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Directamente da escola para a política

Na Barquinha de Vítor Pombeiro

Filho de peixe sabe nadar, diz o ditado, e Vítor Pombeiro não quis desvirtuar a voz do povo. Embora o pai tenha sido médico e ele tenha preferido cursar advocacia, acabou por cumprir a sina popular da hereditariedade através da política. E, tal como o pai, chegou a presidente da câmara. Foi em 1997. Inesperadamente, diz ele, mas talvez não tenha sido bem assim. Afinal o jovem autarca passou dos bancos da escola directamente para as bancadas dos órgãos autárquicos sem paragem em qualquer outra actividade.

Aos 33 anos, Vítor Pombeiro é um dos mais novos presidentes de câmara em funções no país. “O meu vizinho da Chamusca, o Sérgio Carrinho, já era presidente de câmara e ainda eu andava na escola primária”, diz com humor. Mas, apesar da comparação, não se pode dizer que o presidente de Câmara de Vila Nova da Barquinha seja um novato nas lides autárquicas. Aliás, até à data essa foi a única actividade profissional que conheceu. Vítor Miguel Martins Arnaut Pombeiro entrou para a política activa aos 19 anos, quando foi eleito para a Assembleia de Freguesia de Vila Nova da Barquinha, e a partir daí nunca mais parou. Foi vereador na Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha e chegou a presidente do município onde nasceu e cresceu em Dezembro de 1997. Esse trajecto impediu-o até à data de exercer advocacia, área em que se formou. “Não tive tempo, mas está nos meus planos quando sair da política”.Filho de uma professora e de um médico, já falecido, que também foi presidente da Câmara da Barquinha, Vítor Pombeiro fez a escola primária e o ciclo preparatório na vila, com excepção da terceira classe que o levou até Marinhais, onde a mãe fora colocada. O percurso escolar conduziu-o depois até ao Externato de Santa Bárbara em Tancos, ao Colégio Andrade Corvo em Torres Novas e à Escola Secundária do Entroncamento, antes de rumar à Universidade de Coimbra para cursar Direito.“Fui sempre um bom aluno até chegar a Coimbra, aí as coisas tornaram-se mais exigentes e fui apenas um aluno mediano”, confessa. De qualquer forma o curso foi concluído em tempo útil e os estudos nunca o impediram de participar nas actividades mais esperadas pelos estudantes ao longo do ano. “A semana da Queima das Fitas era sagrada, sobretudo o dia do cortejo, que era trágico”, conta.Mas a ligação às raízes permanecia intocável. Até porque à data já era vereador do município da Barquinha. E com pelouros. “Era muito difícil conciliar a actividade autárquica com o curso”, diz. Em 1997, o convite para encabeçar a lista do PS que concorreu à câmara apanha-o de surpresa. “Foi uma coisa que surgiu muito rapidamente e nem tive muito tempo para pensar, mas confesso que hesitei um bocadinho”.A decisão tomou-a sozinho, baseado na sua máxima de que a vida não deve ser muito planeada e que “isto há-de ser o que tiver de ser”. A mãe, “crítica atenta” do seu trabalho, só soube quando já não havia hipóteses de retorno. E o destino, como alguns lhe chamam, levou-o à cadeira presidencial, fruto de um conjunto de circunstâncias favoráveis, como a divisão que reinava na oposição. Vítor Pombeiro define-se como homem “um bocado fechado” e de opções convictas, muitas vezes tomadas contra a corrente dominante. Assim se explica que tenha decidido ser adepto do Futebol Clube do Porto muito antes dos sucessos europeus e nacionais, numa terra onde só haverá mais três ou quatro admiradores dos “dragões”. Ou que tenha decidido filiar-se no PS quando o partido conheceu o seu maior revés eleitoral de sempre, com Almeida Santos à cabeça, nas legislativas onde Cavaco Silva alcançou a sua primeira vitória e onde o fenómeno PRD emergiu. Devido ao seu carácter, Vítor Pombeiro não é político para grandes discursos ou para acções de grande mediatismo mas de pouca substância. “Estou num lugar essencialmente executivo, que deve ser julgado pelo trabalho que se faz e não pelas aparências ou pelas palavras bonitas que se possam proferir. Esta é a minha maneira de ser e tenho conseguido compatibilizá-la com o cargo que exerço”. Mesmo que às vezes tenha de enfrentar críticas injustas derivadas desse trabalho. “As pessoas por vezes não compreendem os incómodos que as obras provocam, mas já aprendi que depois no final acabam por dar o braço a torcer”.O jovem autarca vive intensamente a sua actividade autárquica e quem fica a perder é a família e os amigos. “As funções são muito absorventes e não me consigo desligar delas”, diz, enquanto tira do bolso do casaco uma série de papéis que lhe servem de memorando. Os poucos tempos livres são essencialmente dedicados à esposa e ao casal de filhos – um menino de 3 anos e uma menina de 7 meses. À leitura dá pouca atenção, com excepção dos jornais, que colecciona e que por vezes motivam as reclamações da esposa. “Sou um bocado desorganizado e às vezes é uma guerra lá em casa. Guardo coisas que depois já nem me lembro onde as pus”. Tal como já não se recorda da última vez que foi ao cinema, muito provavelmente em Coimbra. Não tem passatempos preferidos e o único ritual que admite é o de seguir atentamente os jogos de futebol do F. C. Porto, geralmente em convívio com amigos. “Mas sou um mau atleta e hábitos desportivos tenho muito poucos”, a não ser mandar mensagens para os amigos benfiquistas sempre que o “glorioso” encalha num qualquer campo do país.Autarca desde os 19 anos, Vítor Pombeiro irá certamente continuar a acompanhar o seu FCP, a coleccionar jornais ou a adorar a sua terra. Mas uma coisa está garantida: o futuro a médio e longo prazo não vai passar pela política activa. “Não tenho grandes ambições nessa área a não ser a de desempenhar bem o cargo de presidente de câmara na terra onde a minha família tem as suas raízes”. E até quando vai ser isso? “Como já disse, não faço planos a longo prazo, mas seguramente que não me vou eternizar no poder. Tudo tem o seu limite e julgo que 12 anos dá perfeitamente para se realizar obra e para se poder fazer um balanço positivo entre o antes e o depois. Mas tenho noção de que há ainda muito por fazer”.João Calhaz

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