Venerável Manuel Serra d’Aire
Parece que o Governo, na sua missão de cobrador do fraque, quer colocar portagens no IC3 na zona de Tomar e eu estou já a contar os dias que faltam para que comecem a portajar a viela esconsa que dá acesso à minha casa. É uma questão de tempo, eu sei, mas no meio desta notícia inesperada tenho de louvar o papel estóico do ministro Miguel Relvas, um tomarense por adopção que no seu voluntarismo exacerbado tramou involuntariamente os nabantinos e vizinhança.Estou mesmo a ver a reunião onde a coisa foi congeminada. O Passos Coelho a dizer que há que ir ao bolso do pagode e o Relvas a chegar-se à frente (Egas Moniz dos tempos modernos, sem corda ao pescoço mas de gravata aprumada) a dizer para o amo Coelho: “Se temos de começar a portajar icês, ipês, estradas, avenidas, ruas, quelhas, travessas, passeios, vielas e becos, então que seja eu a dar o exemplo e a começar a pagar de cada vez que vá a Tomar presidir à assembleia municipal”. É de homem, é verdade, e ninguém o pode acusar de não se chegar à frente. Mas também é bom recordar que só a senha de presença de cada sessão da Assembleia Municipal de Tomar em que participe dá bem para a portagem do IC3 e para um bom repasto na marisqueira ou no Chico Elias, porque o nosso ministro Relvas é um apreciador das coisas boas da vida e não se limpa a qualquer guardanapo. Ou seja, como diz o povão, pimenta no rabo dos outros para mim é refresco! E mais uma vez quem se lixa é o mexilhão que vai pagar portagens numa estrada que não é auto-estrada.Mas como até as decisões mais tenebrosas nunca conseguem ser absolutamente más, esta peregrina ideia do Governo tem pelo menos o condão de ajudar a tonificar um velho e conhecido negócio que se desenvolvia à beira da estrada nacional que liga o Entroncamento a Tomar e que tinha levado um forte rombo com o aparecimento do IC3. As profissionais do ofício mais velho do mundo agradecem e o Governo até merecia umas borlas por esta ajudinha. Sempre gostei de simulacros. É pena que a vida não seja também ela um simulacro, onde temos sempre controlo sobre tudo, sabemos o que vai acontecer e a que horas e se vive no melhor dos mundos. Há simulacros para todos os gostos, como sabes: de incêndios, de acidentes, de homens e de mulheres, de governos e de governantes, de penáltis, etc... Só ainda não conhecia a forma de simulacro inventado pelo presidente da Câmara de Torres Novas para adornar a inauguração do Centro Escolar da Meia Via. Num dos períodos em que não estava em Cabo Verde ou em Timor, o autarca António Rodrigues, à falta de computadores para mostrar à comitiva inauguradora, mandou vir os aparelhos de outra escola para que o povo visse como ficam as salas de aulas equipadas com aquelas máquinas. Acabada a visita ao “andar modelo”, os computadores retornaram à origem e os putos ficaram de mãos a abanar à espera que um dia cheguem. Foi de mestre!Um abraço do Serafim das Neves
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