Opinião | 19-02-2021 07:00

Poluição do Nabão: uma história sem fim à vista?

Uma reportagem da televisão de 14 de Fevereiro de 1974 mostra um gravíssimo incidente de poluição no Nabão que matou mais de 60% da fauna piscícola. Hoje a poluição continua e toda a gente sabe que a culpa é de uma ETAR de Ourém. Quem é que vai resolver o problema?

A procura de dados sobre a poluição do rio Nabão, em Tomar, conduziu-me ao Arquivo Histórico da RTP e à descoberta de um curioso programa emitido em 14 de fevereiro de 1974. Chamava-se o programa “Só há uma Terra” e era apresentado por Luís Filipe Costa, na altura um conhecido rosto da televisão.

O programa agora acessível através da internet incidia sobre um gravíssimo incidente de poluição, ocorrido dois meses antes, a 14 de dezembro de 73. Segundo estimativas da época, terá sido envenenada cerca de 60% da fauna piscícola do rio, sobretudo barbos. A origem do envenenamento era claramente de natureza industrial, apontando-se responsabilidades a uma fábrica de papel entretanto desaparecida, implantada a montante da cidade.

Perante a mortandade, com milhares de peixes flutuando à tona das águas envenenadas, gerou-se um amplo movimento popular de tomarenses, conseguindo colocar a salvo muitos exemplares. Guardados em tanques e uma vez passada a corrente tóxica, esses peixes voltaram ao rio, repovoando-o.

No remate desta curiosa reportagem televisiva, Luís Filipe Costa antevia que muita água correria debaixo das pontes da cidade, “antes de a situação se poder considerar normalizada’’.

Seguramente, nem ao popular apresentador, nem a ninguém ocorreria que quase meio século volvido a situação do rio Nabão continuasse longe de “estar normalizada”.

Hoje, a origem dos crimes ambientais é outra, mas a incúria continua igual. De há poucos anos para cá, prosseguem os incidentes de poluição, como se de uma novela de mau gosto se tratasse. O mais recente ocorreu no dia das recentes eleições presidenciais.

Sabe-se que a origem dos efluentes poluidores está numa ETAR do vizinho concelho de Ourém e também já se sabe como resolver o problema, bem como o seu custo aproximado: cerca de 15 milhões de euros, para outros não tanto...

Certo é que continua sem se saber quem paga e de onde virá o dinheiro para a intervenção na ETAR e para saneamento básico, com separação de águas pluviais em Ourém e Tomar. Do governo e da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) apenas se ouvem genéricas declarações apaziguadoras: o processo estará “a evoluir favoravelmente”. Mas não se vê nada. Fazem, pois, sentido as suspeitas dos que receiam que até às eleições autárquicas ninguém toque em assunto tão malcheiroso.

Entretanto, o Nabão sofre e é ameaçada a saúde pública. Quanta água vai ter de correr debaixo das pontes até `a resolução o problema? 47 anos já é mesmo muito tempo.

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