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O Cartaxo dos anos cinquenta

Exposição do Museu Rural e do Vinho evoca memórias de outros tempos

A taberna, a barbearia, a leitaria, a loja de modas e a mercearia são alguns espaços típicos do Cartaxo dos anos quarenta e cinquenta recriados na exposição do Centro de Promoção Vitivinícola da Quinta das Pratas. “Cartaxo de outros tempos... hábitos e costumes” evoca a época dos vestidos de chita, da barba feita à navalha, das quartas de café embrulhadas em cartuchos de papel pardo da mercearia e dos copos de vinho vendidos na taberna do Cartaxo, que Almeida Garrett tornou famosa em “Viagens na Minha Terra”.

Uma mesa comprida de madeira, dois bancos esguios e um jarro de vinho convidam a uma prova de tinto do Cartaxo e a dois dedos de conversa. Numa vitrina de madeira, instalada sobre o balcão, descobre-se a petinga, o toucinho, o queijo, salgados e tremoços distribuídos em pequenos pratos.Era assim a típica taberna dos anos quarenta e cinquenta do Cartaxo, lembrada na exposição “Cartaxo de outros tempos... hábitos e costumes”, que pode ser vista no Centro de Promoção Vitivinícola, na Quinta das Pratas.A um canto, sobre uma mesa quadrada, pousa um jogo de dominó e de cartas, que servia para matar o tempo entre um copo de “tintol ou bagaço”. As paredes são forradas com cartazes alusivos à festa brava e aos grandes ídolos desportivos da época. O futebol, que se escutava na rádio, servia já de motivo de conversa.Em 1843 já Almeida Garrett tinha tornado famosa a taberna cartaxense num dos capítulos de “Viagens na Minha Terra”. “À esquerda, duas mesas de pinho; à direita, o mostrador envidraçado onde campeiam as garrafas obrigadas de licor de amêndoa, de canela, de cravo (...)”, escreve.No armário da taberna alinham-se os copos de dois e de três decilitros, as medidas do vinho e as garrafas. Ao balcão, onde estão dois barris prontos a despejar, o lote vende-se a dois escudos. Na altura o vinho da terra já era famoso. “Que é um inglês sem Porto ou Madeira, sem Carcavelos ou Cartaxo?”, interrogava-se Garrett.Os maços de tabaco e caixas de fósforos, com mais de vinte anos, enchem o armário. Os materiais foram aproveitados da reconstituição de uma taberna já efectuada pelo museu.Um rádio antigo, que ainda permanece sobre o armário do estabelecimento, avariou algumas horas antes da abertura do museu. “É a preciosidade da taberna. Deixou de funcionar às 04h30 da manhã”, recorda Vítor Varela, funcionário do Museu. A BARBEARIA TAGARROPara montar a exposição, integrada no 17º aniversário do Museu Rural e do Vinho, a organização contou com a ajuda de munícipes de todas as freguesias do concelho. Só assim foi possível reconstituir a Barbearia Tagarro. No local de trabalho do homem que “faz as barbas, as raspa, corta ou apara”, está a característica cadeira e um armário com os instrumentos – navalha, máquina de cortar cabelo, pincel, escova e tesoura.Os nomes dos espaços foram inspirado em ilustres figuras da terra – Mercearia Maltieira, Barbearia Tagarro, Modas Marcelino e Taberna Serrazinha. A Leitaria Rossini, que deu lugar à moderna pastelaria, homenageia um antigo funcionário da câmara que efectuava as análises ao leite, na altura em que era vendido de porta em porta. No espaço reservado à leitaria expõem-se os utensílios de fabrico da manteiga e do queijo e lembra-se a mungição das vacas. Na mercearia há de tudo para vender. As tulhas de madeira de cereais estão cheias de feijão. As caras de bacalhau estão distribuídas por alguidares. Alinham-se garrafões de vinho do produtor a cinco escudos o litro. No balcão, onde não falta o livro dos assentos, há uma máquina de moer os grãos para as quartas de café vendidas em cartuchos de papel pardo e outra de fazer enchidos. Na loja de Modas Marcelina abundam alfinetes, agulhas, dedais, botões, atoalhados, fechos e colchetes. Os tecidos mais procurados são as sarjas, chitas e o cotim. O fiouco, o tecido usado antes de aparecer o polyester, vendia-se para fazer os fatos de ocasiões especiais. A fazenda de cetim de lã era usada pelas pessoas com mais posses. Os artigos eram comprados aos caixeiros viajantes que às vezes se juntavam nas lojas às dezenas.Até 23 de Janeiro de 2003, o Cartaxo de outros tempos pode ser revisitado de terça a domingo. Durante a semana das 10h00 às 12h30 e das 15h00 às 17h00. Ao fim de semana logo a partir das 9h30.Ana Santiago

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