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Vítor Padinha comemora 30 anos de futebol dentro do campo

Aos 41 anos ainda não decidiu quando vai arrumar as botas

Vítor Padinha, 41 anos, comemora 30 anos de futebol consecutivos e é um dos jogadores mais velhos no activo. Em três décadas só viu um cartão vermelho e por engano do árbitro. No domingo, vai ser homenageado antes do derby Samora-Benavente, mas garante que não será o fim. “Jogarei até que as pernas me deixem”, refere o atleta que é um campeão dentro e fora do campo.

Vítor Padinha, qual é o segredo desta longevidade?O segredo é o gosto pelo futebol, o descanso e uma vida regrada.Nunca fumou, não bebe álcool e alimenta-se bem…Nunca fumei. Como bem e bebo o meu copinho de vinho ou o meu Whisky, mas sempre com regras. Em 30 anos, raramente faltou a um treino. É fundamental o rigor?Claro. Se não treinarmos bem, teremos muito mais dificuldade. O trabalho é a regra de ouro para se alcançar alguma coisa na vida.Treina e joga com rapazes que têm menos 20 anos e idade para serem seus filhos, nota-se a diferença?Só no arranque…(risos). Se meterem uma bola a 20 metros, os jovens chegam primeiro, mas depois consigo recuperar a bola. Ainda faço tudo o que eles fazem e com a experiência aprende-se a gerir melhor o esforço e a ocupar melhor o terreno.Treina sempre no grupo da frente?É verdade, ando sempre à frente para impor o ritmo e nunca me senti mal.Para além do aspecto físico, a cabeça também conta muito…Estar bem mentalmente é fundamental. Ao longo da minha carreira poucas vezes fui suplente, este ano aconteceu e senti-me triste. Mas respeitei o treinador, mesmo sentindo injustiça, e continuei a trabalhar da mesma forma e à espera duma oportunidade. É preciso humildade?Temos de ser humildes e perceber que o treinador é que manda, mesmo que não faça as melhores opções.No balneário tem uma alcunha?Sou o velho…mas não levo a mal. Os mais novos sempre me respeitaram.Já programou o dia em que vai arrumar as botas?Não penso nisso sequer. Irei jogar até ter pernas e sentir prazer no futebol. Não quero bater nenhum recorde, quero gozar o gosto da prática do futebol.Qual foi o melhor momento da sua carreira?Quando fui campeão nacional de juniores pelo Sporting.E a maior decepção?Ter jogado apenas um mês no Benfica. Em jovem, ainda antes do Sporting, fui convidado para ir para a Luz, assinei contrato, joguei um mês e voltei a Alhandra porque o treinador não me quis. No ano seguinte fui para o Sporting.É Sportinguista?Não sou do Benfica.O seu irmão Paulo Padinha foi mais longe, jogou nos seniores do Benfica e foi internacional…Alguns amigos dizem que o Vítor era mais completo.Não. O Paulo era melhor jogador que eu. Tinha uma técnica apurada e era um excelente avançado. Teve azar com as lesões, podia ter feito uma grande carreira.E o Vítor também…Tive algumas oportunidades, mas não consegui. Sempre fui um jogador que trabalhou para a equipa e dava menos nas vistas que outros colegas. Estou satisfeito com o que alcancei.Chegou a ser profissional?Fui no Lusitano de Évora, mas foi o pior ano da minha carreira. Sempre trabalhei, desde os 18 anos, e não me sentia bem sem fazer nada. Só a jogar futebol.Ganhou bom dinheiro no futebol?Ganhei algum, mas nunca fui muito bem pago. O meu melhor salário foi como profissional em Évora (mil euros) em 1989. Sempre ganhava mais no futebol que no emprego.Hoje joga por amor à camisola no Samora onde esteve mais de 10 anos?Temos um pequeno apoio e acho bem porque o clube não podia continuar a pagar ordenados como pagou. Assim tem as contas em dia e está estabilizado.Sente mágoa por não ter o seu Samora nos nacionais?Gostava e a terra e o clube têm estruturas para isso, mas percebo os directores que têm muita dificuldade para manter o clube nos nacionais. É uma pena porque temos boas condições. O Padinha é uma referência na região. Sente isso? Felizmente. Sempre fui respeitado e acarinhado por jogadores, árbitros, directores e público. Ainda hoje, quando chegou a um campo do distrital, as pessoas reconhecem-me e são simpáticas comigo. Joguei em vários clubes da região onde ainda sou reconhecido como um amigo.É uma autoridade dentro do campo?Não. Há um respeito e admiração dos mais jovens quando sabem a minha idade. Eu procuro compensar com a minha forma de estar em campo e com os conselhos que lhes dou.Ao longo de 30 anos, só viu um cartão vermelho. Como é que conseguiu?Procurei ser sempre muito correcto com o árbitro e os adversários. Todos erramos e temos de aceitar o erro com tolerância. Só fui expulso em Almeirim e foi injusto. O árbitro auxiliar enganou-se e marcou ponta-pé de baliza quando era canto. Virei-lhe as costas e disse um palavrão que não era para ele, mas ele chamou o árbitro que me expulsou. Depois conversei com ele e só tive um jogo de castigo, quando o vermelho directo dava no mínimo dois jogos.Qual foi a maior injustiça que sentiu?Quando fui acusado de ter falhado um penalty de propósito num jogo em Samora contra o Futebol Benfica numa altura em que ainda podíamos subir de divisão. Disseram que falhei porque já estava comprometido com o Fanhões. Foi muito injusto. Está preparado para continuar no futebol, fora das quatro linhas?Já estou a treinar os miúdos das escolas do Samora e já treinei os juniores. Tenho um curso de treinador de Nível II e espero transmitir os meus conhecimentos como treinador.

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