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Ganhar a vida a rebocar aviões

Ganhar a vida a rebocar aviões

Francisco Santos é “pushback” nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico em Alverca

O rebocador é o primeiro a tocar num avião doente que aterra nas OGMA e é o último a travar contacto com ele antes de levantar voo. Francisco Santos é um dos dois rebocadores da pista de Alverca e o seu trabalho é rebocar aeronaves. “É muito difícil, não é como conduzir um Fórmula 1”, avisa.Filipe Matias

A ampla zona de hangares das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA) de Alverca do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira, é o local de trabalho de Francisco Santos, 45 anos. As suas ferramentas de trabalho são rebocadores, geradores de corrente e auxiliares de potência. A sua profissão é ser “pushback”, um termo técnico da aviação que ainda não tem tradução directa para a língua portuguesa. Por isso, chamam-lhe “rebocador de aviões”. A sua tarefa é engatar nos vários tipos de aviões que as OGMA recebem para reparações várias “towbars” (barras de reboque) para colocar as aeronaves nos locais indicados. Isso varia entre um simples reboque de um avião acabado de aterrar até uma mudança de hangar dentro da empresa. Os “pushback” são importantes nas oficinas de Alverca porque na maioria dos casos as aeronaves estão em reparação e não podem efectuar as manobras de locomoção pelos seus próprios meios. Esta manobra permite também reduzir o ruído e o consumo de combustível.Francisco Santos levanta-se nos dias de trabalho às 05h30 e a primeira acção do dia é verificar todos os equipamentos que vão ser precisos para a jornada. “Vou ver se as máquinas estão todas operacionais, meto-as a trabalhar e vejo se precisam de alguma coisa, como óleo. Além dos rebocadores, uso outras máquinas que servem para dar energia aos aviões, como geradores de corrente e motores auxiliares”, explica. Francisco reboca diariamente entre 15 a 20 aviões, por vezes o mesmo avião várias vezes. Para isso usa diversos reboques diferentes dependendo do tamanho e peso do modelo a rebocar. “Puxo os C-130, a frota Airbus, os Embraer, entre outros, a maioria de cariz militar”, explica. “Outras vezes chamam-me pelo rádio ou da torre de controlo para fazer o “run up”, ou “ponto fixo”. É basicamente um “check in” ao avião por fora. Chamamos “idle” ao acto de apenas rodar os motores para ver se tudo corre bem ou então “run up” para colocar a potência máxima nos motores e verificar se está tudo em condições antes do voo”, conta.Natural do concelho de Serpa, distrito de Beja, Francisco veio para Arcena com 9 meses de idade e, para ajudar a família, estudou apenas até à quarta classe. Mas isso não o demoveu de sonhar mais alto e depois de muitos anos a trabalhar na construção civil tentou a sua sorte nas OGMA em 1988. Foi aceite como tarefeiro. “Fazia limpezas e jardinagem mas como me considerava com alguma capacidade de trabalho comecei a evoluir dentro da empresa. Estive na serralharia, especialmente na conservação de ferramentas, e depois houve oportunidade de ir para a pintura, que eu adoro. Estive a pintar aviões durante 13 anos até que um problema respiratório me afastou”, lamenta a O MIRANTE. Sensível ao problema, a empresa colocou-o numa actividade que permitia mais contacto com o ar livre. “Pushback” assentou-lhe que nem uma luva. Esteve dois anos a aprender a profissão de rebocador. “Arrumar os aviões implica perícia para não bater, porque se isso acontecer é muito complicado. É proibido bater. A vista e o ângulo de visão do condutor é muito importante, isto apesar de termos pessoas auxiliares que vão a pé na pista para dar uma ajuda”, esclarece. Apesar da responsabilidade, quase todos os rebocadores têm uma história menos feliz para contar. Francisco não foge à regra. “Há muitos anos o maior susto que apanhei foi ter batido na hélice de um C-130. Ia devagar, a fazer uma manobra dentro de um hangar e passei baixinho por baixo do avião mas o hélice estava em bandeira (colocado ao alto) e bati na sua ponta, o que me deixou de rastos”, lamenta. “As pessoas estão a olhar e pensam que é fácil, que é só acelerar, mas não é! Aquilo não é como andar num carro de fórmula 1 nem na minha mota. Tem de ser tudo feito com muita calma e cabeça fria”, conclui. Francisco adora a profissão e diz que não a trocava por nada deste mundo. “São os aviões e as motas, já não consigo passar sem eles”, diz com um sorriso. “Francisco reboca diariamente entre 15 a 20 aviões, por vezes o mesmo avião várias vezes. Para isso usa diversos reboques diferentes dependendo do tamanho e peso do modelo a rebocar”
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