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Confraria da Cortiça defende aumento da área de montado de sobro quase para o dobro

Responsáveis lamentam "desprezo total" a que está votado o sector
O director da Confraria da Cortiça quer aumentar a área de sobreiros em Portugal quase para o dobro e propõe-se retirar do "esquecimento total" uma riqueza que corresponde a três por cento das exportações nacionais. João Posser de Andrade, 65 anos, que além de líder dos confrades é produtor de cortiça, defende que dos actuais 700 mil hectares ocupados pelo montado de sobro se devia aumentar para 1,2 milhões de hectares (mais 500 mil).Feitas as contas, a área ocupada pelos sobreiros passaria a ser de aproximadamente 13 por cento do território nacional. Se Portugal já é o maior produtor de cortiça do mundo, em quantidade e qualidade, esse aumento atiraria o país para um patamar ainda mais elevado.Ao contrário das riquezas naturais normalmente contabilizadas nas tabelas dos países, como o petróleo, gás natural, carvão ou outros minerais - que se esgotam e são as maiores fontes de poluição - a cortiça é um produto renovável e sustentável do ponto de vista ambiental, contribuindo para combater o aquecimento do planeta através do consumo de dióxido de carbono. Por essa razão, alguém um dia chamou-lhe "petróleo verde".Actualmente, garantiu Posser de Andrade, em declarações à agência Lusa, "a cortiça constitui o dobro da riqueza produzida pelo vinho do Porto". Isto, apesar do "desprezo total" a que diz ter vindo a ser votado o sector suberícola (cortiça). Como exemplo desse "abandono" por parte dos sucessivos governos, aponta a inexistência de um "departamento oficial para tratar da questão da cortiça"."O Terreiro do Paço [praça de Lisboa onde se concentram vários ministérios] não tem noção do valor que a cortiça já tem hoje em dia e do que poderá vir a ter", diz o líder dos confrades, proprietário de uma herdade com 600 hectares no concelho de Alcácer do Sal. Por essa ou outras razões, os dados oficiais apontam para um quebra da produção que, entre 2003 e 2005 atingiu os 15 por cento, de acordo com Instituto Nacional de Estatística (INE). E apesar da redução, o preço pago na produção também baixou.Em 2003, ainda segundo o INE, as 101 mil toneladas produzidas renderam cerca de 295 milhões de euros. Dois anos depois, as 85 mil toneladas retiradas das árvores renderam apenas 200 milhões aos seus proprietários. João Posser de Andrade combate também a ideia de que as rolhas para o vinho são a maior valência da cortiça, um produto que diz "ter tantas potencialidades" que por si só considera serem garantia de sobrevivência do sector.As várias utilizações da cortiça"Há testes que indicam que a cortiça sofre menos desgaste do que o granito", salienta o subericultor, que usa uma pasta de documentos feita a partir da casca do sobreiro, que é retirada, habitualmente de nove em nove anos. Além de malas e carteiras, nos últimos anos surgiram empresas no sector que passaram a inovar no uso da cortiça, um produto sem cheiro, o melhor isolante natural conhecido, tanto para líquidos como para som, e que em local seco tem uma duração quase eterna.Guarda-chuvas e peças de roupa em cortiça passaram a ser vistos nas montras, enquanto nalguns países, como o Japão, as capacidades de isolamento tornaram-na num produto popular para isolar o chão das casas, onde “os japoneses gostam de andar descalços”, acrescenta Posser de Andrade. Em contraste com a indústria, o sector da produção "continua como há 200 anos", afirma o confrade."Os produtores sempre acarinharam mais as searas e a pecuária [que conciliam com o montado]. A cortiça foi sempre vista como um rendimento que estava ali, garantido, de nove em nove anos", argumenta. Mas a "riqueza" da cortiça "não é dos produtores nem dos industriais, é do país", considera o engenheiro técnico. A Confraria do Sobreiro e da Cortiça foi criada no ano passado e “não é para comes nem bebes, mas para fazer lobbie" junto dos decisores e promover o sector.

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