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Ramalho Eanes ao lado de Teresa Calçada, directora da Biblioteca e promotora do evento

O general que gosta de poesia

Ramalho Eanes falou dos seus livros na Vila da Marmeleira

Os livros que Ramalho Eanes folheou alteraram-lhe a vida. Fizeram-no galgar as barreiras de uma infância vivida numa pequena povoação da Beira, aproximaram-no da igreja e da política e deixaram ainda espaço para o sonho.

A convite da Biblioteca Popular da Vila da Marmeleira, Rio Maior, o general, acompanhado da esposa, Manuela Eanes, falou das memórias dos seus livros. No sábado `tarde, dia 15 de Março Mário Soares será o protagonista da iniciativa “os presidentes falam de livros”. À semelhança do primeiro encontro sobre livros, que trouxe à Casa do Povo da Vila da Marmeira Jorge Sampaio, o espaço voltou a encher-se. Ramalho Eanes nasceu no interior do país, numa pequena povoação da Beira, “que prolonga o Alentejo”, Alcains. Crescer numa cidade pequena é interessante, mas difícil porque muitas são as barreiras. Só os livros o ensinaram a derrubá-las.Teve uma educação religiosa, mas a convivência com um padre mal disposto fê-lo afastar-se da igreja. Voltou anos depois por causa de um livro que lhe mostrou que afinal “o Novo Testamento não tem um Deus furibundo”.Ao longo da sua vida militar conviveu num ambiente machista. Foi um livro de biologia que lhe mostrou que assim não devia ser. Afinal as mulheres têm o dom de dar vida. “Biologicamente as mulheres são seres superiores. Não há nada mais belo - nem a pintura – do que o sorriso de uma mãe quando olha um filho”, ilustra.O general nasceu num tempo em que a política era só para alguns. “É também um livro que demonstra que a vida, os sonhos, as necessidades só se podem realizar através da política”.O general falou da sua experiência nos quartéis e do que os livros o ensinaram. Sempre tentou cumprir a máxima de Aristóteles: “Só se sabe comandar quando se sabe obedecer”. É também nos livros que ainda se debruça para perceber os grandes conflitos do mundo e os caminhos que Portugal deveria seguir.Enquanto capitão, ainda jovem, viajou algumas vezes para o Brasil para jantares com protocolo. “Nunca tive pejo em pegar num livro para saber a que horas haveria de chegar”, confessa. Quando os filhos atravessavam a fase complicada da adolescência também foi nos livros que procurou conselhos. “Os livros são a única porta aberta sem fechadura que temos na vida. Permite-nos visitas guiadas ao nosso país ao nosso passado e à nossa história”.Hoje existe à disposição de todos uma infinidade de livros de história dos mais baratos aos mais caros. Aconselha a visita à “História concisa de Portugal” através das páginas escritas por José Hermano Saraiva para perceber porque “voltámos a esta nesga de terra debruada de mar", como escreveu Torga.Também se pode experimentar ver o país pelos olhos de um poeta, “que mantém a capacidade de olhar o mundo com olhos extasiados”. Como Torga descreveu o Ribatejo e o Convento de Almoster. Ou como Eugénio de Andrade que “aprendeu a amar as casas brancas pintadas de cal”. E até mesmo Gomes Freire. Manuel Alegre e Natália Correira são poetas que o impressionaram, não por serem os melhores, mas os seus preferidos.Os livros fazem com que se exercite a mente. “Os livros são um ginásio, mais barato e com todos os equipamentos”.Ana Santiago
Ramalho Eanes ao lado de Teresa Calçada, directora da Biblioteca e promotora do evento

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