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Povo de Cem Soldos pode não ir aos concertos mas não dispensa o festival dos “Bons Sons”

Povo de Cem Soldos pode não ir aos concertos mas não dispensa o festival dos “Bons Sons”

A aldeia da freguesia da Madalena, no concelho de Tomar, transforma-se radicalmente e mexe com o orgulho local

O festival realiza-se de dois em dois anos e os mais velhos da terra em vez de se incomodarem com o ruído e com a presença de tantas e tão variadas gentes até se mostram disponíveis para receber a festa todos os anos.

O sino da igreja ecoa pela aldeia de Cem Soldos anunciando a missa da manhã de domingo. Não se trata de um domingo como os outros. No largo da Igreja tudo está diferente. Famílias tomam o pequeno-almoço tardio ou saboreiam um café nas esplanadas das roulottes. Há pessoal que bebe mesmo uma imperial antes de almoço. No centro, o palco principal está de pousio aguardando os artistas da tarde e noite. O Festival Bons Sons, que se realiza de dois em dois anos e vai na quarta edição, transfigura a pacata aldeia de Cem Soldos, no concelho de Tomar, e altera o ritmo quotidiano mas os habitantes dizem que não se importam.Laurinda Salvador, 71 anos, sai da igreja e dirige-se a casa para preparar o almoço. Não assistiu a nenhum concerto mas gosta da movimentação que o festival traz à aldeia. Como mora mais distante do local dos espectáculos consegue dormir tranquilamente. Conta, no entanto, que a filha tem casa mesmo no centro da aldeia e não se queixa do barulho. “Andaram a divertir-se e deitaram-se tarde, por isso não se queixam. Até gostam”, conta bem disposta.O Festival dos “Bons Sons” começou na quinta-feira, 16 de Agosto, e terminou no domingo. Segundo a organização, passaram pelo recinto do festival, que é toda a aldeia, cerca de 40 mil pessoas pessoas. Os espanhóis El Náan (o país convidado foi a Espanha) e os portugueses A Naifa foram os cabeças de cartaz do primeiro dia. O grupo Pé na Terra, o cantor alentejano Vitorino e o DJ Bento 17, fecharam a festa.José Maria Ferreira, 71 anos, mora em frente ao posto de saúde, local de passagem obrigatória para quem se desloca para o festival. Diz que tem o sono pesado e que não há música que o impeça de dormir. Os únicos problemas que teve nas quatro noites do “Bons Sons” foi exactamente no final dos concertos, lá pelas 4 ou 5 da manhã. “Quando o festival acaba a malta vai a pé para o parque de campismo e tem que passar mesmo à porta da minha casa. Uns cantam, outros riem e falam alto e eu acabo por acordar. Mas como tenho vagar e não tenho hora para deitar nem para levantar não há problema. Esta agitação faz falta à aldeia. É pena ser só de dois em dois anos”, afirma, acrescentando não ser grande apreciador de música em geral e muito menos da música do festival. A seu lado, Fernando Cartaxo, 82 anos, diz que o barulho dos visitantes não lhe faz diferença. Acordou na madrugada de domingo com o ruído que os mais novos faziam mas como já eram cinco da manhã não se levantou para ralhar, como costuma fazer nos outros dias do ano quando acontecem situações idênticas. “Este festival é bom para a terra e também posso dormir até mais tarde ou passar pelas brasas depois de almoço, como costumo fazer todos os dias”, confessa, acrescentando que o Bons Sons colocou Cem Soldos no mapa.Às 11h00 são poucos os ‘festivaleiros’ que estão a pé. A noite terminou ao raiar do dia e a maioria ainda dorme. No improvisado parque de campismo é um sossego. Quem anda numa azáfama para que nada falte são os elementos da organização. De resto, só mesmo os populares que se concentram no centro da aldeia depois da missa dominical. Alguns aproveitam para colocar a conversa em dia e todos comentam a animação que o Bons Sons traz à aldeia. Daqui a dois anos há mais.
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