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Cultural imaterial

Tenho o privilégio de ser amigo, com muita estima e admiração, de Galopim de Carvalho e de Francisco Martins Ramos, dois vultos catedráticos que escrevem sobre o que de mais puro e imaterial tem a cultura das nossas terras e o nosso povo.Felizmente, aos poucos tomamos consciência do valor do nosso património cultural imaterial. Temos uma identidade cultural que assume o verdadeiro “espírito do lugar” nas suas mais variadas dimensões, desde o clima até à natureza do solo. Cada lugar é caraterizado por formas de estar, habitar, alimentar e educar motivadas pelas suas dinâmicas culturais, sociais e naturais onde cada pessoa é um ator privilegiado. As estações do ano, a terra e o que ela dava em cada época do ano marcavam o dia a dia das gentes e dos lugares.Em “O Vinho do Alentejo – temas culturais” edição Colibri, Francisco Ramos escreve como ninguém sobre o vinho e as tabernas. O que melhor do que o vinho, a vinha e as tabernas para percebermos o passado dos mais velhos e, consequentemente, o que somos hoje? Quase sem darmos por isso, esses lugares mágicos, que eram as tabernas, desapareceram.Segundo o antropólogo, o vinho e a vinha explicam tudo sobre o modo de vida dos mais idosos, até há bem pouco tempo. A riqueza e decadência das terras compreendem-se pela cultura do vinho e da vinha. Por tudo se bebe, “ter sede, estar calor, fazer frio, ter fome, estar cansado, comemorar, esquecer…” Mais que um local onde se bebia, a taberna era um templo de culto da mais pura expressão cultural de um povo “sem horizontes”, onde se jogava às cartas ou ao dominó. Neste cenário, até o simples levar o copo à boca tem laivos de rito e evidencia um traço cultural bem marcado.O meu avô Jerónimo, que não conheci, teve uma taberna à entrada de Évora, junto ao Chafariz d’el Rei. A esta estava associada uma estalagem para animais e pessoas. Ali se confortavam, descansavam e preparavam as pessoas e os seus animais para grandes viagens. Lembro-me de ouvir algumas histórias que hoje facilmente associo à grande simbiose que havia entre o homem, a natureza, o tempo e o espaço.Isto é, na sustentabilidade de um lugar contam a sua dimensão social, económica e ambiental mas também, e muito, as dinâmicas culturais. Por isso, tudo o que se possa fazer pelas nossas memórias culturais é de grande importância. A identidade cultural de um povo contribui, em grande medida, para a sua felicidade. Sem dúvida que a nossa grande identidade é uma das forças que nos tem ajudado, ao longo da história, a ultrapassar dificuldades. E assim vai ser.Por todas as terras e lugares há a consciência do que aqui se escreve e inúmeras entidades já perceberam a importância do tema. Por isso, doravante, nada vai ser como no passado e o futuro dos nossos filhos terá, certamente, bem mais que a leve memória do que foi o modo de vida dos seus antepassados.Um brinde à nossa mais autêntica cultura.Carlos A. Cupetocupeto@uevora.pt Professor na Universidade de Évora

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