Pertinaz Manuel Serra d’Aire
Sempre admirei os homens, mulheres, transsexuais e hermafroditas (tem que ser assim, senão o Bloco desanca-me) que conseguem desdobrar-se por uma panóplia de actividades, sempre com competência reconhecida e grande sentido de dever e de responsabilidade. São autênticos canivetes suíços em figura de gente, prontos para responder às mais diversas solicitações da comunidade com assertividade, eficiência e garantia de um trabalho bem feito.
Uma dessas figuras é o exmo. sr. engenheiro Rui Barreiro, ex-presidente da Câmara de Santarém, ex-secretário de Estado da caça ao melro, actual líder dos socialistas de Santarém, dirigente da Misericórdia de Santarém, futuro chefe da delegação distrital da Ordem dos Engenheiros, putativo candidato à presidência do Sporting Clube de Portugal e sabe-se lá que mais. A entrega desinteressada à causa pública faz dele uma referência da nossa região (e quiçá do país). Basta ver o que se passou na semana passada numa reunião do Conselho Leonino, onde foi aprovada com 99 por cento dos votos uma posição onde se convida Rui Barreiro a demitir-se do seu assento nesse órgão consultivo do Sporting. Uma votação que apenas os líderes da Coreia do Norte e de Cuba e o presidente do FC Porto habitualmente conseguem obter. Só uma pessoa com grande carisma consegue mobilizar tanta gente de diferentes sensibilidades em seu redor. Honra lhe seja feita, portanto.
Dois vereadores da Câmara de Ourém estão a contas com a justiça por, alegadamente, terem usado as funções autárquicas para angariarem apoios para o Centro Desportivo de Fátima junto de empresas. Há coisas que me deixam embasbacado. Os voluntariosos autarcas Nazareno do Carmo e Luís Albuquerque, que supostamente terão feito aquilo que tanto político já fez neste país, não tinham necessidade alguma disto. Irem chatear empresas quando podiam ter pedido as boas graças do Santuário de Fátima, uma entidade que, se quisesse, punha o Fátima na Liga dos Campeões com a bênção de Nossa Senhora e uma pequena percentagem das oferendas que lá caem todos os dias. Há que alargar horizontes meus caros, até porque as empresas de construção andam pelas ruas da amargura e já não têm dinheiro para mandar cantar um invisual (mais um termo politicamente correcto, não vá alguém do Bloco ler esta treta). Já a indústria da fé e da salvação das almas segue de vento em popa, como se confirma pelo catálogo de igrejas e credos que existe à escolha.
Celebrou-se mais um 25 de Abril, com as habituais sessões solenes, grandoladas, cravos vermelhos e juras de amor eterno à liberdade, à democracia e a tudo o que elas implicam e sugerem. Mas, não sei porquê, quando ouço aqueles discursos fico sempre de pé atrás, como aliás acontece quando ouço os noivos na igreja garantirem a união, na saúde e na doença, até que a morte os separe. Por isso fiquei satisfeito por ver o Presidente da República em Santarém a despachar uma cerimónia oficial em menos de meia hora, sem os chouriços retóricos da praxe e dizendo aquilo que tinha de dizer: que vai condecorar Salgueiro Maia. Porque, tal como no amor, mais do que juras e manifestações de boas intenções, o que conta são as acções.
Saudações revolucionárias do
Serafim das Neves