Flibusteiro Serafim das Neves
Li algures que o presidente de uma aldeia de Torres Novas chamada Assentis quer fazer um museu numa sala da antiga escola e que só lhe falta encontrar as antigas carteiras, os retratos do Salazar e do último Presidente antes do 25 de Abril, um tal Américo Tomaz, com zê e tudo, e os mapas das antigas colónias de África com pontinhos a assinalar terriolas com nomes bem africanos como Nova Lisboa ou Lourenço Marques, para concretizar o objectivo.
Eu, como qualquer genuíno português, entusiasmo-me até aos cotovelos sempre que oiço falar em museus e em inaugurações de museus. Confesso-te que a minha alma só descansa quando houver um museu em cada rua de Portugal. E já não falta muito, acredita. Esta nossa atracção por fazer museus é uma das nossas maiores riquezas culturais a par da nossa tendência para escrever poesia.
O Eça de Queirós disse que um homem para ser homem tinha que escrever um livro, plantar uma árvore e fazer um filho. Temos que lhe dar desconto porque já devia estar xexé quando disse tal enormidade. Quanto a mim, um homem só é homem quando criar um museu, tirar uma selfie com o rabo da Shakira que se torne viral e escrever um verso para uma canção do Quim Barreiros.
O museu já eu criei debaixo do sofá da sala. Chama-se o “Museu do Cotão - Cotton Museum” . Também fui eu que inventei aqueles versinhos do meto o carro/ tiro o carro/ à hora que eu quiser, embora o Barreiros mos tenha roubado e registado em seu nome. Mas isso não importa porque toda a malta amiga sabe muito bem que muito antes dele, já eu punha o carro e tirava o carro na garagem da vizinha. Quanto à Shakira é só sacar-lhe a bunda da net, meter-lhe o photoshop e já está. Ainda vou ser homem antes do fim do mês, acredita.
A Estação de Tratamento de Esgotos dos Carochos, em Abrantes, teve uma inauguração com ministro e tudo. E bem merecia aquela honra. Afinal a construção teve mais episódios que uma novela da TVI. A primeira vez que foi anunciada foi em 2009, imagina. Só não lhe devem ter dado o nome de “Senhora das Águas Residuais” porque era difícil ao Paulo Gonzo fazer uma balada tipo “Deixa que te leve/ p’lo cano de esgoto”, por exemplo. Mas há males que vêm por bem. Durante seis anos era ver as fataças ali daquela parte do Tejo, gordas e luzidias.
Em Abrantes, mas sem a presença de nenhum ministro, um bombeiro entrou na camarata das bombeiras. Pelo que li acho que sentiu uns calores e decidiu actuar antes que ficasse tudo em chamas. Uma prontidão do caraças, dirás tu. Não te sei dizer se ele já entrou de mangueira na mão mas acho que isso será apurado lá para a terceira ou quarta comissão de inquérito nomeada para avaliar e reavaliar o acto...operacional.
A secretária de Estado Adjunta da Administração Interna, Isabel Oneto, foi a Alcanena visitar o quartel da GNR. Foi simpática a senhora. Eu por mim tinha preferido ir visitar as Grutas da Serra d’Aire que ficam ali bem perto mas tenho que reconhecer que há gostos para tudo. Gostos ou “likes”. A presença de mais um membro de um governo não impressionou os elementos da força de segurança que estão habituados a ver coisas bem piores no seu dia a dia, mesmo sem saírem da porta para fora.
A presidente da câmara, Fernanda Asseiceira, que já há anos disponibilizou um edifício para instalar o novo quartel e se ofereceu para fazer o projecto de alterações, bem podia ter dito que também dava duas sacas de cimento e que estava disposta a ir trabalhar nas obras aos fins-de-semana mas, como se sabe, perante a presença de pessoas tão importantes e ocupadas como membros dos governos, nem sempre nos vêm à cabeça as frases mais adequadas. Pelo menos a mim ocorrem-me sempre umas deixas que nem te conto.
O presidente da Impresa, Francisco Pinto Balsemão, a quem O MIRANTE atribuiu o prémio Personalidade do Ano, disse na cerimónia de Almeirim que enfraquecer os meios de comunicação social é contribuir para o fim da liberdade de expressão. Que alegria que ele não deve ter dado a certos vultos da democracia cá da região. No dia seguinte devem ter andado num frenesim a darem-lhe os parabéns por alguém tão importante lhes ter confirmado que estão no bom caminho. E dizem eles que nós não lhes damos boas notícias. Ingratos!
Saudações imarcescíveis
Manuel Serra d’Aire