“Já senti vontade de vestir a jaqueta e ajudar a pegar o toiro”
José Fidalgo, presidente da junta acredita na força da festa brava
O presidente da junta de Vila Franca de Xira pega os problemas da festa brava de caras e desafia a comunidade a aproveitar as potencialidades do toiro, da lezíria e do rio para fomentar o desenvolvimento económico e cultural. Os vilafranquenses não podem desprezar as jóias que herdaram dos seus antepassados. José Fidalgo acredita na revitalização da festa e aplaude os forcados pelos seus 75 anos e o novo cavaleiro de Vila Franca pela coragem de tirar a alternativa na sua terra.
José Fidalgo é um transmontano que fez vida em Vila Franca. É um aficionado?Sou um aprendiz de aficionado que todos os dias aprende a conhecer melhor a festa e a formar opinião sobre a festa brava. Para mim a festa começa no campo com o toiro, o cavalo e o campino. Só consigo ver uma corrida associada a essa realidade ao ambiente da lezíria. Só como curiosidade, o primeiro campino que apareceu na lezíria era transmontano. Eu sou de Bragança, sou um transmontano orgulhoso nas suas origens, mas sai de lá com três anos de idade e estou completamente engajado nesta realidade ribatejana. Vibra com uma boa pega ou uma faena?Gosto muito das pegas e já tenho sentido vontade de vestir a jaqueta e ir lá para dentro. Aconteceu na última festa que se fez de homenagem aos forcados. Senti um ambiente de alegria, amizade, união, coragem e orgulho que senti vontade de me juntar aos forcados da minha idade para os ajudar a agarrar o toiro. Mas o que é que eu lá ia fazer…Essa unidade deveria ser transportada para a comunidade de Vila Franca?Foi isso que senti. Os forcados são um bom exemplo que deve motivar a família de Vila Franca a unir-se em redor das causas da sua comunidade. É por isso que trabalho com a minha equipa todos os dias. Os forcados de Vila Franca são verdadeiros promotores de Vila Franca? Vila Franca tem um dos melhores grupos de forcados e quer em Portugal, quer nas actuações em várias praças do mundo, têm projectado o nome de Vila Franca e conquistado importantes triunfos que nos devem orgulhar a todos os que gostamos de Vila Franca.É justo e oportuno o monumento ao forcado?Sem qualquer dúvida é uma homenagem que se impõe. O monumento vai perpetuar a memória de dezenas de vilafranquenses e amigos desta terra que passaram pelo grupo ao longo de 75 anos.A história do grupo é o reflexo da história da comunidade de Vila Franca?É um espelho do que foi a vida da cidade ao longo de três quartos de Século. Tivemos fases em que o forcado era o rapaz que fugia da escola, passámos para uma fase em que já estudavam e tivemos excelentes referências de pessoas bem sucedidas que tiveram no grupo uma escola para a vida.O grupo também formou homens?Basta ver pelo perfil de dezenas de forcados que são pessoas que se afirmaram pela sua forma de estar e carácter.Domingo vai assistir à alternativa de um cavaleiro de Vila Franca. Manuel Caetano, 21 anos, é um novo estímulo para a festa nesta cidade? O Manuel já deu mostras do seu valor e do seu amor a Vila Franca. Quis fazer aqui a sua alternativa e merece que a comunidade responda com uma presença em peso para o aplaudir e dar-lhe um incentivo para continuar esta carreira onde arrisca tudo. Não tenho dúvidas que o Manuel Caetano vai conseguir grandes triunfos e vai ser uma figura de Vila Franca e do toureio a cavalo.Acredita numa praça cheia?Eu espero que sim. Há expectativa, entusiasmo e um conjunto de motivos para que a cidade esteja lá a acarinhar este jovem. Os aficionados de Vila Franca estão divididos em vários grupos. O que é preciso fazer para os unir?É uma estupidez estarem de costas voltadas uns para os outros quando o interesse final deveria ser a festa brava e Vila Franca. Penso que essas quezílias têm os dias contados. Sinto que está a ser criada uma auto-estima à volta de Vila Fraca e quem não for por esse caminho acaba por ficar isolado e tratar mal a terra onde nasceu ou onde vive. O problema aqui é que há muita gente que quer protagonismos fáceis, mas Vila Franca tem potencial que dá espaço para muitos protagonistas.Tem três dos melhores matadores do mundo que nunca aparecem juntosAcho que o tempo vai aproximar essas três figuras notáveis (José Júlio, Mário Coelho e Victor Mendes) que são homens de carácter mas têm cada um o seu feitio e a sua forma de estar. Houve um conjunto de aficionados que fomentaram essa guerra com a sua paixão por cada um dos toureiros. Mas essa rivalidade entre toureiros era saudável?Pois era, mas alimentou quezílias que deixaram sequelas e que ainda hoje permanecem. Mas, eu acredito que os três matadores, de quem sou amigo e por quem tenho muita consideração, e os seus apoiantes gostam de Vila Franca. E eu gosto de quem gosta de Vila Franca. Vamos conseguir juntar-nos por Vila Franca e pela festa. Os matadores de Vila Franca foram figuras mundiais, mas nesta cidade não tiveram o devido reconhecimento?Santos da casa não fazem milagres. Vila Franca tem de tomar consciência de que estes homens foram dignos representantes da cidade e desta cultura taurina. Nesta comunidade temos o hábito de valorizar os aspectos negativos e não dar o real relevo aos feitos positivos. Os nossos matadores são conhecidos em todo o mundo taurino. Mário Coelho foi o melhor bandarilheiro do mundo, e tal como José Júlio, Victor Mendes e José Falcão estão no lote dos melhores matadores do mundo e fazem parte da história de Vila Franca.Está na ordem do dia a revitalização da praça Palha Blanco. Admite a transformação do edifício centenário num moderno multi-usos?Vila Franca tem preciosidades das quais se deve orgulhar. Temos sempre a tentação de copiar os bons exemplos, mas a realidade do Campo Pequeno é, a todos os níveis, diferente da de Vila Franca. Julgo que é possível manter as características da praça, melhorando as suas condições.Qual é o primeiro passo?O mais importante é definir como dar continuidade à festa com um modelo sustentável que permita dar vida à praça sem prejuízo de nenhum dos agentes envolvidos. É preciso colocar todos à mesma mesa e traçar o caminho. Apelo à inteligência das pessoas. Não é com cada um na sua quinta que isto se resolve. Este é um problema da comunidade e terá que ser a comunidade, através dos seus vários elementos, a decidi-lo. A câmara oferece bilhetes que compra à empresa concessionária da praça, mas não conquista novos públicos…Julgo que o princípio está errado. As pessoas não devem ser motivadas pela borla, mas sim pela qualidade e pela força do espectáculo. Deve-se sensibilizar e criar novos públicos, a começar nas escolas, e tornar o preço dos bilhetes mais acessíveis. O esforço da câmara não tem tido o resultado que se pretendia. A força do elemento toiro tem sido descurada no processo de desenvolvimento de Vila Franca? É condenável o não aproveitamento de um conjunto de potencialidades. É condenável que Vila Franca tenha virado costas para o Tejo e para a Lezírias e que os vilafranquenses tenham esquecido quem sempre os alimentou.Temos de olhar com muito mais atenção para as zonas ribeirinhas. Não entendo porque é que a Companhia das lezírias não tem sede em Vila Franca. Ao estar do outro lado do rio cortou a relação com a Grande Lisboa. O local da Companhia é em Vila Franca, sem pôr em causa o bom relacionamento que temos com Samora Correia. É preciso revitalizar o Café Central como ponto de encontro cultural, mas também espaço de negócios entre os agricultores.Reforça a necessidade de Vila Franca ter uma identidade própriaNós estamos perto de Lisboa, mas não somos Lisboa. Temos uma identidade própria e uma cultura identitária que é nossa. Essa deve ser a nossa bandeira.
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