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“É preciso bom-senso para perceber o que é investimento e o que é desperdício”

“É preciso bom-senso para perceber o que é investimento e o que é desperdício”

José Luís Salvado, 57 anos, empresário e sócio da Finnco, Samora Correia

O seu primeiro emprego foi na lavagem de caldeiras de petroleiros. Sonhava ser arquitecto mas a realidade foi outra. É um dos quatro sócios da Finnco, empresa situada em Samora Correia que é líder ibérica da produção de embalagens industriais para a indústria do papel. Diz que acorda com a empresa e que às vezes nem dorme por causa dela. Gosta de trabalhar mas não é viciado no trabalho.

O meu primeiro emprego foi numa empresa japonesa. Era um trabalho nauseabundo mas pagavam extraordinariamente bem e davam almoço. Andei a limpar caldeiras de vapor dos petroleiros, na empresa Setnave. Estive lá seis meses. Achei que aquilo era óptimo. Depois trabalhei oito meses numa empresa que fazia centrais telefónicas. Sempre a estudar ao mesmo tempo. A minha vida ganhou outro impulso quando me liguei à indústria do papel. O ano passado foi o melhor ano de sempre. Estamos virados sobretudo para a exportação e por isso não sentimos tanto a crise. Juntamente com os outros três sócios faço a gestão da fábrica. Fazemos a plastificação do papel e cartolinas mas o nosso core business são as embalagens industriais para a indústria de papel. Somos líderes ibéricos.Ter um bom produto e ser competitivo é a chave para o sucesso. Os clientes com quem trabalhamos não nos dariam chances de sobrevivermos e de crescermos continuamente desde 1993 se não fosse a credibilidade que fomos conquistando. Fui um dos defensores de virmos para um parque industrial. Samora Correia é a minha cidade por empréstimo. Não me posso queixar. Mas é uma cidade que já foi mais florescente, esta crise afectou fortemente esta zona, houve muitas empresas que deixaram de laborar. Mas Samora Correia tem uma vantagem forte, que é a sua localização, está numa confluência de vias que é muito interessante.Em 2008 descobrimos como as manobras da alta finança podem pôr em risco o trabalho honesto. Não quer dizer que não haja gente honesta na alta finança mas há por lá muita insensibilidade. Quer eu quer os meus sócios não somos de investimentos loucos. Gostamos muito de analisar as questões e tentamos ser ponderados ao máximo. Hoje em dia e cada vez mais devemos sê-lo. Temos a preocupação de não dar passos maiores que as pernas. Para mim é importante gerir ao cêntimo. Obviamente que um cêntimo não pode pôr em risco uma análise, não podemos ser tão fundamentalistas, é preciso algum equilíbrio. Esse bom senso passa por analisar o que é desperdício e o que é investimento. Um cêntimo em desperdício para mim é muito, um cêntimo investido para mim é pouco.Gosto do que faço e passo entre 10 a 12 horas na empresa mas não sou um escravo do trabalho. Sei que vai ser difícil ficar completamente reformado. Abrandar sim, parar não. Vivo em Setúbal e por isso vou e venho todos os dias, hoje em dia é facílimo. Faço os movimentos em contra-ciclo. Quando todos estão a ir para Lisboa estou eu a vir para cá. No final do dia de trabalho gosto de ver as últimas notícias quando chego tarde a casa. Mas gosto de sentir que foi um dia bem utilizado.Às vezes durmo com a empresa e às vezes acordo com ela. Tenho sono muito ligeiro e se acordar a meio da noite a pensar num problema fico muito tempo acordado. A minha mulher, que é médica, sempre percebeu perfeitamente que era isto que eu queria fazer e que havia de ser esta a minha vida. Sou casado há 30 anos, tenho um filho com 26 anos e quando era jovem sonhava ser arquitecto. Mas a vida não o permitiu.Gosto de tirar tempo para mim e gostava de ter o santo direito de não fazer nada (risos). Ou ter um período para não fazer nada. Gosto muito de ler, ouvir música, relaxa-me imenso a música clássica, os meus favoritos são Verdi e Chopin. Adorava, para além de viajar em trabalho, poder viajar em lazer. Ir com a minha mulher conhecer as cidades onde estamos sempre a trabalhar e não temos tempo para conhecer. Nasci em Moçambique onde o meu pai já era empresário. Fiz parte da leva de portugueses que chegou a Portugal em 1975 por causa da descolonização. Tinha acabado de fazer 18 anos e deixava tudo para trás. Para mim vir para cá foi uma surpresa e foi muito duro. Viemos para Queluz, onde moravam uns primos. Como as condições eram complicadas tive de trabalhar e estudar à noite. Filipe Matias
“É preciso bom-senso para perceber o que é investimento e o que é desperdício”

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