“A boa arquitectura de hoje é o património de amanhã”
Especialistas deixam pistas para o futuro do Campo Infante da Câmara
Alguns técnicos de arquitectura e engenharia querem que a requalificação do Campo Infante da Câmara, em Santarém, não imponha restrições à criatividade dos projectistas. O limite máximo de três pisos, imposto pela câmara, para os equipamentos a construir mereceu alguns reparos. A proibição de urbanizações naquele espaço municipal também foi alvo de discordância.
Algumas limitações a que está sujeito o Plano de Pormenor do Campo Infante da Câmara, actualmente em fase de concurso público, não agradam aos especialistas que na noite de quinta-feira reflectiram sobre o futuro daquele espaço nobre da cidade de Santarém, actualmente votado ao abandono. No auditório do Instituto da Juventude, com a lotação quase esgotada, ficaram os recados e conselhos à autarquia, representada ali pelo seu presidente e por vários vereadores da maioria e da oposição. A organização foi do movimento cívico Santarém 21.Em causa está sobretudo a proibição de construção para habitação naquele terreno municipal com cerca de dez hectares e também a imposição do limite máximo de três pisos para qualquer dos vários equipamentos previstos. O engenheiro civil Leonel Martinho do Rosário, que reside e trabalha em Santarém, reconhece que o Campo Infante da Câmara é uma área “com potencialidades extraordinárias” mas que “tem de ser bem tratado”. E nesse capítulo acha que limitar a construção ao máximo de três pisos “é cercear a criatividade”. Para tornar aquele espaço uma referência da cidade, diz, “não se pode ter essas baias e essas limitações”, sob o pena de “o resultado ser pequeno”.Para o arquitecto César Ruivo, que trabalha para a Câmara de Torres Novas mas é um conhecedor da realidade urbanística de Santarém, constitui também um erro proibir a construção para habitação, alegando que a área prevista para espaços verdes é demasiada e poderá provocar um efeito contrário ao pretendido.Ou seja, em vez de potenciar o local como “espaço activo e animado”, poderá torná-lo um espaço “demasiado aberto”, de “desencontro”. Para César Ruivo, o Campo Infante da Câmara deve assegurar “um ciclo diário de vida dilatado”, dotado de equipamentos vocacionados para a cultura e o lazer que lhe garantam a vida, “por exemplo, entre as sete da manhã e a meia-noite”.“Não vejo que para se garantir qualidade e desafogo se tenha que ir para uma ocupação do solo tão rarefeita”, argumentou, revelando que a área de construção é de apenas 1,5 hectares num terreno que tem cerca de dez hectares.“JÁ HÁ HABITAÇÃO QUE CHEGUE”Na mesma linha se pronunciou o arquitecto Carlos Guedes de Amorim, dando como exemplo o caso do Parque Eduardo VII, em Lisboa, onde a imensa área verde nem por isso o tornou um local de fruição para as pessoas, estando hoje associado a actividades marginais e pouco recomendáveis. “Estamos a falar de dois hectares de área verde porquê? Para as pessoas fazerem o quê?”, questionou. O técnico só diverge de César Ruivo ao não concordar com a construção de urbanizações no local - “já há habitação que chegue no Sacapeito”.Guedes de Amorim recordou ainda que o programa do concurso público lançado há meses acaba por ser uma cópia, com poucas alterações, do plano que elaborou para o local e que inclusivamente foi aprovado no anterior mandato pela câmara municipal. As novidades são a integração de uma ciclovia e a área verde de 20 mil metros quadrados.Essas linhas gerais com algumas condicionantes não agradam na totalidade a César Ruivo, que acha que os projectistas deviam ter liberdade criativa para fazer do local um marco da arquitectura moderna, impondo “uma imagem de marca não só no contexto regional como a nível nacional”. “Há ali excelentes condições para desafiar a inovação de conceitos”, defendeu. Como exemplo sugeriu a construção de uma torre, nas traseiras do Campo Chã das Padeiras, que marque a paisagem em redor. “Fazer boa arquitectura é fazer bom património para amanhã”, reforçou o arquitecto que ainda não decidiu se vai apresentar um projecto, devido precisamente às limitações impostas.Pelo meio dos elogios deixados pelos oradores à câmara, pelo lançamento desse plano de pormenor e de mais sete – que, quando concluídos e em vigor, vão fazer com que metade da cidade fique abrangida por esses instrumentos de ordenamento urbano –, Guedes de Amorim sugeriu ainda à câmara que constitua um júri com figuras de renome a nível nacional e que para a construção dos equipamentos fosse aberto um concurso limitado “entre arquitectos de nomeada”.Durante o debate foi ainda abordado o Plano de Pormenor para o Largo Cândido dos Reis, uma zona central da cidade para as imediações do qual várias vozes defenderam a construção de uma “magna praça”.
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