No seio amigo da Casa Pia,Onde os órfãos encontram um lar,Uma canalha rede de pedofilia,Nasceria para os condenar,A humilhações que ninguém sonha,E nos faz corar de vergonha.Corar de vergonha e de revolta,Mas todos somos afinal culpados,De permitirmos canalhas à solta,E com seus crimes amnistiados,E das brandas leis da democracia,Escarnecem os bi-bis da pedofilia.Todos somos mais ou menos culpados,E vamos com amargura pagar,Pelos meninos por eles violentados,Seus apelos, todos recusaram escutar,Sabiam todos, reitores e ministros,E todos calaram estes crimes sinistros.Em décadas de podres encobrimentos,Medo, vergonha e pudor dos queixosos,Compadrios no infligir de sofrimentos,Para deleite de sacanas poderosos,A coberto de engrenagem tamanha,Sumiram-se provas de forma estranha.E veio à luz apenas a ponta do véu,Do véu negro de luto e escuridão,Que escurece a alma de quem sofreu,Este pesadelo, esta amarga traição,Que surgiu na estrada do destino,Daquele a quem proibiram ser menino.Em tempos, sem réstia de esperança,Longa noite sem legítimas opções,Na alma incrédula de cada criança,Despojada de sonhos e de ilusões,E tão “boa” gente que afinal sabia,Da ditadura pedófila da Casa Pia.Alguém importante vai ser descoberto,Mas nada de grave lhe vai acontecer,E agora que estávamos tão perto,De toda a trama ficarmos a saber,Vai de certeza a verdade ser omissa,E ficar tudo em segredo de justiça.Tudo entregue aos senhores juizes,E passamos a dormir descansados,Todos voltamos a ser felizes.Mas os que foram molestados,E vítimas desses porcos tiranos,Não podem esperar vinte anos,E os que julgam em nome do povo,Sem que às vezes o povo queira,Deixam tudo prescrever de novo,Para que a culpa morra solteira.