A bibliotecária que tem saudades do tempo em que os livros eram mais importantes que a Internet
Helena Henriques trabalhou na antiga Sala de Leitura Bernardo Santareno, em Santarém, durante 28 anos
Na actual sala de leitura, Helena Henriques admite que o movimento é menor do que no antigo espaço, especialmente entre quem procura livros.
Helena Henriques, 53 anos, teve o sonho de ser educadora de infância e trabalhar na companhia de crianças mas acabou rodeada de livros. Durante 28 anos foi uma das técnicas responsáveis pela Sala de Leitura Bernardo Santareno, uma biblioteca que funcionou no jardim Sá da Bandeira, em Santarém, até à requalificação urbanística que deu origem ao jardim da Liberdade e à mudança das instalações para o antigo ginásio do Seminário.A técnica confessa que tem saudades dos tempos daquela biblioteca. Pelo número de pessoas que movimentava, entre leitores mais idosos e estudantes, mas também pelo espaço que era acolhedor, situado no meio do jardim. Helena Henriques estudou até ao actual 12.º ano no Liceu de Santarém e quis entrar para ciências farmacêuticas mas o namoro com o que viria a ser o seu marido “inviabilizou” a pretensão. “Era boa aluna a matemática e a química mas acabei ligada aos livros”, constata.O primeiro emprego de Helena Henriques foi na Câmara de Santarém, como funcionária do centro social do pessoal da autarquia, em 1979. Passado um ano abriu uma vaga na biblioteca municipal, à qual Helena Henriques concorreu e foi admitida, quando o serviço funcionava no edifício do arquivo distrital. Em 1981, foi transferida para a Sala de Leitura Bernardo Santareno, biblioteca n.º 86 da Fundação Gulbenkian. Recebeu formação intensiva durante mês e meio, sete horas por dia. Era um espaço de que gostava muito. Tinha duas fachadas envidraçadas, no meio do jardim, que durou 26 anos. Entre 1986-1987 chegou a ser a biblioteca mais frequentada e com mais utilizadores do país. Todos os livros que pedíamos eram-nos enviados pela Gulbenkian”, recorda Helena Henriques, lembrando que em certos momentos chegavam a ter jornais e revistas esgotados por leitores diários. Era ainda um local onde se organizavam conferências e algumas exposições. Na actual sala de leitura, Helena Henriques admite que o movimento é menor do que no antigo espaço, especialmente entre quem procura livros. “Gostava que aparecessem mais pessoas para requisitar livros, pedir obras de referência, como os clássicos da literatura portuguesa. Eu própria também gostava de aconselhar leituras, como fazia antigamente, mas a maior parte das pessoas vem formatada por aquilo que consulta na Internet. Outras procuram os nomes mais conhecidos, como José Rodrigues dos Santos, Miguel Sousa Tavares, Dan Brown, entre outros”, exemplifica.Helena Henriques começa a trabalhar às 09h30, quando o espaço abre ao público. Cataloga livros, arruma estantes, atende o público que requisita volumes, mas também os que chegam para consultar Internet, ler jornais e revistas. A hora de almoço costuma ser a mais movimentada. Os finais de tarde, principalmente à sexta-feira, são bem mais calmos. O serviço encerra às 18h30 durante a semana, e funciona entre as 09h30 e as 13h00, aos sábados. A técnica conta com a companhia de uma colega no serviço.Os utentes que queiram consultar livros têm de inscrever-se com o BI/Cartão de Cidadão. Podem requisitar no máximo três livros por um período de 15 dias, que pode ser renovado. Na consulta de jornais, revistas e livros os interessados apenas têm de preencher uma senha e indicar as quotas, assim como aceder à Internet. “Também temos tido outras actividades, como a hora do conto, para crianças, na qual participei de início mas que agora é assegurada por duas técnicas de animação cultural”, explica Helena Henriques.Por razões profissionais Helena Henriques teve de ler muito desde cedo, gosto de que se apropriou. Entre as suas preferências estão os clássicos franceses e portugueses, ou obras de Saramago como “O Ano da Morte de Ricardo Reis” e “Memorial do Convento”. “Adorei clássicos de Eça de Queirós depois de os ter lido na escola como obras obrigatórias, como “O Mistério da Estrada de Sintra”. Também gostei mais recentemente de “A Fúria das Vinhas”, de Moita Flores, mas por exemplo as obras de Paulo Coelho não me dizem nada”, revela.
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