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Com todo o simbolismo que o episódio tem, no passado dia 10 de junho, na estação da CP na Parede, enquanto a TV mostrava as cerimónias de Elvas, a modesta senhora do café dizia: “o melhor seria importarmos políticos”. Este desabafo encerra uma grande verdade que anda escondida da nossa sociedade. Os políticos que temos são, nem mais nem menos, o fruto do que todos nós somos. Esta é a verdade. Nesta matéria não há milagres. Basta lembrarmo-nos da história das baixas médicas para compreender bem o tipo de sociedade que somos. Só não foge ao fisco quem não consegue. Certo?Com esta realidade, como podem ser diferentes aqueles que nos governam?À boa maneira portuguesa, gostamos muito de olhar para o lado e delegar responsabilidades. Todavia, em boa verdade, todos somos responsáveis – é certo que uns mais que outros – pelo país que somos. Um país com excelentes condições para viver mas que convida ao facilitismo, à espera que um D. Sebastião nos salve.Portugal padece de um mal crónico, a falta de corresponsabilidade, uma cidadania ativa e participada. Vivemos há anos na irresponsabilidade generalizada que nos levou a esquecer do essencial, o dever de cidadania. Peter Singer (1979) na “Ética Prática” explora os grandes desafios éticos do nosso tempo. Quem fica indiferente aos problemas da pobreza, da fome no mundo ou ao equilíbrio ecológico do planeta? Que posições devemos tomar relativamente aos fluxos migratórios, aos refugiados ou à ajuda internacional aos países de Terceiro Mundo? Quais os grandes desafios que se levantam a uma sociedade verdadeiramente igualitária e solidária?Em “Um só mundo”, o mesmo autor escreve, “os séculos XV e XVI são famosos pelas viagens de descobertas que provaram que a Terra era redonda. O século XVIII assistiu às primeiras proclamações dos direitos humanos universais. No século XX, a conquista do espaço tornou possível que um ser humano olhasse para o nosso planeta a partir de um ponto a ele exterior e o visse, literalmente, como um só mundo. O século XXI vê-se agora a braços com a tarefa de desenvolver uma forma adequada de governação desse mundo único. É um desafio moral e intelectual assustador, mas não se lhe pode voltar as costas. O futuro do mundo depende da forma como o enfrentarmos”. E, como pergunta ao pai a criança: “e tu ficas aí sentado?”Provavelmente, como país, este é o nosso principal problema. Ficamos sentados e esperamos. A responsabilidade pertence sempre a terceiros. Cada um de nós não tem nada a ver com o caso. Somos assim como profissionais, nas empresas, no serviço público e também como cidadãos. A demissão domina-nos e, enquanto isso, os nossos recursos coletivos são mal geridos e a nossa riqueza e qualidade de vida fica comprometida. Pouco importa se fazemos uma “revolução” ou se “evoluímos”, o que importa é mudar. Carlos A CupetoProfessor na Universidade de Évora - cupeto@uevora.pt

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