A cruz do nosso sofrimento
Permitam-me regressar à reportagem publicada há duas semanas por O MIRANTE sobre o padre que mandou retirar os crucifixos da igreja e das capelas da sua paróquia. Faço-o a propósito de uma entrevista que li no semanário Soldada pelo especialista em assuntos medievais Jacques Le Goff. Diz ele a certa altura após considerar que na Idade Média a instituição da Inquisição foi mais grave que a Peste Negra. “Penso também que o cristianismo sofreu durante a Idade Média uma evolução negativa. Enquanto nos primeiros séculos põe no primeiro plano a ressurreição de Jesus Cristo e é uma religião da vida, em que a festa mais importante é a Páscoa, o cristianismo medieval traz a pouco e pouco para o primeiro plano uma religião do sofrimento. Cristo torna-se já não o rei ressuscitado mas o infeliz que morre na cruz. A Cruz torna-se o símbolo da religião e do cristianismo. Penso que há nisto uma promoção do sofrimento que é o lado mais negativo do cristianismo.”Não sei se o pároco em questão leu Jacques Le Goff – Esta entrevista não poderia ter lido porque saiu depois – mas era bom que os fiéis que o criticam meditassem sobre esta explicação. Afinal a sua atitude destina-se a libertar a igreja da carga de sofrimento que lhe terá sido imposta na Idade Média. Temo, no entanto, que seja um esforço em vão. A esta hora já deve ter sido repreendido pela hierarquia. As Igrejas tradicionais Cristãs sempre foram pelo sofrimento. Raras vezes pela alegria. E mesmo as que defendem a alegria exortam ao sofrimento como a melhor forma de atingir a felicidade. É a nossa cruz, senhor padre. É a nossa cruz.Maria Alice Rodrigues Pomar
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