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Duas lembranças em tempo de Ascensão

Duas lembranças em tempo de Ascensão

Memórias da Ascensão. Assistir a um espectáculo com um cartaz de primeira também não ajudava a arrefecer os ânimos, antes pelo contrário

“Senhor Manuel Eduardo, prefere de laranja ou de ananás?”
A tarde daquela quinta-feira ia quente e mesmo nos lugares de sombra não era fácil aguentar a temperatura escaldante. Assistir a um espectáculo com um cartaz de primeira também não ajudava a arrefecer os ânimos, antes pelo contrário. Daí que a perspectiva de um gelado bem fresquinho soasse como música aos ouvidos de quem enchia a Praça de Toiros em mais uma corrida de Ascensão (naturalmente bem diferente da que a Banda da Carregueira ia tocando).
Iniciado o processo de venda, o Zé Chora não tinha mãos a medir para as encomendas e a mercadoria esgotou-se em menos de um tércio (de bandarilhas). Mais que uma busca de lucro comercial, aquela acção de marketing valeu pela alegria de quem dela beneficiou mais directamente. Na cara do vendedor aficionado a ver o resto do espectáculo ficava estampada a satisfação de ter desenvolvido – como agora se chamaria – uma acção de serviço público.
“ Mas o rapaz dessa idade já sabe ler?”
Aos domingos de manhã era assim: o avô ia buscar um dos netos e enquanto a parte feminina da família ia à Missa do meio-dia, lia-se o jornal e bebia-se qualquer coisa ali na taberna junto à Misericórdia. Antes, mata-bicho, agora aperitivo. Eu, claro, era mais uns rebuçados.
Carpinteiro dos quatro costados e músico da ex-Filarmónica, o Manel Martinho saboreava essas manhãs exibindo com orgulho a criança junto dos amigos. O gosto pela leitura e pela música terá vindo por esta via materna.
Por essa altura, os cartéis das corridas de toiros pouco variavam mas isso não significava menor qualidade, antes pelo contrário. Não é de admirar portanto que, face a um dos fantásticos cartazes da Persistente anunciando a corrida da Ascensão, eu tenha começado a papaguear os nomes dos artistas acabando triunfalmente com o “Grupo de Forcados Amadores de Santarém”.
Perante a admiração e a dúvida da audiência, o meu avô não se descaiu: “Quando entrar para a escola, ainda vai ensinar o professor”.

Duas lembranças em tempo de Ascensão

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