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Um metalúrgico sem medo da crise

Um metalúrgico sem medo da crise

Joaquim Jorge Ferreira tem o seu próprio negócio e trabalho não lhe falta

Quando era pequeno nunca teve uma profissão de sonho. Foi a vida que escolheu o seu percurso. Começou a trabalhar aos 13 anos numa oficina de bicicletas e depois ingressou nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico de Alverca.

Joaquim Jorge Ferreira é um homem realizado que não conhece a palavra crise. Talvez porque nunca tenha virado as costas ao trabalho, desde os 13 anos, altura em que começou a trabalhar para ajudar a família. Tem hoje 59 anos e é o proprietário da metalomecânica com o seu nome, em A-de-Freire, Alhandra, concelho de Vila Franca de Xira. Mora ali perto, nos Cotovios. Coloca sempre o cliente em primeiro lugar e por isso já chegou a ter de sair de casa durante a noite para fazer uma peça que um cliente precisava com urgência. “Já houve clientes a baterem-me à porta à noite e aos fins-de-semana. E não posso dizer não, nesta altura temos de aproveitar tudo. Os empresários sabem que podem contar comigo, seja em que dia for. Não tenho problemas em trabalhar”, conta com um sorriso a O MIRANTE.Joaquim nasceu no concelho de Arruda dos Vinhos, onde fez a quarta classe. Lembra-se de ter levado umas reguadas dos professores mas garante que não era traquina. Aos 13 anos começou a trabalhar numa oficina de bicicletas em Vila Franca, também para ajudar os pais, que não viviam em abundância. Quando conheceu a mulher mudou-se de vez para o concelho vilafranquense. “Nunca tive uma profissão de sonho, sempre aproveitei o que a vida me deu”, diz. Aos 16 anos candidatou-se a um lugar nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico de Alverca (OGMA) e conseguiu entrar. Foi aí que aprendeu o ofício que mais tarde garantiria o seu sustento. “Aprendi a ser torneiro. Mexíamos com peças de metal, ferro, bronze e alumínios. Muitas vezes davam um desenho e nós fazíamos essa peça. Ainda estive lá nas OGMA 25 anos”, recorda.Como tantos outros profissionais das oficinas, também Joaquim começou a ambicionar mais para a sua vida. Em 1991 arriscou montar um negócio por conta própria. Teve a sorte do seu lado e a empresa floresceu. Hoje trabalham consigo os dois filhos. Fazem todo o tipo de trabalhos metalúrgicos: tornearia, fresagem, serralharia e soldaduras.“Felizmente não me tem faltado o trabalho e tenho sempre clientes. Mas dedico muitas horas a isto, é uma profissão de que é preciso gostar e um trabalho de grande responsabilidade, são peças rigorosas que têm de ficar bem feitas”, avisa.O que o deixa triste é ver que os jovens não querem aprender a profissão. Não querem “sujar as mãos”, diz Joaquim. “A malta quer é trabalho em armazéns, onde se ganha mais sujando menos as mãos”, considera. O trabalho que faz também é perigoso. Um dos filhos já sofreu um acidente que, por pouco, não teve consequências mais graves. “Levanto-me às 06h45 e saio quando é preciso e já não há mais nada para fazer. Se houver trabalho fora de horas ou nos fins-de-semana faço-o”, entende. Se todos fossem como ele, o país já se tinha endireitado, defende. Não quer sair dos Cotovios. A terra é simpática e acolhedora. “É muito bom viver aqui”, garante. Se um dia se ausentar só mesmo para regressar a Luanda, Angola, onde esteve ao serviço das OGMA em 1975. “Foi tudo excelente, até o trabalho”, diz com um sorriso.Joaquim nem quer pensar na reforma. Enquanto os olhos aguentarem e as mãos não vacilarem promete continuar a trabalhar na profissão que adora. E os clientes, esses, vão sabendo com o que podem contar.
Um metalúrgico sem medo da crise

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