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“A gente ganha tão poucochinho”

Trabalhadores, reformados e pensionistas afectos à CGTP manifestaram-se em Santarém

Francisca Dimas, Maria de Lurdes e Rosália Borlinhas vieram na tarde de sábado do Couço até Santarém para manifestar de viva voz a sua indignação contra o novo pacote laboral e contra os aumentos das pensões e do salário mínimo previstos pelo Governo.

“Vim para lutar por aquilo que a gente precisa. Como é que não hei-de vir se eu não ganho sequer 38 contos de reforma e se o aumento é só de 7,5 euros? Ainda por cima na nossa cidade gasta-se tanto em medicamentos”, atira-nos Francisca Dimas, 68 desembaraçados anos, uma operária agrícola aposentada que deu os melhores anos da sua vida ao trabalho nos campos do sul do distrito.São três e meia da tarde e uma pequena multidão aglomera-se junto à Igreja de Santa Clara, em Santarém, pronta a marchar sobre o Largo do Seminário, onde alguns dirigentes sindicais da CGTP irão discursar contra a política do Governo e incentivar as hostes a aderir à greve geral de 10 de Dezembro.Maria de Lurdes Dias Carlos tem 59 anos e também veio do bastião comunista do Couço, no concelho de Coruche. “Estou aqui para ajudar a tirar este Governo de lá, mas era em Lisboa que havíamos de estar. A gente ganha tão poucochinho. Porque é que a gente não ganha um bocadinho mais e eles um bocadinho menos?”, questiona agressiva, enquanto empunha uma bandeirinha vermelha distribuída pelo sindicato da função pública do sul e Açores.Ao todo, são entre duzentos a trezentos manifestantes, na sua maioria pessoas que já ultrapassaram os cinquenta anos. Embora também se vejam jovens e até crianças. A maior parte veio em camionetas de excursão de Abrantes, do Couço, de Torres Novas. Na zona vêem-se alguns agentes da PSP, que se encarregarão de minimizar os impactos no trânsito durante a marcha. Valdemar Henriques, coordenador da União de Sindicatos de Santarém, vai coordenando as coisas e diz-nos acreditar que a greve geral de 10 de Dezembro vai ter boa adesão apesar da ausência da UGT, até porque, na sua óptica, os motivos são mais do que justos. Para o dirigente sindical, os aumentos previstos pelo Governo degradam o poder de compra dos pensionistas e dos trabalhadores que auferem baixos salários. E a lei de bases da Segurança Social pretende “empurrar certas camadas da população para o sistema privado, alimentando a lógica das seguradoras privadas”.Sem recurso a uma linguagem tão rebuscada, Rosália Borlinhas vai mais longe: “Estamos aqui para lutar pelos nossos filhos e pelos nossos netos”. Uma mulher que diz ter uma longa história de luta, nos tempos em que era operária agrícola. “Lutei muito e nunca tive medo. Enfrentei sempre os problemas”, diz-nos a manifestante que veio num dos dois autocarros que partiram da vila do Couço.Igualmente de longe veio João Evangelista Laranjo. Mais propriamente da vila do Tramagal, concelho de Abrantes. A presença em Santarém foi motivada por várias razões, mas principalmente contra o pacote laboral. “Acho que vale a pena perder um sábado á tarde para estar aqui. Devemos aderir à greve geral e lutar o mais que pudermos para não nos tirarem aquilo que já está adquirido”, diz o guarda-nocturno do agrupamento escolar do Tramagal, acrescentando que se há crise “não devem ser os que ganham pouco que têm que a pagar”.Populares contra a greve...A comissão política concelhia de Santarém da Juventude Popular pronunciou-se recentemente contra a greve geral convocada pela CGTP para o dia 10 de Dezembro, considerando que esse tipo de iniciativas adia a retoma da economia do país. “Pela nossa parte recusamo-nos a fazer greve. Entendemos que se a greve é um direito, trabalhar e produzir são um dever”, afirmam.“De que nos vale ter empresários empreendedores, um governo empreendedor, quando temos sindicatos inconsequentes?”, questionam ainda os jovens populares, acrescentando que “faltam trabalhadores empreendedores, cuja iniciativa não seja nivelada pelo facilitismo que a greve proporciona, mas pela exigência de uma discussão aberta e séria, comprometida, de ambas as partes(...)”.Também a concelhia de Ourém do CDS/PP tomou posição contra a greve geral, defendendo que os trabalhadores democrata-cristãos “devem reagir à lógica da ‘guerra sindical’ com harmonia laboral entre empresários e funcionários, e à greve geral com trabalho geral”.... e Bloco a favorO secretariado distrital do Bloco de Esquerda “apoia inequivocamente” o combate ao pacote laboral – que considera uma “violenta ofensiva do governo e do patronato” - e a defesa de “políticas salariais e sociais justas”. Segundo alegam os bloquistas, “a vingar esta iniciativa governamental, as empresas poderiam dispor do tempo do trabalhador quando muito bem entendessem, sem qualquer respeito pela sua vida pessoal e familiar” e “o poder das empresas sobrepor-se-ia ao dos próprios tribunais, no caso dos despedimentos”.“Para travar o passo a esta ofensiva sem precedentes”, o Bloco “apela a uma ampla participação na greve geral” de 10 de Dezembro “e a uma grande mobilização contra o pacote laboral2.

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