Funcionária da Câmara da Chamusca fala de assédio moral depois de estar meses a olhar para as paredes sem trabalho

Munícipe Isabel dos Santos, que também é funcionária da autarquia, foi à Assembleia Municipal da Chamusca colocar um conjunto de questões ao presidente da câmara e contar que esteve durante meses fechada nas piscinas municipais a olhar para as paredes e sem trabalho. Paulo Queimado, sobre este assunto, não lhe deu resposta.
Algumas semanas depois do presidente da Câmara da Chamusca, Paulo Queimado (PS), ter mandado encerrar os serviços numa sexta-feira para realizar um convívio de trabalhadores, no âmbito do Plano Municipal para a Igualdade e Não Discriminação, a munícipe Isabel dos Santos foi à assembleia municipal queixar-se de ter sido empurrada para as piscinas municipais durante meses, onde esteve a olhar para as paredes e sem trabalho. Na sessão que reuniu os autarcas das várias freguesias do concelho, e que se realizou a 29 de Abril, Isabel dos Santos falou de assédio moral e pediu contas sobre o modo de funcionamento do gabinete de apoio psicológico que o município terá em funcionamento.
“Sofro de problemas de depressão e ouvi dizer que existe neste município um gabinete de apoio para a saúde mental. Gostaria de saber os horários, onde se situa e quem lá está para dar apoio (…) Estive meses fechada na piscina municipal a olhar para as paredes, sem ter trabalho. Eu que enterrei uma filha há 22 anos e fui dar com a minha mãe morta há 10. Deixaram-me na piscina a olhar para as paredes sem trabalho. Há qualquer coisa que está errada neste gabinete de apoio (…) É sempre bom relembrar os mais distraídos ou os mais esquecidos que assédio moral é crime, assédio moral é crime”, disse, terminando a sua intervenção com palavras de incentivo à democracia e à liberdade. Paulo Queimado, sobre este assunto, foi parco em palavras, referindo apenas que “tem todo o gosto” em reencaminhar a munícipe ao gabinete que faz o acompanhamento psicológico dos funcionários.
Recorde-se que o encontro dos funcionários em dia de trabalho, a 11 de Abril, gerou muita polémica na vila com queixas de ex-funcionários do município por terem sido descriminados enquanto desempenhavam as suas funções. Um deles foi Armando Sousa Mira, que foi durante vários anos responsável pela Protecção Civil na Chamusca. “Quem tão mal trata trabalhadores, digo mesmo, massacra os mesmos com atitudes ao estilo da antiga ‘PIDE’, perseguições, escorraçados, postos de lado, com colaboração de bufos acarinhados por alguém, a levar e a trazer recadinhos, depois os trabalhadores são arrumados para os campos de futebol, motoristas de pesados de passageiros postos de lado, operadores de máquinas afastados a toda a força, animadores e coordenadores de cultura e teatros sem nada para fazer. (…) Eu fui, enquanto estive como Coordenador da Protecção Civil, ‘preso’ num gabinete por mim pensado, desenvolvido, montado e que serviu de referência para montar muitos no Ribatejo e alguns no Alto Alentejo (…)”, escreveu num comentário partilhado nas suas redes sociais.
O MIRANTE tem dado conta de alguns casos onde o município é acusado de discriminação, como o do encarregado-geral da autarquia, Fernando Brás, ou o do coveiro Jorge Sequeira, que trabalhou de graça e sem férias durante quase uma década. Fernando Brás foi o funcionário que Paulo Queimado “chutou” para um gabinete das instalações do campo de jogos da Chamusca há mais de sete anos. É o único encarregado geral da autarquia e foi para o campo de jogos gerir umas obras que iam começar naquele espaço, mas até agora as obras não começaram. Aparentemente foi só um pretexto para o retirarem do antigo gabinete onde desempenhava o cargo de encarregado-geral. Desde essa altura que faz a gestão do seu tempo de trabalho sem trabalhar.
Obras de milhões na escola sede com vários problemas
Isabel dos Santos, que é funcionária na Escola Básica e Secundária da Chamusca, apresentou durante a assembleia um conjunto de queixas relativamente às obras de requalificação que vão custar cerca de seis milhões de euros. Na qualidade de munícipe, Isabel dos Santos começou por apresentar problemas com um gradeamento onde têm sido colocados pedaços de madeira para tentar impedir que os parafusos se desapertem. “A máquina de picagem até hoje não está montada. Os telheiros são tão altos que as crianças ficam todas molhadas. Bebedouros onde as crianças para os utilizarem têm que se colocar de joelhos. Pelo contrário, no centro escolar têm de se colocar qualquer coisa por baixo dos pés para conseguirem beber água. O senhor presidente da câmara disse na última assembleia que foi fazer uma visita informal ao auditório da escola e convidou jornalistas. Mas não lhes deve ter referido que o auditório não possui casa de banho, nem uma rampa de acesso para crianças ou adultos com necessidades especiais. A própria porta da portaria entra água. Teve de se colocar uma placa para não estragar os computadores. Não existe sala para funcionários e não existe papel nem detergente para limpar o refeitório. A empresa que o concessiona não sabe de quem é a responsabilidade”, enumerou a munícipe que antes da sua intervenção mostrou uma série de fotografias aos autarcas presentes.
Paulo Queimado respondeu a Isabel dos Santos começando por afirmar que perante “este teatro poderia dizer várias coisas”. “Não reconheço na senhora Isabel Nicolau competências de engenharia civil ou arquitectura para falar das obras que estão a decorrer na nossa escola sede. Ainda falta um pavilhão, equipamentos informáticos… há uma má vontade da funcionária da câmara, que trabalha naquela escola, que desempenha as funções da forma que sabemos (…)”, disse.
