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Os tempos em que se alugavam fatos de banho porque ir à praia era um luxo

Os tempos em que se alugavam fatos de banho porque ir à praia era um luxo

Há quarenta anos em Azambuja Agosto era quase sempre sinónimo de trabalho

Há quarenta anos ir à praia era um luxo para quem vivia no campo, na zona de Azambuja. Quando a oportunidade surgia alugavam-se fatos de banho e levava-se frango corado com arroz para comer no pinhal.

Teresa Marques estava a dois meses do casamento. Tinha 22 anos e visitou pela primeira vez uma praia: Costa da Caparica. Quis alugar um fato de banho para se estrear na água salgada mas a mãe não permitiu apesar da insistência das amigas. À distância de mais de quatro décadas a porteira, de 64 anos, residente em Casais de Baixo, Azambuja, sorri sentada na relva, no intervalo de um almoço convívio entre um grupo de seniores do concelho de Azambuja, mas na altura a situação não a deixou muito satisfeita. Eram outros tempos. “À época em Portugal prevaleciam os bons costumes”, explica uma amiga.Depois de casar e ter filhos Teresa Marques passou a ir um ou dois dias à praia mas os gastos nunca foram supérfulos. Um fato de banho durou quase uma vida inteira e os acessórios eram esquecidos. “Cheguei a ir à praia com uma saia de fazenda”, assegura Teresa Marques. “Havia roupa especial para ir à praia mas nós não tínhamos acesso a isso”, comentam as mulheres do grupo.Maria do Céu Martins, também de Casais de Baixo, 70 anos, que trabalhou uma vida inteira na fazenda da família, teve que esperar ainda mais que Teresa Marques para avistar o mar. Só soube o que era praia aos 35 anos. Há quarenta anos, em Agosto, Maria Luísa Silva Martins calcula que estivesse a fazer um poço com a ajuda do marido e de alguns amigos. A água seria depois usada para regar a horta e os pomares onde cultivou legumes e fruta. Produtos que vendeu em tempos à extinta General Motors, onde o marido, João Francisco Martins, era porteiro. Hoje, porque a vida assim exige, é vendedora ambulante. Chegou a vender no mercado mas agora já só passa nos locais onde sabe que estão as clientes do costume.Os 71 anos não lhe retiram energia e garante que se sente bem a trabalhar. “Fizemos muitos sacrifícios pelos nossos filhos de forma a que pudessem estudar e ter uma vida diferente da nossa”, confidencia. Quando havia oportunidade para ir à praia a poupança era obrigatória. Não se sabia o que era almoçar ou jantar fora. Levava-se frango corado e arroz para comer no pinhal. A vida estabilizou e hoje já passa uma temporada com os filhos na praia.Se por um lado o dinheiro não abundava muitas vezes as galinhas e a horta prendiam Manuel Rodrigues Marques aos Casais de Baixo. Também foi assim que o antigo operário da General Motors, 68 anos, conseguiu amealhar. Se foi de férias algumas vezes nunca foi com recurso aos cartões de crédito. Mais sorte teve quem não nasceu no concelho de Azambuja mas escolheu a zona para viver. José Armando Fernandes, natural de África, tem família no Algarve e por isso foi sempre mais fácil ter acesso à praia. O antigo operário da GM, 59 anos, residente em Azambuja, continua a gostar de férias com sol e mar, tal como Marília Pantaleão, também africana, 60 anos, a residir na vila. É costureira e está reformada, apesar de fazer alguns trabalhos em casa. Não dispensa quinze dias de água salgada, longe do Tejo doce que passa na vila ribatejana.Bar aberto para quem trabalhou toda a vida com a água pela cinturaOito autocarros e um total de 500 pessoas participaram no passeio convívio dos seniores da freguesia de Azambuja, organizado como já é tradição pela Junta de Freguesia de Azambuja, no domingo, 14 de Agosto.Cada participante fez questão de pagar 10 euros pelo almoço. A Junta de Freguesia de Azambuja financiou os autocarros e garantiu o bar aberto durante o dia. As inscrições renderam cinco mil euros mas o total da despesa atingiu os 16 mil. O presidente da Junta de Freguesia de Azambuja, António Amaral (PS), garante que a iniciativa continuará enquanto for autarca. “Estas pessoas merecem porque andaram uma vida inteira a trabalhar no campo de água pela cintura”. Não há crise que o convença do contrário. “Se realizei o almoço até quando tinha 700 contos (3.500 euros) de orçamento na junta não é agora que vou desistir da iniciativa”, assegura.O grupo saiu às 8h00 de Azambuja. A viagem incluiu paragem no Pôr do Sol para o pequeno almoço e uma visita às salinas de Rio Maior com direito a explicação técnica para abrir o apetite. O dia terminou com o baile no local de almoço, a Quinta da Feteira, em Almeirim.
Os tempos em que se alugavam fatos de banho porque ir à praia era um luxo

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