O conteúdo e a forma ou a forma sem conteúdo
Acompanho este setor há 30 anos e estou sinceramente perplexo perante contínuas afirmações que associam os malefícios do turismo às Regiões de Turismo.
Começo por uma prévia declaração de interesse. Tenho a máxima consideração pelo trabalho efetuado por este Secretário de Estado do Turismo que reputo de qualidade e a melhor das relações com todas as instituições do setor, nomeadamente com os meus parceiros no Alentejo / Ribatejo.No entanto, alguns acontecimentos e declarações recentes, pela sua atualidade, levaram-me a puxar pela caneta e com a frontalidade e pragmatismo que me caracterizam, a tecer algumas considerações pessoais.Em primeiro lugar, as declarações de há dias atrás vindas do espectro do dirigismo associativo do setor, a defenderem que as Entidades Regionais de Turismo deveriam, pura e simplesmente, acabar.Com a máxima sinceridade, associei as declarações à época que vivemos e a uma natural propensão para a brincadeira em época carnavalesca.Eu que acompanho este setor há 30 anos estou sinceramente perplexo perante contínuas afirmações que associam os malefícios do turismo às Regiões de Turismo. Em todo o Mundo os destinos turísticos regionais e as políticas regionais de turismo são cruciais na atividade e no desenvolvimento turístico, como disso são exemplo a Toscânia, La Rioja, tantos outros e toda a agenda da União Europeia 14/20. E recordo que após várias reformas, (só nos últimos cinco anos vivemos duas) a última tem apenas poucos meses.De facto em Portugal preocupamo-nos pouco com o conteúdo e mais com a forma. O que eu esperava ouvir era uma posição critica, construtiva e concreta sobre as políticas de turismo, o que as Regiões deveriam fazer, qual o seu papel, as suas competências, em que moldes se deverá estruturar produto, como prepará-lo para a tour-operação, linhas de intervenção de marketing 3.0, etc.Mas não, não importa o conteúdo, o que vem importando sucessivamente é a forma e, meus caros amigos, não é com a forma que se alcança e se atingem os objectivos de desenvolvimento a que o país turístico se deve propor.Outro acontecimento que tem perpassado pela opinião pública, é a criação de uma Agência Nacional de Promoção Turística. Mais uma vez sobrepomos ao conteúdo e às políticas, a forma. O que está em causa não pode ser quem executa, mas o que se executa.Que mercados conquistar, as linhas de promoção integrada com os outros setores da actividade económica, a promoção dirigida a segmentos específicos, a presença nas feiras generalistas ou ações especializadas, que intervenção nas redes sociais e em todo o universo on-line e como torná-la mais eficaz e tantos, tantos outros assuntos.Mas não, não é isso que nos preocupa, mas sim se deve ser o Turismo de Portugal, as Agências Regionais ou a tal Agência Nacional de Promoção Turística a liderar o processo.Não, não deve ser a forma a controlar o conteúdo, mas sim o inverso. Terceira nota muito rápida para uma recente campanha de Turismo Interno, cujo mote principal era a conquista de mercado pelo baixo preço e a conquista de volume e de room nights, mesmo que isso signifique baixar o RevPAR e os proveitos. Não posso estar mais em desacordo, vi muitos destinos crescerem de forma acelerada com base nos preços baixos e com a mesma velocidade perderem toda a sua posição estratégica.Incentivos, animação, experiências, qualidade, formação, diferença, sim, sempre, mas o aspeto central das estratégias de marketing nunca deve residir no preço, antes na qualidade distintiva dos destinos e nas especificidades da sua oferta e dos respetivos produtos/serviços.Este meu regresso à caneta teve apenas como objetivo sublinhar a necessidade de cada vez mais valorizarmos o conteúdo e a substância das políticas e dos programas, em detrimento da forma e que não procuremos fazer todos os dias “reformas sobre reformas”, que apenas nos desviam do essencial _ como fazer para termos um país turístico mais forte e coeso, com mais e melhores turistas, gerando mais receitas e com maior capacidade de injectar valor acrescentado e criatividade na nossa economia e sociedade.António Ceia da Silva * Artigo escrito pelo autor ao abrigo do novo acordo ortográfico
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