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Nos tempos que correm são mais necessárias as pessoas de acção

Nos tempos que correm são mais necessárias as pessoas de acção

Ricardo Gonçalves sucedeu a Moita Flores como presidente da Câmara de Santarém e garante um estilo diferente na governação autárquica

Aos 37 anos, já foi presidente de junta, vereador e agora chegou a presidente do município de Santarém com a renúncia ao mandato de Moita Flores. Ricardo Gonçalves diz que tem mais vida para além da política, que aprende com os erros e adopta um discurso conciliador e diplomático, distanciando-se do estilo do seu antecessor. Os tempos não estão para comprar guerras e polémicas, advoga, acrescentando que alguns projectos vão ter que esperar por melhores dias.

Ricardo Gonçalves, 37 anos, é o novo homem forte da Câmara Municipal de Santarém, sendo actualmente o mais novo autarca a liderar um município na região. Prestes a ser pai da Beatriz, que deve nascer em Fevereiro próximo, fruto do casamento com Vânia Neto, também companheira de lides políticas na JSD e no PSD e com quem chegou a partilhar a vereação no anterior mandato, o autarca afirma-se como um homem de acção que não gosta de perder tempo com polémicas desnecessárias e discursos quezilentos. Mesmo os adversários políticos reconhecem a simpatia e urbanidade no trato deste jovem que tem a espinhosa missão de suceder ao mediático Francisco Moita Flores à frente de uma autarquia que vive momentos difíceis a nível financeiro. A licenciatura em Economia e a pós-graduação em Direito das Autarquias Locais podem dar jeito, tal como os 45 milhões de euros que espera obter de dois empréstimos para liquidar as dívidas de curto prazo a fornecedores e outras entidades.Nascido em Santarém a 19 de Julho de 1975, filiou-se no PSD em 1995 após o partido ter perdido as eleições legislativas que levaram o socialista António Guterres ao poder. É oriundo de uma família tradicional do concelho. O conhecido médico José Manuel Nogueira é seu parente, tal como era o falecido vereador da Câmara de Santarém Tanora Gonçalves. Um dos seus dois irmãos, Luís Carlos Gonçalves, pede-lhe meças em popularidade na cidade como treinador de sucesso há vários anos na equipa de futebol de juniores da Académica de Santarém.Considera que a juventude não é um óbice, referindo que as pessoas já o conhecem há muitos anos na vida pública. Afirma que tem vida para além da política. Trabalhou alguns anos após ter saído da faculdade, é sócio de um ginásio e foi presidente de uma junta de freguesia. “Ser jovem é algo que passa com o tempo”, diz com humor, catalogando-se como “um filho da terra” que as pessoas de Santarém conhecem bem.A sua ligação à política autárquica começou no final de 2001 como presidente da Junta de Freguesia de Azóia de Baixo, localidade a meia dúzia de quilómetros de Santarém onde vivem os pais. Em 2006 estreou-se no executivo camarário, substituindo o vereador Mário Santos. Aí ficou até final do mandato assumindo pelouros como os do trânsito e obras municipais. Em 2009, já como número dois na lista de Moita Flores, é reeleito e passa a ser vice-presidente, substituindo o presidente nas suas ausências. A nível partidário foi presidente das concelhias de Santarém da JSD e do PSD e vice-presidente distrital do PSD. Sportinguista militante e sofredor, não perde um bom petisco e gosta do convívio com os amigos em ambiente de tertúlia. É uma pessoa simples nos gostos e no vestir, nunca renegando o seu afecto ao meio rural onde viveu durante muitos anos.“Concordo com o novo mapa de freguesias”Concorda com o mapa de freguesias proposto e aprovado pelo PSD na assembleia municipal?Na última sessão de câmara disse que esse é o mapa que defendo por ter sido aprovado pela assembleia municipal. A lei diz claramente que a câmara municipal devia dar parecer sobre a agregação de freguesias. O executivo não se pronunciou. Porque não foi cumprida a lei?Aqui não se trata de uma questão de cumprimento da lei. O entendimento que temos é que se a iniciativa partir da assembleia municipal o parecer da câmara não é necessário. E há muitos processos por esse país fora semelhantes ao de Santarém. A equipa que actualmente gere a câmara foi escolhido por Moita Flores. Conta com os actuais vereadores do PSD para integrar a sua lista?Neste momento não estou preocupado com isso e com futuras equipas. Há problemas que têm que ser resolvidos, mas estou para somar pessoas e vontades. É um processo que quero abrangente.Mas já mexeu no conselho de administração da empresa municipal Águas de Santarém.Com a renúncia do dr. Moita Flores houve uma demissão do conselho de administração da empresa e entendi que devia colocar lá outras pessoas com competência para o lugar.A Câmara de Santarém não estaria melhor fazendo parte da empresa intermunicipal Águas do Ribatejo, onde os preços da água são mais baixos?Isso foi um processo debatido, que já está muito mastigado pela opinião pública e neste momento não faz muito sentido estar a falar nisso.Reviu-se na forma de actuar de Moita Flores nesse processo?Foi um processo complicado. Tivemos problemas no acesso a fundos comunitários, conseguimos recuperá-los e do ponto de vista do que era importante conseguimos que o concelho de Santarém não ficasse para trás e garantisse os níveis de excelência na cobertura de saneamento básico que vamos atingir em breve. O que podem esperar os credores da Câmara de Santarém até final deste mandato?Fizemos uma candidatura ao Programa de Apoio à Economia Local (PAEL) e um plano de saneamento financeiro e o que queremos é entrar num processo contínuo de ter as contas em dia. Estamos a atravessar uma crise muito complicada. O município de Santarém teve um corte nas receitas anuais só por via do Orçamento de Estado na ordem do milhão e meio de euros. No total a redução da receita anual deverá rondar os 4 milhões de euros. Vamos ter de ser muito mais criteriosos na despesa.Um “estilo completamente diferente” do de Moita FloresNos últimos 10 anos foi presidente de junta, vereador e agora, aos 37 anos, chegou a presidente de câmara. Tem vida para além da política?Tenho. Fiz uma licenciatura em Economia, tive vários trabalhos. Devemos ter sempre a noção que estamos de passagem por estes lugares. O que acha de Moita Flores ter renunciado ao mandato na Câmara de Santarém para preparar a sua candidatura a outra câmara quando ainda falta um ano para acabar o mandato?Acho que isso é legítimo. Mas só posso falar por mim. Não sinto apelo por outros cargos nem tenho ambições de política nacional. A minha política quero-a fazer em Santarém ou, no máximo, no contexto distrital. Quero ter sempre os pés bem assentes na terra e fazer política sempre próximo das pessoas.Como viveu a indefinição em torno do regresso de Moita Flores à Câmara de Santarém? Nuns dias era presidente, noutros dias era vice-presidente...Essa situação tem que se viver com tranquilidade. No município de Santarém temos trabalhado como uma equipa e quando assim é as coisas funcionam.Essa indefinição não prejudicou a sua afirmação política? Não! Não são os lugares que fazem as pessoas, mas sim as pessoas que fazem os lugares. Há um trabalho que está a ser feito e a afirmação virá naturalmente pelo conhecimento que tenho da cidade, pelos projectos que tenho e pelo futuro que Santarém pode ter.Estar associado à gestão de Moita Flores tem prós e contras.É como a velha história do copo meio cheio ou meio vazio. Ninguém faz tudo bem. Quando erro procuro melhorar. Não se deve persistir no erro. Acho sempre que podemos fazer melhor. Esta equipa teve a capacidade de perspectivar uma cidade e um concelho que nos últimos anos mudaram muito e conseguiram afirmar-se a nível nacional.Pelo que se tem percebido do seu discurso nos últimos tempos, vai assumir um posicionamento diferente do seu antecessor, que era um pouco mais conflituoso na luta política.Os estilos são completamente diferentes. Na actual conjuntura devem-se somar pessoas e vontades, independentemente do seu partido. Há valores maiores e devemos caminhar em conjunto. Santarém para mim é mais importante do que qualquer partido. Esse interesse é que deve sobressair.Considera-se mais um homem de acção do que um homem do discurso, da retórica?A palavra será sempre importante, mas actualmente são mais necessárias pessoas de acção do que propriamente de discursos. Considero-me uma pessoa do terreno, até pelo conhecimento que tenho do concelho. Há projectos que não são concretizáveis nos próximos temposHá tempos falou na necessidade de se rever o plano de investimentos do município, referindo que há vários projectos que vão ter de esperar melhores dias.A remodelação do mercado de Santarém, por exemplo, é um projecto que não queremos deixar cair, mas deverá ficar para mais tarde. Estamos numa altura da vida política em que a escolha não é o que fazer mas sim o que não fazer. E essas escolhas têm de ser assumidas. A variante à calçada do Monte, que é um projecto de vários milhões de euros, não é concretizável nos próximos tempos, porque embora tenha financiamento comunitário garantido a Câmara de Santarém não pode assumir a sua parte neste momento. Vamos arrancar com a requalificação da Rua 31 de Janeiro e da estrada da estação. Temos que ir executando os projectos pausadamente, pagá-los e depois ponderar se há possibilidade de fazer outros.Há projectos que dificilmente serão concretizáveis, como o que decorre do protocolo com o Jockey Clube de São Paulo para criar um pólo equino nacional em Santarém.Há dificuldades em concretizar esse projecto e não devemos esconder essa situação.Qual o futuro da Fundação da Liberdade?Saiu um quadro legal sobre as fundações que obriga a redimensionar esse projecto. Mas a marca de Santarém como uma capital da liberdade deve continuar a ser potenciada. Não podemos perder essa marca nem a ligação a Salgueiro Maia e a outros símbolos da cidade.Uma super empresa municipal, como a recentemente criada Viver Santarém, que abrange áreas tão diversas como o desporto, a cultura, o turismo e o património, não é quase um poder paralelo dentro da Câmara de Santarém? Não acha que lhe está a escapar algum poder entre os dedos?Não acho. Tenho proximidade às empresas municipais e reúno com o conselho de administração regularmente. Temos duas empresas municipais actualmente, mas são detidas a cem por cento pela Câmara de Santarém, que é quem manda nelas.Mas a contratação de pessoal, por exemplo, não passa pelo executivo municipal.Isso são situações que continuarão a ser vistas pelo executivo. Tal como a apresentação das contas e de mapas de pessoal. Queremos que essa gestão seja compreendida por toda a gente. Não há que ter subterfúgios sobre esta matéria.Não seria mais lógico ser Ricardo Gonçalves, enquanto presidente e candidato à Câmara de Santarém, a anunciar a possível instalação de unidades da GNR no antigo quartel da Cavalaria, em vez de ser Moita Flores a fazer o brilharete dias antes de renunciar ao mandato?Se essa medida vier a ser concretizada estarei eu na assinatura do acordo. O resto é irrelevante. Há um objectivo maior do que a minha pessoa ou da do dr. Moita Flores, que é Santarém. Espero ser eu a concretizar esse projecto, mas o que interessa é que as coisas aconteçam. Temos que ser uma cidade atractiva para o investimento.A Câmara de Santarém é a segunda maior accionista do Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA). Como estão as relações entre a autarquia e a CAP, maior accionista dessa sociedade?As relações já estiveram mais tensas. Há objectivos que devem ser prosseguidos em comum e na actual conjuntura deve-se convergir mais. Não há uma vassalagem da câmara à CAP. Quando as pessoas têm de discutir discutem, quando têm de concordar concordam.
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