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Espoliado Serafim das Neves

No Centro Social e Recreativo de Valverde, na freguesia de Alcanede, Santarém, o concurso da mini-saia teve uma assistência de novecentas pessoas. Foi quase toda a população do lugar, ou talvez mais. Umas dezenas de quilómetros a sul, na populosa cidade da Póvoa de Santa Iria, na cerimónia que assinalou o aniversário da cidade, havia mais moscas que pessoas a ouvir os discursos dos políticos. E a terra tem quase trinta mil habitantes. A minha curiosidade é saber o que aconteceria se fosse anunciada uma iniciativa chamada “políticos de mini-saia”. Nesta altura de tanta crise e dificuldades em que, como disse a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, nem sequer podemos comer bifes todos os dias, atrevo-me a lançar aqui a ideia de um espectáculo do género na região, desafiando desde já os nossos políticos a aderir. As receitas podem reverter a favor dos credores dos municípios ou das sopas dos pobres que agora se chamam cantinas sociais. Os autarcas homens que não queiram parecer demasiado femininos podem usar kilts escoceses.Na senda dos misteriosos desaparecimentos na zona do triângulo das Bermudas, temos por estes lados um fenómeno idêntico na área do Agrupamento de Centros de Saúde da Lezíria de onde desaparecem médicos e médicos sem deixar rasto. Colombianos, cubanos, portugueses, seja qual for a nacionalidade, sexo ou idade, os médicos ali colocados evaporam-se sem dizer ai nem ui, mesmo antes de chegarem ao destino, deixando as populações perplexas e a directora, Luísa Portugal, de cabelos em pé.Há quem diga que um poderoso íman os suga a todos para Lisboa mas custa-me acreditar nessa explicação. Como sabes os médicos portugueses são demasiado agarrados ao mundo rural para se deixarem sugar assim para a capital, por mais força que tenha tão diabólica atracção. E temos exemplos que comprovam o que eu digo. Ao João Semana não houve nada que o arrancasse da aldeia. O Fernando Namora resistiu ali para os lados da Serra da Estrela, por entre campónios e pastores, escrevendo os famosos Retalhos da Vida de Um Médico. A Polícia Judiciária devia dar atenção ao que se está a passar. Devia colocar estes desaparecimentos na secção dos raptos. Todos os jovens que oiço a falar da sua entrada para medicina proclamam que o que os move não é o dinheiro mas a vontade de salvar vidas. Será que já não há vidas para salvar a Carregueira, Arripiado ou Pinheiro Grande? A candidatura da tauromaquia a património cultural está finalmente a mostrar argumentos suficientes para vir a ser aprovada pela Unesco. Tratando-se de um espectáculo feito de fintas, corridas e cornadas, nada melhor que uma boa pega entre dois defensores da iniciativa para dar um exemplo prático das reais qualidades da matéria. Luís Capucha, que tinha sido convidado para integrar o grupo de trabalho da candidatura zangou-se com a presidente da Câmara de Vila Franca de Xira e espetou-lhe uma farpa no Facebook, salvo seja, através da publicação de uma carta aberta. A visada respondeu com uma chicuelina literária falando em estados de alma. Espera-se agora a entrada em praça de outros aficionados para que seja consumada a faena. Pela minha parte contribuo para a causa com um vibrante olé! No Entroncamento um cidadão foi mandado em paz pelo juiz na sequência de uma queixa da câmara que o acusava de ter roubado um contador e de não ter pago a conta da água. Deixando de lado os argumentos da justiça e centrando-me apenas no essencial. Eu diria que o célebre “Não pagamos”, criado por estudantes para contestar o aumento das propinas e recuperado agora por causa da dívida do país, está cada vez mais entranhado na identidade cultural do nosso povo.Um abraço sem IVA Manuel Serra d’Aire

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