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A atracção fatal pelos toiros

As festas de Samora Correia são em honra de duas Santas, Guadalupe e Nossa Senhora da Oliveira mas por muito milagreiras que aquelas divindades possam ser, não conseguem dar protecção a tantos e tão variados espontâneos que saltam para a frente dos toiros bravos a todo o momento para mostrarem a sua coragem e os seus dotes de toureiros e forcados amadores. A componente taurina das festas faz das mesmas uma das “mais bravas” e também “mais perigosas” da região.

Cristina Amaro, 58 anos, empresária, BenaventeMedo de sair quando um toiro anda à solta“Quando vim morar há 20 anos para Benavente fiquei espantada quando vi que estavam a dar vinho e sardinha nas ruas. Não acreditei porque ninguém dá nada a ninguém”, começa por contar Cristina Amaro, natural de Mafra. Só conseguiu ir uma vez, há muitos anos, às festas de Samora Correia. Não regressou por falta de vontade, mas porque sai sempre muito cansada do trabalho. “Há dois anos que não tenho férias. Entro sempre às 7h00 ou antes e só saio às 20h00”, revela a proprietária do Ribaleitão. As largadas de toiros não lhe dizem muito e quando sabe que anda um toiro à solta nas ruas tem sempre medo de sair. “Embora eu não aprecie as touradas, gosto muito de reparar nos miúdos que desde pequenos já trazem o toiro no coração”, conta. Mesmo não indo às festas, admite que são muito importantes para trazerem animação especialmente as pessoas que não têm oportunidade de ir de férias e estão desejosas que chegue este período para poderem viver o toiro.Laura Cruz, 47 anos, comerciante, Porto AltoComer sardinha assada de calças de ganga e ténisNascida e criada no Porto alto, Laura Cruz lembra-se de ir sempre com um vestido novo para as Festas de Samora Correia e só regressar a casa de manhã. Os tempos mudaram, mas a comerciante continua a ser presença assídua nas Festas de Samora Correia. Vai de calças de ganga e ténis comer a sardinha assada e aguenta-se ainda até às três ou quatro da manhã, assegura. O que mais a aflige são as largadas de toiros à noite. “Vejo muitos jovens com excesso de álcool a provocarem o toiro e como sou mãe fico sempre com um aperto no coração”, revela. O desfile etnográfico e a componente religiosa da festa em honra da Nossa Senhora de Oliveira e da Nossa Senhora da Guadalupe são o que mais a cativa. Estes dias servem também para se encontrar com os amigos de longa data e colocar a conversa em dia. Mantém a tradição de ir sempre à quermesse comprar uma rifa para contribuir com um donativo para a comissão de festas. “Samora Correia já não vive sem estas festas e, em tempos de crise, são óptimas para trazer algum ânimo a toda a gente”, conclui. Emídio Salvador, 46 anos, sócio-gerente de empresa de construção civil, Porto AltoFestas promovem encontro com emigrantesChegar a casa com os sapatos cheios de areia durante as festas de Samora Correia já é uma tradição para Emídio Salvador. Embora não se aproxime muito dos toiros, faz questão de saltar para dentro da arena. Gosta particularmente das largadas que se realizam à noite. “Às vezes já o sol está alto e nós ainda lá estamos”, deixa escapar. Samora Correia é terra que, na sua opinião, já tem um espaço natural para as largadas. Também não perde uma tradicional ida à barraca das quermesses para contribuir com um donativo, acabando sempre por deixar lá o prémio. Estas festas que se realizam no mês de Agosto são uma excelente oportunidade para rever alguns amigos que estão a trabalhar no estrangeiro e costumam passar este período em Portugal. Mas este ano, Emídio Salvador tem muita pena de não poder marcar presença. “A festa apanha sempre o dia 15 de Agosto e este ano só começam a 18 de Agosto. Como já tinha as férias marcadas, não vou poder ir. Sei de muitos emigrantes que também vão ficar de fora e estão chateados”, revela.João Pernes, 60 anos, estofador, Porto AltoVer as largadas de toiros de longe João Pernes não costuma ir às festas porque o tempo é escasso e, por isso, não sabe ainda se conseguirá visitar a Festa em Honra da Nossa Senhora de Oliveira e da Nossa Senhora da Guadalupe. “Das poucas vezes que vou, do que mais gosto é de beber um copo com os amigos”, revela o estofador que acaba sempre por regressar cedo a casa. Não é muito adepto das largadas e prefere ficar sempre a ver ao longe. “Se me aproximo tenho sempre a tentação de ir para dentro da arena e costuma-se dizer que quem tem calos não se mete em apertos. O melhor é nem me aproximar!”, diz. Uma coisa de que gosta é de comprar uma ou outra lembrança. Mesmo em tempos de crise, assegura que é importante manter todas as festas porque conferem identidade às terras e geram sempre muito movimento. Paula Nunes, 44 anos, Cabeleireira, Samora CorreiaDescontracção reina nas festas de Samora CorreiaNatural de Coruche, mas a viver há mais de uma dezena de anos em Samora Correia, Paula Nunes aprecia muito o à vontade das gentes de Samora Correia. “Nos dias de festa visto umas calças de ganga, uma t-shirt e ténis para me poder até sentar no chão. Ninguém liga muito à maneira de vestir e andam todos descontraídos”, repara. Todos os anos costuma ir às festas de Samora e aprecia muito as largadas, embora não tenha coragem para entrar na arena. Não aprecia sardinha assada, mas gosta sempre de ter uma em cima de uma fatia de pão para absorver o molho. Nestes dias costuma receber a visita de alguns familiares e amigos de Lisboa para irem todos juntos às festas. Um passeio, um petisco ou uma bebida fazem sempre parte do itinerário. Há 10 anos a seguir estas festas, nota que o nível se vai mantendo e assegura que as pessoas de Samora Correia são completamente “loucas” por estes arraiais. Paula Nunes foi muito bem acolhida por toda a gente de Samora Correia e já sente a terra como sua.

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