitos aparecem todos os dias à mesma hora. “Uns às sete já aqui estão para beber o café. Gosto de lhes dar conselhos, embora não os queiram muitas vezes ouvir. Digo-lhes para pensarem bem antes de se meterem em embrulhos. Noto que agora pensam que amam mas não amam ninguém, não sabem o que é o amor, porque esse é construído durante muitos anos. Eu já estou casada com o mesmo há meio século, por isso, sei bem do que estou a falar. Mas eles ouvem a 100 e sai a 200. Só quando caem de cabeça é que dizem que estiveram errados”, dispara a comerciante natural de Alverca do Ribatejo, dando aso a resposta pronta da mesa onde está reunido um grupo de jovens.
E por falar em amor, impossível é não reparar no que Rosa Torre sente pelo estabelecimento que gere numa rotina “tão activa” que a faz esquecer-se das dores da idade e de que podia já estar a gozar da reforma. Sente-se comprometida com os clientes, que também são a sua companhia de quase todos os dias. “Já me conhecem e sabem a minha maneira de ser. Quando chegam à porta já sabem se estou bem ou mal naquele dia”. É-lhe difícil dizer que vai fechar para descanso ou porque vai de férias. Mais difícil será dizer àqueles que a tratam e sentem como alguém da família que um dia vai fechar de vez. “Tenho de começar a pensar deixar isto, mas é difícil, é difícil”, remata.

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