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“A pediatria é uma vocação”

Teresa Gil Martins diz ter o privilégio de fazer aquilo que gosta

Teresa Gil Martins tem uma grande família de palmo e meio. São os “seus pequeninos”, as crianças que diariamente observa no seu consultório ou no hospital de Santarém, onde também exerce pediatria, especialidade que abraçou por, desde que se lembra, adorar crianças. “As crianças têm uma forma de estar, uma sensibilidade e uma espontaneidade que nós não conseguimos ter de forma nenhuma no relacionamento entre adultos”.

“A minha mãe era professora e isso de certa forma influenciou-me em termos de profissão. Lembro-me de ir muitas vezes com ela para a escola e sempre me habituei a estar com crianças”, diz Teresa Gil Martins, pediatra do hospital de Santarém e com consultório aberto em Almeirim, onde reside.Ainda em criança sonhava ser educadora infantil, mas já na adolescência a medicina tornou-se preferência. Quando teve de decidir o seu futuro profissional Teresa Gil Martins acabou por juntar o útil ao agradável – abraçou o curso de medicina e mais tarde a especialização em pediatria. “Hoje tenho o privilégio de fazer aquilo que gosto”.Para Teresa Gil Martins, a pediatria envolve muito mais do que gostar de crianças, apesar de esse ser o factor chave. “É quase uma vocação”, diz, acrescentando ter muitos colegas até gostam de crianças mas não fazem pediatria porque não gostam.“É preciso uma sensibilidade específica para se exercer esta profissão, já que o relacionamento médico/doente é diferente, os próprios sinais e sintomas são diferentes”, refere a pediatra, realçando também a necessária predisposição e disponibilidade para a qual muitos médicos “não estão para aí virados”.“Uma das coisas que os pediatras têm de perceber à partida é que as crianças têm um comportamento diferente e tanto são sinceras e espontâneas, a ponto de nos fazerem os maiores elogios, como também são capazes de chorar do princípio ao fim de uma consulta, o que além de ser cansativo torna difícil observá-las sob essas condições”, refere a pediatra.Apesar de adorar todas as crianças, os bebés são a “perdição” de Teresa Gil Martins e, ao contrário que se pode pensar, nem sequer são os doentes mais difíceis de tratar. Mas bonito mesmo para a pediatra é poder acompanhar uma criança desde bebé até à adolescência. “Vê-las crescer, desenvolverem-se até chegar à idade adulta é muito bonito”.Aí há também uma vertente paralela – “o relacionamento com a criança e com os pais faz com que estes «cresçam» também junto com os seus filhos”. Uma consulta pediátrica pode também transformar-se numa aula de formação – ensiná-los, por exemplo, a estarem preparados para as situações que se vão revelando à medida as etapas do desenvolvimento vão sucedendo.De acordo com a pediatra, há pais que a procuram no sentido de se relacionarem melhor com a criança, “porque não a entendem”. “É muito difícil para os pais verem um bebé chorar e não perceberem o que têm, porque os bebés não falam, não é?”.“Quanto mais ansiosa estiver uma mãe ao cuidar do seu filho mais o bebé fica ansioso”, alerta a pediatra, adiantando que muitas vezes a atitude da mãe reflecte-se no comportamento da criança.Mas nem tudo são alegrias na vida profissional da pediatra. Casos dramáticos, crianças em situações de risco, muitas vezes entre a vida e a morte, são realidades que muitas vezes marcam profundamente Teresa Gil Martins. “Os pais sofrem mas nós também sofremos muito, porque nos esforçamos para que as coisas corram bem e nem sempre isso acontece, o que nos deixa muito debilitados”, diz.Nessas situações Teresa Gil Martins diz sentir uma revolta muito grande. “Por muito que nos esforcemos há situações que nos ultrapassam e nos passam completamente ao lado, apesar de todo o empenho de uma equipa que trabalha em conjunto – médicos, paramédicos, enfermeiros”, diz, adiantando que “a medicina ainda não consegue milagres”. É por isso que muitas vezes a pediatra leva os problemas para casa. E chora.Situações drásticas que, em parte, são compensadas com o poder salvar a vida a muitas crianças, “uma gratificação que não tem preço”.A pediatria é uma profissão que requer disponibilidade total, física e mental. Trabalha-se por turnos, faz-se noites, não existem horários de refeições nem de descanso. Mesmo quando está de folga Teresa Gil Martins recebe inúmeros telefonemas de mães ansiosas ou preocupadas. “A única situação em que desligo o telemóvel é quando vou de férias. Nessa altura estou a tempo inteiro para a minha família”. Uma família que a pediatra considera maravilhosa, que lhe proporciona todo o apoio do mundo para dar sempre uma mãozinha à outra família, bem maior, que são os seus pequenos pacientes.Margarida Cabeleira

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