uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
“O trabalho de um solicitador ainda é muito desconhecido”

“O trabalho de um solicitador ainda é muito desconhecido”

Sandra Melo, 40 anos, Solicitadora, Benavente

Foi em Benavente que Sandra Melo, 40 anos, viveu praticamente toda a sua vida. Depois de trabalhar numa papelaria, num bar e na área da gestão de imóveis, resolveu aos 31 anos tirar o curso de solicitadoria. Sente-se realizada profissionalmente, mas não esconde o sonho de tirar o curso de Direito. Tenta não levar trabalho para casa. Gosta de estar com a família e de dedicar-se à jardinagem e à bricolage. Não suporta a mentira. Um dos seus sonhos de menina era ser bailarina.

Nasci em Angola, mas não tenho recordações. Vim com dois anos e meio para Portugal quando se deu o 25 de Abril, com a minha mãe e três irmãos. Ficamos na casa dos avôs maternos na Castanheira do Ribatejo. Uns meses depois mudamo-nos para Benavente. O meu pai era militar e a minha mãe doméstica. Distraía-me até com uma mosca. Era boa aluna, mas sempre com a cabeça no ar. Quando entrei na escola já sabia ler e escrever. Era uma maria-rapaz. Morava no bairro do Ribassor e as brincadeiras eram passadas na rua. À hora do jantar, as mães vinham todas às janelas chamar os meninos. Era a mais nova de quatro irmãos e eles acabavam por tomar conta de mim.Comecei a trabalhar numa papelaria. Depois de terminar o 12º ano, concorri para Gestão mas não consegui entrar. Gostava muito de números. O meu pai não queria que eu trabalhasse porque tinha medo que abandonasse os estudos. Um ano depois voltei a concorrer para a universidade, mas não consegui entrar. Perdi o meu pai aos 21 anos. Tive de crescer depressa. Na altura trabalhava como administrativa no Clube União Artística Benaventense (CUAB) e no bar-restaurante do Solar. Entretanto convidaram-me para trabalhar só no Solar e eu aceitei. Fazia um pouco de tudo. Guardo boas recordações. Passaram pelo Solar nomes como Luís Represas, Jorge Palma ou Quim Barreiros. Depois as coisas não correram bem e o Solar acabou por encerrar. Interessei-me pela solicitadoria ao trabalhar na gestão de imóveis. Era secretária da direcção de uma empresa que estava a urbanizar alguns loteamentos. Tratava de vários registos. Ia às finanças, à conservatória e comecei a interessar-me e a achar que era um trabalho importante. Naquela altura não percebia muito bem qual era a legislação que estava por trás. O trabalho de um solicitador ainda é desconhecido. Tirei o curso de solicitadoria aos 31 anos. A vontade de tirar um curso nunca desapareceu da minha vida. Saía todos os dias do trabalho às 17h30 para estar em Lisboa uma hora depois. Só chegava a casa por volta da meia-noite. Foi um grande esforço mas valeu a pena. Um dos projectos futuros será tirar o curso de Direito. Mais por enriquecimento pessoal, embora eu gostasse de fazer algumas coisas que um solicitador não pode. Tento não levar trabalho para casa. No início dedicava-me imenso aos processos, levava para casa todos os problemas. Ouvimos histórias que acabam sempre por nos influenciar. A idade ensina-nos a criar algumas barreiras. De vez em quando continuo a sonhar com a resolução dos processos. A família é das coisas mais importantes. Sou casada e tenho enteados. Embora não seja mãe tento estar presente. Poderia trabalhar mais horas, mas valorizo muito os que me estão mais próximos. Se emocionalmente estiver mal, o trabalho correrá mal. Dedico-me também à jardinagem, à bricolage ou à cozinha. Vou passear, ao cinema, tento estar com os amigos. Não gosto de centros comerciais porque o ambiente é muito fechado.Um dos meus sonhos era ser bailarina. Gostava muito de ver a série “Fame” e dizia sempre que seria dançarina. Passei pela ginástica rítmica e acrobática. Fiz um pouco de atletismo e de andebol. Mais tarde entrei no ginásio e ainda experimentei o Yoga, mas descobri que não era para mim. Sou uma pessoa demasiado acelerada. Neste momento estou parada. Faço ski de vez em quando. Tive um grave acidente de moto aos 16 anos. Estive um ano de canadianas. Fui operada duas vezes. Habituei-me a colocar uma carga maior na perna direita em vez da esquerda. Voltei a andar de moto e a conduzir vou bem, mas atrás é mais complicado. O acidente aconteceu quando eu ia à pendura. Fico com o coração na boca quando me mentem. É a pior coisa que me podem fazer. Não sou pessoa de mandar recados, posso não dizer na altura, mas digo depois. Tenho a capacidade de saber pedir desculpa quando erro. Dou valor à sinceridade e honestidade. Tento ser espontânea e muito dificilmente meto uma máscara. Sou muito perfeccionista e organizada. Eduarda Sousa
“O trabalho de um solicitador ainda é muito desconhecido”

Mais Notícias

    A carregar...