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“Os pais hoje compram os filhos porque não têm tempo para estar com eles”
João Simões, chefe de gabinete do presidente da Câmara de Salvaterra de Magos
Manteve-se afastado da política activa enquanto o pai exerceu um cargo autárquico. Depois começou a pensar no assunto e aceitou fazer mais pelo seu concelho do que estar a dizer mal à mesa do café. Apesar de ter tido uma educação católica não acredita em Deus e nem um grave problema de saúde o fez mudar de posição. Não deixa de se espantar com a lentidão da função pública.
Em criança sonhava ser apresentador do telejornal. Era pequeno quando a televisão, naquela altura a preto e branco, chegou a casa dos meus pais. Aquela caixinha era um mundo e eu ficava encantado a ver os senhores que davam as notícias. Aquela era uma das poucas maneiras que tínhamos naquele tempo de saber o que se passava no mundo. Era tudo muito diferente do que é hoje em que temos muita informação a todo o momento. Tenho um problema congénito e aos 36 anos tive um aneurisma cerebral. Nunca tinha tido problemas de saúde nem voltei a ter. Nesses momentos damos mais valor a pequenas coisas que até aí não ligávamos. No entanto, quando as coisas terminam bem, como foi o meu caso, passado algum tempo esquecemos e voltamos ao mesmo “stress”. Por um lado é bom porque não ficamos a pensar nas maleitas mas também devemos olhar mais para nós e andarmos um bocadinho mais devagar. O que no meu caso é muito difícil. Continuo a não acreditar em Deus. Fui criado na igreja católica, fui à missa, andei na catequese e fiz a primeira comunhão. Depois comecei a pensar e não acredito em Deus e o problema de saúde que tive não me aproximou mais da religião ou da igreja. Nos momentos de aflição também penso ‘porquê eu’ ou ‘o que me irá acontecer’ mas Deus e a Igreja não mexem comigo. Sou muito racional. Adoro conhecer arquitectura moderna. Gosto muito de viajar mas visito sempre grandes metrópoles. Fujo da praia e do campo porque no campo já eu vivo. Adoro Barcelona e os seus edifícios modernos. Há algum tempo que ando para conhecer Milão [Itália] mas ainda não conseguir ir. Gosto muito do bulício da modernidade. Os pais hoje compram os filhos porque não têm tempo para estar com eles. A vida mudou muito nas últimas décadas e os pais não podem educar os filhos por isso pagam ao melhor explicador. Os meninos têm sempre razão. Estamos a preparar pessoas que não sabemos como vão ser no futuro uma vez que estão a ser educados pela televisão e pela internet. Os jovens de hoje não estão habituados a ouvir ‘nãos’ e não sabem lidar com a frustração. Temo que as gerações futuras venham a passar momentos difíceis. Tenho regado a minha horta às dez da noite à luz de uma lanterna amarrada na cabeça. Nos poucos tempos livres que tenho gosto de fazer bricolage, cuidar do jardim e da horta. Sou eu que rego a horta mas nos últimos tempos não tenho tido tempo por isso tem que ser às dez da noite. Os vizinhos devem estranhar ver alguém com um frontal na testa à noite mas não tenho conseguido fazê-lo mais cedo. (risos) É uma grande terapia estar a tratar do jardim e da horta. Entrei tarde na política activa. O facto do meu pai ter sido autarca ajudou-me a estar afastado da política durante a adolescência e o início da vida adulta. Mais tarde comecei a ver que a situação do meu concelho não era a melhor e que o meu contributo poderia ser útil. A minha entrada na política deve-se muito ao actual presidente da câmara, Hélder Esménio. Decidi que não podia ser mais o cidadão que está à mesa do café a criticar. Já comprei coisas para a câmara municipal a expensas próprias. Ainda há pouco tempo era precisa uma fita adesiva para colocar uma alcatifa para uma iniciativa e não havia. Fui à loja e comprei. E nem sequer vou pedir à câmara para me pagar porque é uma dor de cabeça tal que é preferível não entrar por aí. Para quem vem do sector privado, como eu, e desconhece a máquina pública e a sua burocracia não é fácil. O que se pode fazer em cinco minutos no sector privado pode demorar horas ou mesmo dias na função pública.
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