ESPECIAL S.Martinho | 02-11-2011 12:38

Levar uma castanhada da crise é pior que levar um coice

Ninguém consegue escapar aos efeitos da crise que entrou a escoicear nas nossas vidas como um cavalo selvagem que poucos parecem capazes de domar. A analogia vem a calhar em tempo de Feira Nacional do Cavalo da Golegã. Em vez de castanhas há quem receie levar castanhada da grossa e a água-pé não parece uma bebida suficientemente consistente para retemperar forças. O primeiro-ministro tem insistido no empobrecimento mas a situação ainda não chegou ao ponto de empurrar as gentes para a agricultura de subsistência. Hortas só quem as tinha é que continua a ter. Quanto ao cavalo propriamente dito vem a calhar aqui o ditado popular que diz que “em casa de ferreiro, espeto de pau”. Somos melhores a ver passar cavaleiros e amazonas do que a cavalgar.

Dionísio Galinha, Galilux, Barquinha“Guardo cavalos dos outros mas nunca montei”Nos tempos difíceis que correm, Dionísio Galinha considera importante que se tenha uma horta e se vá plantando os produtos importantes para a alimentação do dia-a-dia. “Planto tudo o que é necessário para dentro de casa”, afirma, referindo de seguida que o costume de ter uma horta é já uma “herança” que recebeu dos pais. Apesar de viver perto da Golegã, que se auto-intitula Capital do Cavalo, nunca montou. “Tenho uma instalação na Golegã para cavalos, mas os animais que lá estão não são meus. Gosto dos cavalos, talvez um dia ainda venha a montar”, confidencia.Compara a crise actual a um cavalo selvagem e acredita que ela só será “domada” daqui a muitos anos. “Não acredito que se vá resolver de um momento para o outro. As pessoas têm que ficar conscientes das despesas que se estão a fazer, porque muito dinheiro é gasto inconscientemente”. Se lhe perguntam o que é uma castanha, hesita na resposta. “Penso que é quando se juntam as pessoas para comer castanhas…”, reflecte. Diz que sabe como se faz a água-pé que se bebe nesta altura mas nunca experimentou fabricar. Luís Farias, Goldesk, Golegã“A crise é um cavalo velho e manco”Luís Farias nunca teve hortas. Nem ele nem a família mais próxima. Confessa que não liga muito à terra ou à hipótese de poder vir a ter uma pequena plantação sua. Quanto a andar a cavalo teve uma experiência e bastou. “Tinha os meus 13 ou 14 anos. Foi um momento engraçado. Ficaram boas recordações”, comenta, mas não voltou a experimentar. Quanto à crise diz que a vê como “uma pileca. Um cavalo velho e manco”, afirma. Para a resolver diz que os políticos que estão no poder não servem. Quando lhe perguntam se sabe o que é uma castanhada, ri-se. “Quando alguém leva porrada é uma castanhada”, comenta. Apesar de ter uma ideia de como se faz a água-pé, tão tradicional desta época, Luís Faria reconhecesse que não é apreciador. “Prefiro um bom vinho”. Francisco Mota, Cruz e Caetano, Azinhaga“O cavalo é amigo do homem mas a crise não”“Quem tem uma horta tem sempre a vida torta”, começa por comentar Francisco Mota quando lhe perguntam se possui uma pequena plantação em sua casa. “Já tive. Tinha cebolas, nabos, entre outros produtos, mas o terreno era emprestado e acabei por ficar sem ele”, conta. Confessa que cuidar de uma horta rouba muito tempo e que já tem muito trabalho. Mas reconhece que quem planta tem a vantagem de saber exactamente o que está a comer. Andar a cavalo nunca lhe passou pela cabeça. Mas também não esperava viver mais um tempo de crise como o actual e ela apareceu. “O cavalo é amigo do homem, a crise não. Enquanto houver ladrões esta crise nunca mais vai acabar”, desabafa. Quando, na brincadeira, lhe perguntamos se sabe o que é uma castanhada hesita na resposta. “É uma porrada?”. Já sobre o tema da água-pé não tem dúvidas. Sabe bem o que é, até porque produz alguma e apressa-se a explicar o método de fabrico. “É fácil. É feita das uvas e leva água até certa medida. Tenho água-pé mas ainda não a abri porque não fez frio o suficiente até agora”. Luís José, Tecnigol, Golegã“Planto couves e crio galinhas para saber o que como”Não tanto por necessidade, mas mais por tradição e por gosto, Luís José trata de uma horta junto à sua casa. “Neste momento planto as coisas da época, couves, por exemplo”, refere. “É mais o querer comer algo e saber de onde vem. Assim como ter galinhas”, acrescenta. Apesar de ser da terra dos cavalos confessa que montar não o fascina. “Nunca andei a cavalo, mas também não tenho muito interesse”. Sobre a crise e a forma de a ultrapassar diz que é preciso aprender com os erros do passado. É consumidor de castanhas e de água-pé mas não gosta de levar castanhadas. João Martinho, da João Martinho - Rações, Golegã“A crise deve ser vista como uma oportunidade” O jovem João Martinho, filho, confessa que não tem horta apesar de vender produtos para agricultura. “Mas se tivesse uma horta julgo que plantaria um pouco de tudo de forma a poupar nas despesas”, refere. Tinha 16 anos quando montou pela primeira vez a cavalo. “Era um animal grande, metia algum respeito. Gostei da experiência mas nunca pensei muito nisso”. E a crise é um cavalo selvagem? “Sim, é isso mesmo. A crise é um cavalo selvagem”, responde. “Mas temos que a encarar como uma oportunidade para procurar outras formas de negócio”, reflecte. Para João Martinho uma castanhada pode apanhar-se no decorrer de uma briga e não sabe nada a castanhas. Sobre a água-pé faz questão de mostrar alguns conhecimentos. “É o que sobra do engaço e que já não dá para o vinho. Não faço, mas tenho clientes que produzem água-pé. Pessoalmente, prefiro um bom vinho”, afirma.

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