Alverca-Carregado-Azambuja-Alenquer é o maior polo logístico nacional
HUB Alverca-Portela promove uma revolução na abordagem logística que integra os modos aéreo-ferroviário-marítimo-fluvial-rodoviário de forma a que o conjunto seja melhor que a soma das partes. Será que os empresários foram informados? Os aeroportos só têm apreciáveis áreas logísticas e associadas atividades no seu entorno quando estão perto da cidade. Na Europa são poucos os casos. No longínquo campo de tiro de Alcochete, será um deserto. Não é por se ter um terreno de 1.000ha que a logística se implanta. É por se estar no sítio certo.
O terminal fluvial de Castanheira faz parte do plano estratégico da Administração do Porto de Lisboa (APL), desde meados da década passada e, através dele, a APL pretende desviar o tráfego da rodovia/aliviar a ferrovia no trajeto entre o porto marítimo (Alcântara-Xabregas) e a zona do Carregado. Assim, visa, estritamente, interligar as duas zonas por barcaças.
Isto é o que os empresários conhecem. O que ainda não lhes foi dado a conhecer é o que se propôs no âmbito do HUB Alverca-Portela.
A solução global que se propôs de HUB aéreo/HUB ferroviário /terminais-remotos na cidade/cluster aeronáutico, incorpora uma revolução logística-funcional que os empresários devem conhecer. Para poderem pesar os prós e contras das soluções. Para terem a informação concreta que lhes permite questionar e contribuir.
O que está na base da revolução logística do HUB Alverca-Portela é a potenciação do posicionamento geoestratégico na cadeia de transporte e o aumento da massa crítica. O que se propôs ao governo foi uma integrada abordagem de última geração, integrando todos os modos (aéreo-ferroviário-marítimo-fluvial-rodoviário) e os players privados e públicos. Uma visão em sintonia com a dos países europeus na linha da frente da logística integrada (Holanda e Bélgica).
Comecemos pelo posicionamento geoestratégico. Os empresários já sabem, pelos artigos publicados, que no âmbito do HUB Alverca-Portela foi avançada a solução de uma ponte-móvel para a Alta Velocidade Lisboa-Madrid e que a estação de Alverca ascenderá a primeira nacional em conetividade. No presente artigo é agora nossa preocupação complementar a informação da alternativa ferroviária com a vertente carga. Dar a conhecer que a nossa solução global inclui uma plataforma de transferência de carga entre as bitolas ibérica (linha do Norte) e a bitola europeia (linha mista passageiros-carga entre Lisboa e Madrid). E que essa plataforma integrará a deslocalização dos contentores da Bobadela e de Alverca (Tertir).
Observemos agora o aumento da massa crítica. A expansão gerada pelo HUB Alverca-Portela per si, somada com o facto de potenciar o maior polo logístico nacional e o cluster aeronáutico e, ainda, a plataforma de transferência de bitolas/parque de contentores, cria o volume necessário para o terminal de barcaças subir para o patamar short sea, com substanciais vantagens para a região e para o país. Neste cenário, além de se interligar duas zonas do estuário, o terminal passa a ser uma via fluvial de penetração (até 50km do mar).
Será a vertente que faz toda a diferença. Poderão haver transportes diretos entre Castanheira e os portos europeus na fachada atlântica ou vias de penetração como a do rio Garona (Bordéus a 90km do mar). Recorda-se que, 3 km a montante, existe ainda o cais que serviu para abastecimento de combustível à antiga central térmica do Carregado (recentemente demolida), o qual poderá retomar a atividade, agora no âmbito do projeto do hidrogénio.
Os empresários não conheciam esta revolução até agora. Mas a Comissão Técnica Independente (CTI) conhece-a. E muto bem, pois ela está destacadamente exposta na documentação que lhe entregámos.
A equipa de desenvolvimento está hoje consciente que são as grandes vantagens da solução HUB Alverca-Portela, em todos os capítulos, que são a razão da preliminar exclusão.
A logística é mais uma das provas. Vejamos, em concreto:
A CTI excluiu o HUB Alverca-Portela por esta solução não ter a ambição de ter uma reserva de 1.000ha para “cidade-aeroportuária” como tem a solução do HUB CT Alcochete (a sua preferida, como já o declarou). Analisemos o que, a nosso ver, já era um absurdo em 2007 (decisão CT Alcochete) e hoje ainda mais o é, como o tempo nos mostrou.
Passemos às métricas, aquilo a que a CTI foge como o diabo da cruz.
O novo aeroporto de Atenas, o último de raiz europeu, abriu no início do corrente século a 25km do centro. Em 2007 (o ano da avaliação LNEC), já tinha sete anos de operação e ainda não tinha criado sequer um m2 de qualquer cidade-logística no seu entorno. E hoje continua a não ter, apesar de ter processado no ano antes da pandemia quase o mesmo volume de passageiros que Lisboa.
Observemos agora os HUB europeus com movimento atual semelhante a Lisboa (30-35M). A dimensão das cidades-aeroportuárias é inexpressiva ou nem têm. Copenhaga não tem e está agora a planear 15ha, Viena tem 16ha, Dublin tem 10-15h e Berlim tem 10-15ha. Mesmo em grandes aeroportos como os de Madrid, Barcelona e até Frankfurt, elas são inexpressivas (até 15-30ha).
Os aeroportos só têm apreciáveis áreas logísticas e associadas atividades no seu entorno quando estão perto da cidade e conseguem misturar a logística do aeroporto com a da cidade. Na Europa são poucos os casos, quase só Amesterdão e Paris. E será também o caso de Lisboa com o HUB Alverca-Portela, pelo seu posicionamento no seio do natural polo logístico de Lisboa.
No longínquo campo de tiro de Alcochete, será um deserto. Não é por se ter um terreno de 1.000ha que a logística se implanta. É por se estar no sítio certo.
Vejamos por outro prisma.
Será que a CTI sabe que a margem norte concentra cerca de 80% da carga do porto marítimo?
E será que a CTI sabe que a região “Alverca-Carregado-Azambuja-Alenquer” é o maior polo logístico nacional? E que a iniciativa privada é a força do seu progresso, patente nas novas plataformas logísticas de última geração – as coladas Lisboa Norte e Castanheira do Ribatejo somando 150ha – que, junto com as já consolidadas, perfazem, em números redondos, uma área total de 1.000ha?
Será que a CTI pensa que vai somar a este polo logística outro de igual dimensão no campo de tiro de Alcochete? Ou será que o que realmente pensa, é fechar tudo o que existe e mudar para CT Alcochete?
Em termos de infraestruturas aeroportuárias já se sabe que é o que a CTI pensa. Nada aproveitar e fazer tudo de raiz, doa a quem doer.
Será que na logística pensa fazer o mesmo? Nada aproveitar e fazer tudo de raiz em CT Alcochete, doa a quem doer?
Tudo isto é um tão grande absurdo que nem sabemos como classificar. Mas uma coisa nós sabemos. Serviu para excluir a solução HUB Alverca-Portela.
*José Furtado é Engenheiro, faz parte da equipa que propõe como solução para o futuro Aeroporto Internacional de Lisboa a solução Alverca.